As novidades eletrônicas sempre fascinam as pessoas do ramo, e mesmo as que não estão no ramo. Se bem que o diretor da escola técnica não fosse muito ligado em "utilidades eletrônicas", desta vez ele voltou entusiasmado de uma visita a capital, onde foi com o Professor Ventura. Além de comprar componentes e instrumentos para os laboratórios, ele viu pela primeira vez em funcionamento um Home Theater, resolvendo aproveitar a novidade na escola. Home Theater, uma palavra nova para muitos, é o tema desta estória (*).


(*) Na época em que esta estória foi escrita, realmente Home Theater era uma novidade, ocupando lugar de destaque nas lojas em que os primeiros televisores de tela grande começavam a fazer sucesso. Nesta época os DVD players ainda não eram comuns, e o videocassete era utilizado na reprodução de filmes. Os efeitos de Surround e outros exigiam então o emprego de decodificadores externos, como o leitor vai perceber. Os CDs players já existiam, mas para a reprodução sonora.

A visita a Capital tinha sido muito proveitosa, principalmente depois que encontram com um velho amigo do Professor Ventura, acidentalmente, numa loja de componentes. Roberto, que trabalhava numa grande industria de componentes eletrônicos tinha, nas suas horas livres, um hobby e esse hobby tinha um nome ainda pouco familiar para o Professor e completamente desconhecido para o diretor da escola:

- Home Theater? Mas, o que é isso?...

Roberto convidou-os então para ver a maior novidade em termos de áudio e vídeo (A/V) e que havia "implantado" no seu "espaçoso" apartamento.

- A idéia é trazer para nossa casa, não só a imagem do cinema, com o uso de televisores digitais de telas grandes ou ainda "telões" , como também o som com um sistema de muitas caixas acústicas e separação de canais!...

O rapaz ia entrando no apartamento ao mesmo tempo que explicava detalhadamente  tudo ao Professor e ao diretor. Uma "idéia geral" da "coisa" era o que Roberto queria passar aos dois:

- O som de muitas gravações é em Dolby Stereo, Dolby Pro-Logic ou outros processos modernos, e os efeitos obtidos são sensacionais! Vocês devem ter visto no cinema os filmes "Guerra nas Estrelas" ou "Dança com Lobos"!

- Sim, foi sensacional! - comentou o Professor que tinha visto o filme na Capital. O Professor Salgado, diretor da escola, não teve a mesma sorte pois, o único alto-falante do modesto cinema de Brederópolis, não dava mais do que uns 10 watts do velho amplificador valvulado, e mesmo assim com certa distorção!...

- Pois bem, as trilhas desses filmes, além dos dois canais normais, possuem ainda canais "surround" que nos envolve em som com alto-falantes traseiros e laterais. No sistema Pro-logic ainda vamos além, pois temos um alto-falante central e até um sub-woofer!...

- Sub-woofer? - termos técnicos nunca foram familiares para o Diretor. Roberto continuou:
- Sim, um alto-falante para os sons muito graves como explosões, desabamentos, avalanches, terremotos!... Isso dá um realismo fantástico aos filmes...

- E você colocou tudo isso no seu apartamento? - O Professor não tinha idéia como, mas Roberto os fez entrar em seu "Home Theater". Era uma pequena sala em que ele havia feito diversas adaptações. Num canto o grande televisor de plasma de 42 polegadas com dois alto-falantes pequenos na parte superior, dois laterais e um alto-falante central maior. E, por toda a sala, formando o sistema "surround", alto-falantes espalhados. Uma poltrona de três lugares ficava diante do televisor, em posição estrategicamente determinada...

- Não disponho de espaço aqui para todos os alto-falantes que gostaria de ter, pois meu amplificador tem saídas para "apenas" 11 caixas, mas "dá-se um jeito"!...

Roberto continuou:

- Pois é, o problema maior foi com o "sub-woofer" que dá os efeitos melhores com os sons graves: só encontrei um lugar para instalá-lo! Adivinhem onde?

O Professor e o diretor olharam por toda a sala. Evidentemente o Professor Salgado, mesmo se visse o tal de "sub-woofer", não teria condições de identificá-lo mas o Professor Ventura também não viu nada!

- Não tenho idéia! - exclamou finalmente o Professor.

O fã do Home Theater explicou triunfante:

- Está sob a poltrona!...

O Professor olhou desconfiado para a poltrona onde notou algumas aberturas laterais para o som, os "pórticos". Com dúvidas, ele perguntou:

- Puxa! Mas não tem problemas de acústica?

- Realmente tem, mas não de acústica! Os 500 watts que aplico nele são suficientes para vencer qualquer resistência!...

- Mas então, que tipo de problema ocorre?

- Bem, fica difícil assistir filmes de guerra comendo pipocas!...

O Professor e o diretor quiseram rir, mas se contiveram. O rapaz continuou:

- Outro problema que eu notei foi quando trouxe minha tia de 80 anos para assistir o filme "O Terremoto"...

- Sim?
Os olhares do Professor e do diretor eram de interrogação:

- Ela perdeu a dentadura!...

- Bem, se foi só isso, então não há porque se preocupar!...

Mas, havia mais! Roberto continuou:

- Teve outro probleminha ainda!... Outro dia eu trouxe meu amigo Toninho, também para assistir "O Terremoto"!...

- E daí?...

- A poltrona vibrou tanto que, quando o filme terminou, ele não sabe como, mas a cueca foi parar no bolso do paletó!...

Novamente o Professor e o diretor da escola tentaram rir, mas não conseguiram. O que importava é que, apesar do espaço reduzido, a demonstração que Roberto fez em seguida foi impressionante, e muito! Na volta a Brederópolis, o Professor Ventura foi chamado pelo diretor em sua sala:

- Gostaria de ter um "Home Theater" na escola, pois teríamos muito mais realismo nos filmes educativos que alugamos, além do que não podemos ficar atrasados em relação às novidades da eletrônica! Mas, aqui entre nós, eu poderia também usá-lo em algumas seções particulares!...