No dia seguinte, num horário que todos sabiam que o guarda Oliveira ficava de plantão em busca de motoristas apressados Zé Matias foi chamado à casa do prof. Ventura para "fazer um trabalho de entrega".

O professor explicou ao motorista da velha caminhonete que ele devia ir com cuidado, e que não estranhasse se no transporte o aparelho fizesse algum tipo "barulho"... Vinda do professor, essa observação não o abalou, pois conhecia muito bem as estranhas invenções com que ele trabalhava. Depois, com muito cuidado os três colocaram a caixa na carroceria e a amarraram na posição certa para dar o efeito planejado.

Tão logo a caminhonete saiu, pipocando com a estranha carga, os três correram para o carro do professor Ventura. Cortando caminho, ajudados pela baixa velocidade da caminhonete do Zé Matias, os três não tiveram dificuldades em chegar bem antes ao local planejado para a ação: numa curva, um pouco antes de chegar ao posto rodoviário, eles deixaram a estrada principal e subiram até o alto de um morro onde tinham uma excelente vista: a estrada, o posto e até mesmo a cidade distante alguns quilometros podia ser avistada.

Mas, o que mais interessava aos três, e que eles podiam ver claramente, era o posto policial a uns 300 metros abaixo, com a pequena sala onde se destacava na janela o perfil do guarda Oliveira e o comprido fio que ía até a beira da estrada até uns 200 metros antes da curva, onde o radar detectava os mais apressados!

De binóculos na mão e o transmissor pronto para ação os três aguardaram. Não demorou muito para que avistassem o Zé Matias "dando tudo" para subir um dos compridos aclives que antecediam o posto policial.

- Atenção! Lá vem ele. - alertou Beto, que foi quem primeiro focalizou a caminhonete.

Tão logo o pequeno veículo chegou ao tôpo da elevação que antecedia a curva onde estava o radar, a uns 600 metros da antena, Cleto apertou o botão do transmissor:

- Agora!

Zé Matias nem percebeu o pequeno tremor que indicava o fechamento do relé e a força que o motor elétrico começou fazer para tirar da imobilidade a pesada hélice de tela de metal. Pouco a pouco o "ventilador" foi ganhando velocidade e o tremor diminuiu, até que em pouco mais de 40 segundos ela estava na sua velocidade máxima: 800 rpm e "somando" 90 quilômetros por hora na velocidade do velho calhambeque! Zé Matias, evidentemente não percebia nada e no mesmo rítmo do motor de seu veículo continuava a assobiar uma melodia enjoada!

A 40 quilometros por hora, isso significava que o veículo havia percorrido pouco mais de 400 metros desde o instante que o relé foi acionado, o que dava uma margem de segurança de quase 200 metros, para o início da detecção pelo radar. O professor que havia calculado tudo antes, mostrava que realmente sabia planejar as coisas, e se regogizava disso com o cronômetro na mão!

- Até‚ agora, tudo conforme o planejado!

E, realmente a partir daí as coisas começaram a ficar mais interessantes. Quando a caminhonete entrou no alcance do radar, imediatamente o alarme de excesso de velocidade foi dado na saleta do guarda!

Num salto, o guarda Oliveira, sem pensar, pegou o talão de multas e saindo rapidamente do seu posto, foi para a beira da estrada pronto para interceptar mais um "rapidinho"!

- "130 por hora! Esse "cara" vai ver o que ‚ bom!" - Pensou alto o Guarda Oliveira, feliz por "fisgar" o primeiro peixe do dia, que até agora tinha sido muito fraco. Afinal ele precisava justificar o dinheirão investido no equipamento importado que agora ele usava!

Olhando para a pista, onde deveria apontar em segundos o "corredor" o guarda estranhou, pois isso não ocorreu. O tempo passou, e muitos segundos depois do previsto, um vulto familiar apontou na curva: o fordinho do Zé Matias!

-"Não ‚ possível! Ele novamente, mas eu não posso perder tempo com esse "peixe menor", vou esperar o outro que vem atrás que é muito maior!" - O guarda estava enganado. O outro “peixe” não apareceu, e isso, por uns instantes, deixou o Guarda confuso...

-"Espere aí," - pensou o guarda - "Aí tem coisa! O radar detecta 130 por hora, não passa ninguém, e depois aponta o fordeco... Esse "cara" está me enganando!"