Era um desafio interessante que agradou aos dois rapazes que imediatamente se propuseram a colaborar no que fosse possível. A idéia do professor era simples. Usando receptores, ele faria a varredura do espectro eletromagnético detectando os sinais mais fortes que poderiam indicar um transmissor oculto nas proximidades. A partir do transmissor ele poderia chegar ao receptor.

Seu “trunfo” era um scanner que ele havia comprado numa viagem ao exterior e que dava cobertura contínua dos 30 aos 870 MHz, com um sistema de programação automática para varredura. Este interessante aparelho “varria” a faixa programada e ao encontrar qualquer sinal parava, colocando-o no alto-falante. Se o operador não se interessasse, bastaria pressionar a tecla search e ele continuaria a varredura até o próximo sinal. Chegando ao fim da faixa programada, o aparelho voltava automaticamente ao seu início. Para as freqüências abaixo dos 30 MHz, o professor contava com um velho rádio de ondas curtas que seria operado pelo Cleto. Uma atenção especial seria dada à faixa de FM, graças à popularidade dos transmissores pequenos, que até podiam ser adquiridos prontos em casas especializadas. Um conjunto de antenas direcionais portáteis havia sido preparado para facilitar a localização do transmissor, quando seu sinal fosse captado e, os que formavam o grupo de ‘ patrulha”,  eram ainda equipados com potentes walkie-talkies.

Beto foi encarregado de operar, durante o exame, um rádio de FM, varrendo toda a faixa constantemente, à procura de sinais estranhos.
Dois dias antes dos exames estava tudo combinado, quando Cleto entrou nervoso na sala onde o Professor Ventura dava os últimos retoques no seu sistema, instalando antenas que aumentassem a possibilidade de captar sinais fracos nos três receptores:

- Tenho algo interessante para contar!

O Professor Ventura logo percebeu o nervosismo do rapaz, e pediu-lhe para se acomodar numa cadeira e depois continuar. As novidades não eram boas:

- Ouvi uma conversa estranha daquele “maluco’ do Teodósio do segundo ano, que deu a entender que seu primo Zeca não vai ter dificuldades para passar nos exames com o “jeitinho” que ele “bolou”.

Considerando que o tal de Teodósio era famoso por algumas montagens de coisas que já haviam trazido problemas para a escola como, por exemplo, um potente transmissor que foi apreendido por causar interferências na rádio local, era de se esperar que havia algo no ar e que não era blefe. Seria preciso ficar atento!

- Que diabos estaria planejando o Teodósio? – Cleto fechou a cara, sabendo que se aquele rapaz estava envolvido em alguma coisa, era para preocupar.

Beto tinha uma recomendação a fazer:

- É melhor ficar de ôlho nesse indivíduo! Se alguma coisa vai acontecer, pode contar que vem dele. Vamos ver se descobrimos mais alguma coisa.

De fato, conversando com colegas que tinham contacto com o Teodósio, os dois rapazes descobriram que realmente ele havia preparado algum tipo de “cola” eletrônica para seu primo, e que segundo se dizia, era infalível. Os dois levaram suas preocupações ao Professor Ventura que ponderou:

- O Teodósio é inteligente, apesar de usar isso com finalidades nem sempre decentes, por isso devemos estar atentos. Não podemos subestimar o indivíduo, pois realmente ele pode nos enganar, mas estamos preparados! – O professor falou isso com confiança, batendo levemente com as mãos no seu scanner, prontinho para entrar em funcionamento. Agora era só esperar o dia dos vestibulares.