O Professor fez então um esboço no quadro-negro:
- Nosso anfiteatro é pequeno e tem assoalho de madeira que foi reforçado há pouco tempo! Podemos aproveitar o porão para servir de "caixa acústica" e instalar os alto-falantes de graves no chão! Dessa forma, as vibrações virão "de baixo" como deve ocorrer com os sons graves, fazendo literalmente o "chão tremer" com explosões, desabamentos, etc...
- Mas, para isso precisaremos de uma boa potência!... - interrompeu Beto.
- Sim, mas isso também não é problema!
No dia seguinte o Professor Ventura apresentou uma relação de materiais ao diretor que foi imediatamente aprovada! Era bem menor do que ele esperava, pois incluía apenas o decodificador e 6 alto-falantes!
Mais tarde o diretor ficaria surpreso, não com o preço do decodificador, mas sim com o preço dos alto-falantes! Não é para menos: todos se assustaram quando o Professor, Beto e Cleto entraram no anfiteatro, carregando enormes "woofers" com mais de 1 metro de diâmetro cada um! O peso dos "monstros" estava concentrado principalmente em seus imãs com mais de 30 quilogramas cada um!
- Estes "woofers" que encontramos são realmente sensacionais! Respondem a menos de 20 hertz! Não vejo a hora de reproduzir um terremoto nesses "bichos"! - Beto estava entusiasmado, se bem que deveria ter dito "produzir" em lugar de reproduzir!
- Caramba! Podem até reproduzir vibrações infrassônicas! - completou Cleto!
- Na saleta de projeção, seis enormes amplificadores de 500 watts com MOSFETs de potência em ponte na saída de cada um, eram instalados e alimentados pela saída de graves do decodificador de Home Theater.
Para os sons médios e agudos os alto-falantes menores que já faziam parte do sistema de som do anfiteatro foram mantidos! O Professor apenas teve o cuidado em separar suas ligações de modo a ter o Stereo Surround e Stereo Pro-Logic disponíveis no decodificador. O sinal para excitar este poderoso sistema vinha da saída do videocassete! No total mais de 4 000 watts de som, sendo 3 000 na faixa dos graves, encheriam o pequeno salão!
- Quatro quilowatts rms ou dezesseis mil watts pmpo! Puxa, que som! - exclamava gloriosamente Beto ao examinar o plano de sonorização.
- As "coordenadas" do meu amigo Roberto foram exatas! O sistema vai ficar perfeito! - falava entusiasmado o Professor Ventura enquanto fazia as instalações.
Em seis pontos do assoalho de madeira do anfiteatro, foram feitas aberturas circulares de 1 metro de diâmetro onde foram fixados os alto-falantes enormes. Uma forte grade de ferro com um engenhoso sistema que evitava a queda de objetos e mesmo a penetração de água quando o local fosse lavado, foi colocada por cima de cada alto-falante!
Em pouco tempo todas as ligações foram feitas e os primeiros testes realizados!
- Está sensacional! Treme até os "ossos"! Ótimo para animar um "baile de caveiras"! - Exclamava Beto entusiasmado, que ainda conseguiu fazer uma piada.
O Professor, ao lado, concordava fazendo o sinal de "positivo" para que Cleto, na cabine, desligasse o sistema.
- Puxa! Gostaria de fazer um teste com uma gravação, mesmo que em CD, de algo mais "poderoso", como um terremoto, desabamento ou seja lá o que for!
Como já era tarde eles deixaram isso para depois! Na verdade, nos três dias seguintes não foi possível voltar ao projeto do "Home Theater", pois começaram as provas e a preocupação dos alunos foi estudar, e do Professor, corrigir as provas!... Enquanto isso muita coisa acontecia!...
Dona Filomena Bolsogrande era a esposa do "preboste" (como era chamado o prefeito) de Brederópolis, e como tal ela estava constantemente envolvida em atividades filantrópicas. Naquele momento, por exemplo, ela organizava com as damas da "alta sociedade" local e de alguns clubes de serviço, algo para "arrecadar fundos" para suas obras sociais:
- Já fizemos "chás" demais, "tardes da sobremesa" nem se diga, festa de sorvete já perdemos a conta! Quero algo diferente desta vez!
Dona Maricota, sua fiel amiga, e esposa do vice-prefeito, concordava:
- É verdade, precisamos inovar!
Foi nesse momento, que alguém do grupo de senhoras teve uma idéia:
- Vamos fazer uma "Tarde da Gelatina"!
- "Tarde da Gelatina"?
A dona da idéia explicou:
- Sim! Estamos no outono: nem chá, que é para o inverno, nem sorvete, que é para o verão! Vamos servir gelatina! É intermediário! É fácil de fazer, custa pouco o que nos dá uma boa margem de lucro para nossas obras!
A esposa do prefeito aplaudiu! Outra senhora continuou entusiasmada:
- Sim! Gelatina de morango, de uva, de abacaxi, de cereja...
-... E de limão de Brederópolis! - Não podiam esquecer o limão! Toda a economia da cidade era baseada nas infindáveis plantações dessa fruta cítrica e, portanto, ela não poderia ficar de fora!
Neste momento dona Filomena fez uma cara triste:
- Temos um problema! Fazer a gelatina ‚ fácil, mas onde fazer o evento se o salão da prefeitura está em obras?
Todos ficaram frustrados diante da idéia de cancelar tudo, até que alguém, e esse alguém era,nada mais na menos, que a esposa do diretor da escola técnica, Dona Pancrácia, forneceu a solução alternativa:
- Podemos fazer no anfiteatro da escola! Tenho certeza que meu marido não vai se opor, pois agora estamos em época de provas e ele não está sendo usado!
- Sim! É só tirar as cadeiras e teremos um ótimo salão, quase tão grande como o da prefeitura!
- Claro, querida! Vou mandar tirar as cadeiras e você pode usar o salão depois de amanhã! - concordou distraído o diretor, que nem se lembrou do "trabalho" que o Professor Ventura estava fazendo.