Cleto entretanto tinha algo importante a dizer:

- Mas, esperem aí! Tudo bonitinho "no papel" mas, como vamos convencer o Zé Matias a transportar um ventilador ligado? O Guarda certamente iria desconfiar...

- E quem disse que o Zé Matias precisa saber o que está transportando e que o ventilador deve estar visível? A caminhonete tem carroceria de madeira de modo que o sinal refletido pelas pás de um bom ventilador deve superar em muito o refletido pelo veículo e dar a indicação final de velocidade que desejamos. Mas, não se procupem que eu já pensei nisso também!

Não haviam dúvidas que, quando o professor Ventura elaborava algum plano, além de rápido, no mínimo ele era perfeito! Neste caso também ele parecia ter pensado em tudo!

- A idéia é simples: embalamos numa grande caixa de papelão um bom "ventilador", mas alimentado por bateria e acionado por controle remoto. Nós mesmos cuidaremos de posicionar a caixa na carroceria da caminhonete do Zé Matias! Podemos dizer que se trata de equipamento de pesquisa delicado... Como de outras vezes que ele transportou coisas para nós, isso garante que a posição da hélice estará como queremos. Depois, pedimos para ele entregar o "negócio" lá no Sítio do Abacate (O Sítio do Abacate ficava fora da cidade e era um recanto onde o prof. Ventura frequentemente se retirava para seu descanço e até para fazer experiências que exigiam um espaço maior. Mas o importante ‚ que para ir para esse Sítio era obrigatório passar pelo pequeno posto policial na rodovia onde o Guarda Oliveira estava constantemente pilhando os menos avisados em excesso de velocidade com seu radar. Uma curva de pouca visibilidade um pouco antes tornava impossível qualquer tipo de prevenção para os que não conheciam o local...).

- Puxa! Essa ‚ boa!...

O plano ainda tinha pequenos arranjos que o leitor ficará sabendo oportunamente, mas o importante é que os três começaram quase que de imediato a preparar o "ventilador" que o Zé Matias deveria transportar. O conhecimento do professor Ventura foi fundamental no dimensionamento desse aparelho:

- Certamente um ventilador comum não vai servir, pois se as pás forem muito grandes além de precisarmos de muita energia para girá-las, o que não vai ser possível com uma bateria, a resistência apresentada pelo ar não o deixará desenvolver a velocidade que precisamos. Por outro lado, se as hélices forem pequenas o radar não vai ser capaz de detectar o sinal refletido. Temos de calcular tudo com cuidado! - explicou o professor.

Eles montaram então uma hélice, mas com tela de arame, de modo que ao girar o ar não oferesse muita resistência. Uma tela fina de arame reflete os sinais de rádio e a inclinação de 45 graus foi calculada para dar o efeito desejado. Depois, montaram uma base e adaptaram um motor de 12 volts do tipo usado para acionar ventoinhas de refrigeração de carro. Uma prova de funcionamento revelou que a hélice, além de bem equilibrada para evitar vibrações, conseguia em pouco mais de 30 segundos atingir uma boa velocidade, da ordem de 800 rpm, o que permitiu cálcular que velocidade ela poderia "somar" ao radar. O diâmetro de 60 cm, ou 30 cm de ráio significava uma velocidade tangencial a 800 rpm de 25 metros por segundo, ou aproximadamente 90 quilometros por hora! Para obter esta indicação as pás deveriam estar inclinadas de 45 graus o que foi previsto, mas isso causava uma certa oposição do ar que não chegou a ser significativa.

O motor do "ventilador" era acionado por um relé ligado a um receptor de controle remoto. O transmissor de bom alcance seria operado pelos rapazes, de modo a assegurar que ele só entraria em ação quando o veículo estivesse nas proximidades do raio de ação do radar.

A potente bateria de Nicad 12 volts, mesmo com o consumo elevado do motor, deveria ser capaz de mantê-lo em funcionamento por pelo menos 15 minutos.

Esse tempo seria mais do que suficiente para permitir a detecção pelo guarda, na hora que o veículo estivesse em trânsito, desde que acionada no momento certo! E, isso foi cuidadosamente planejado.

O ventilador foi instalado no interior de uma grande caixa de papelão reforçado, de modo que sua hélice pudesse girar livremente, e sem fazer barulho, ficando a bateria e o receptor de controle remoto com o relé na parte inferior.

Uma boa antena telescópica no interior da caixa garantia a recepção do sinal a uma distância de pelo menos 800 metros.

- Não vamos precisar de todo esse alcance para o controle remoto, já que pretendo acionar o sistema de uma distância menor - explicou o professor Ventura quando dava os retoques finais no receptor, testando sua operação.

Além disso, foi instalado na caixa um pequeno transmissor de FM, mas com um alcance da ordem de 1 km. Dois microfones colocados em pontos estratégicos da caixa modulavam o sinal deste transmissor. O professor Ventura, Beto e Cleto não iriam deixar de ouvir o que se passaria, caso realmente o veículo fosse interceptado pelo guarda!

Com um receptor acoplado a um gravador eles pretendiam registrar tudo que eventualmente pudesse ocorrer. Um teste de funcionamento revelou que mesmo falando com vóz normal a uma distância de 2 metros dos microfones, a intelegibilidade era perfeita. Terminado o trabalho de preparação do estranho aparelho, os três olhavam com orgulho para a enorme caixa de papelão.

- Agora só falta chamar o Zé Matias para fazer e entrega...