O ouvido ultrassônico era simplesmente um sensível microfone capaz de captar sons na faixa inaudível até 80 kHz e, aplicando estes sinais a um conversor, os transferia para a faixa audível, onde podiam ser reproduzidos num pequeno alto-falante ou fone. Sons inaudíveis como os gritos de morcegos, alguns insetos e mesmo barulhos de máquinas, podiam ser explorados com aquela “pequena maravilha”. Na ocasião em que os rapazes e o Professor montaram o ouvido ultra-sônico, ele havia sido uma espécie de sensação! Todos os barulhos possíveis da escola, cidade e mesmo das matas das vizinhanças haviam sido explorados, gravados e comentados. Mas, acabada a novidade, e não havendo mais o que explorar, o aparelhinho jazia guardado sem uso há muito tempo, no armário de “invenções” esquecidas do Professor.  Mas, a surpresa aconteceu mesmo quando o ouvido foi ligado. Girando o microfone lentamente na direção da janela e ajustando a sensibilidade, um sinal foi captado:

Di-da-di , di-di-da, ....

- Código Morse!... Achamos a transmissão!

Num misto de surpresa e satisfação, os três pararam por um instante para ver se podiam interpretar os sinais:

Cleto ia falando e já com lápis e papel na mão, Beto anotava:

- 23-a, 24-d, 25-c, 26-d ....

- As perguntas e respostas da prova! Ele está transmitindo o gabarito por meio de ultrassons! Vamos pegá-lo!

Imediatamente a segurança da escola foi acionada. Correram todos até o carro de som. À medida que se aproximavam com o ouvido ultra-sônico ligado, os sinais iam se tornando mais fortes. Não havia dúvida quanto à sua procedência. Depois de cercar o veículo, bateram na porta de trás. Insistiram algumas vezes até que ele fosse aberta. Os estranhos ocupantes do veículo ainda tentaram ficar quietos, mas como viram que não havia outra alternativa, saíram. Eram três os ocupantes do veículo. Teodósio, um amigo que atendia por João e um rapaz que logo foi identificado como um candidato que, misteriosamente havia deixado a sala do exame muito rapidamente, logo que a saída foi liberada.

Pelo que se descobriu depois, este sujeito freqüentava os últimos anos de uma escola técnica da cidade vizinha, e havia sido “contratado” para passar a cola. Ele entraria como um vestibulando e resolveria rapidamente as questões. As respostas seriam anotadas e ele sairia rapidamente com todas elas para passar pelo sistema ultra-sônico a transmissão, ao primo do Teodósio.Faltava entretanto “pegar” o rapaz que receberia as mensagens

Imediatamente o diretor, que havia sido informado de tudo, acompanhou o Professor Ventura, os rapazes e a segurança até a sala, de onde o rapaz suspeito foi convidado a sair.

- Mas o que foi que eu fiz? – perguntou cinicamente o rapaz.

- Já veremos! – Neste ponto, o diretor mandou que ele fosse revistado.

Uma caixinha no bolso do rapaz chamou a atenção, já que ao ser retirada, ficou patente que havia um fio preso a alguma parte do corpo do rapaz.

- Sabemos de tudo! O seu transmissor ultrassônico já foi apreendido e os seus companheiros já confessaram. – Com essa afirmação, o diretor procurava mostrar que não adiantava mais tentar fugir a qualquer responsabilidade. O rapaz cedeu e contou tudo.

Mais tarde, no laboratório, o Professor terminava a análise do equipamento usado pelos indivíduos. O Diretor e os rapazes estavam interessados nos detalhes técnicos. O Professor explicou como funcionava o receptor.

- Na caixinha havia um sensível microfone ultra-sônico. Os sinais captados por este transdutor eram enviados a um amplificador e depois a um divisor de freqüência, passando a ter um valor da ordem de alguns kHz.

O professor tomou fôlego e continuou: