Em poucos dias, entretanto, também aconteceram outras coisas na pacata Brederópolis: Os efeitos da irrigação começaram a ser notados não só pelas pessoas que frequentavam a escola, como também por gente importante que passava enventualmente por ali: a primeira dama do munic¡pio, Dona Filomena Bolsogrande, visitando a escola, observou encantada:

 

- Olhe! Como ‚ "verdinho" o jardim da escola! O que o senhor faz para conseguir isso, pois toda a cidade está amarelada, inclusive o parque do lago?

 

E, orgulhosamente, Professor Salgado explicava como o Professor Ventura instalou um sistema de irrigação automática "infalível"! Orgulhoso, o Professor Ventura, ao lado dos dois, apenas ouvia os elogios ao projeto.

- Vou falar com meu marido, Saturnino, para instalar isso nos outros parques da cidade! - foi a reação admirada da senhora.

 

Para quem não sabe, Saturnino Bolsogrande era o "preboste" ou melhor, o prefeito da cidade.

 

Mas, o que ninguém sabia é que dona Filomena tinha outras idéias em relação ao parque verdejante!... Tanto que nem sequer prestou muita atenção nas explicações sobre o princ¡pio de funcionamento da irrigação que o Professor Ventura fez questão de detalhar.

 

- Senhoras, acho que encontrei o lugar ideal para fazermos nosso Encontro Anual Ao Ar Livre! - anunciava a primeira dama na reunião semanal da SBB, Sociedade Beneficente de Brederópolis.

 

- Não pode ser o parque do lago! Está tão "amarelo" por causa da seca! - comentou uma participante. A primeira dama eufórica, anunciou então:

 

- Vamos fazer no gramado do jardim diante da Escola Técnica! Vocês viram como ele está verdejante!

 

Todas concordaram, pois o local havia se tornado muito agradável.

 

A organização do encontro não era difícil, pois era praticamente uma "feira ao livre" onde as senhoras montavam algumas mesinhas no gramado e vendiam doces e salgadinhos caseiros que cada uma preparava. O encontro "social" servia para que elas se divertissem e também arrecadassem fundos para suas obras assistenciais.

 

- Estamos programando para este sábado à tarde quando não há aula.

 

- Vou avisar meu marido, informou a esposa do Diretor da escola, que também participava do grupo.

 

O Professor Salgado, distraído como era, não deu muita atenção à informação de sua esposa, de que o grupo beneficente iria realizar o evento no jardim da escola na tarde de sábado.

 

- Vai ser às 5 horas e esperamos que não chova! Dê uma saidinha e venha comer um "docinho" com a gente!...

 

- Sim, querida! - concordou o Diretor sem sequer erguer os olhos dos papéis que assinava.

 

Não é preciso dizer que o Professor Ventura, desligado para este tipo de coisa, não sabia nada sobre o tal encontro.

 

Na tarde do dia combinado, as primeiras senhoras, vestidas com roupas bastante alegres, pois fazia muito sol e calor começaram a chegar à praça e montar suas mesinhas sob as poucas árvores que produziam boas sombras, e até mesmo um pouco afastadas pois naquele horário o sol já estaria baixo.

 

Dona Filomena estava radiante, saltitando de uma mesinha a outra no verde gramado, e experimentando as guloseimas que haviam trazido.

 

Foi enquanto tudo isso acontecia que o Professor Ventura, que estava no seu laboratório precisou falar com o Diretor na sua sala. Ele tinha o costume de ficar na escola até mais tarde no sábado, mesmo com as aulas terminando ao meio dia. Mas logo que entrou, sua atenção foi chamada pelo que viu através da janela:

 

- É o encontro anual das senhoras!... Alguma dúvida? - perguntou o Diretor, vendo-o assustado.

 

- Sim! Muitas: alguém desligou o sistema automático de irrigação?

 

Os dois então olharam imediatamente para o relógio da parede da sala do Diretor: 5 e 30!

 

- Caramba! - exclamou o Diretor, levantando-se da cadeira e batendo a mão na cabeça, reconhecendo o esquecimento.

 

- Chiiii!... Tem que dar tempo! - Exclamou o Professor Ventura.

 

Os dois saíram correndo da sala em direção à caixa de controle que ficava na beira do parque, mas não deu!...

 

Ainda na escada da porta principal da escola os dois observaram, apavorados, quando o potente borrifo central de água subiu com toda sua força, justamente por baixo do vestido da primeira dama que passava no local, elevando-a alguns centímetros do solo! A gorda dama "inchou" com a pressão da água, e pelos pequenos furos dos bordados do vestido podiam ser vistos inúmeros jatos de água!

 

- Parecia que tinham furado uma abóbora com uma agulha de tricô e depois, enfiado uma mangueira d'água! - alguém comentou depois.

 

O fluxo de água, que inchava o vestido da mulher, era tão grande que algumas pessoas dizem até ter visto dois pequenos jatos de água saindo das orelhas da gorda dama! No entanto, ninguém conseguia explicar por onde estava entrando, e consequentemente passando a água que saia daqueles locais! Alguns "engraçadinhos", que souberam do fato, propuseram diversas alternativas, algumas bastante interessantes que envolviam partes "anatômicas" mais íntimas da primeira dama do município!...

 

Não é preciso dizer que todas as outras damas ficaram completamente ensopadas, antes que o Professor e o Diretor chegassem à caixa de controle e desligassem o sistema, mas o estrago estava feito!

 

Nos poucos segundos que a água jorrou muita coisa aconteceu naquele enorme gramado já cheio de gente!

 

Em época de muita seca, insetos e outros animais maiores, que necessitam de muita água e vegetação para sua sobreviviência, se vêem diante de uma situação desesperadora e, saindo em busca do precioso líquido e alimento, começam a se concentrar nos locais em que ele é mais abundante. Não é preciso dizer que a praça diante da escola se tornou um desses locais!

 

Com os jatos de água molhando tudo, muitos desses animais, que estavam escondidos sob folhagens, troncos e plantas saíram, e mais um problema se manifestou:

 

Ainda com a água caindo, uma gorda senhora, sentada no gramado sentiu quando uma "coisa" pegajosa deslizou por entre suas pernas!... Era uma pequena e inofensiva "cobra d'água", não venenosa, mas isso não importava, pois o efeito foi o mesmo que se um brontossauro de 15 toneladas estivesse entrando no estranho local!

 

Jogando a toalha, com que procurava se proteger da água, para cima, a mulher se levantou e começou a pular e gritar, até que a "coisa pegajosa" caiu e rapidamente procurou um abrigo menos hostil!

 

A mulher olhou para a "coisa" que desaparecia na folhagem e desmaiou!

 

Quase ao mesmo tempo, a alguma distância, junto a uma pequena mesa, outro grupo de senhoras procurava se proteger do borrifo, quando um enorme sapo saltou de uma moita e caiu justamente sobre... o bolo que elas vendiam aos pedaços!

 

A debandada foi geral, com gritos para toda parte! Até o sapo debandou, parecendo que estava mais assustado do que todos, diante de tamanha confusão!

 

Uma outra dama que também teve uma "má sorte" no evento que merece ser citada foi a Dona Marieta, uma senhora de seios volumosos, que sempre usava vestidos de largos decotes. Esse costume foi lamentado pela dama por um bom tempo depois do ocorrido!

 

No instante exato em que a água começou a jorrar, um enorme grilo, pretendendo se proteger da "chuva" que caia, viu no decote de Dona Marieta o abrigo ideal. Saltou elegantemente e com excelente "pontaria" mergulhou!

 

Tchof!... Encaixando direitinho no alvo, ele causou então mais uma grande confusão!