Mil coisas começaram então a passar pela cabeça do Guarda Oliveira, enquanto que vagarosamente, nos seus quase 40 por hora, o fordeco do Zé Matias se aproximava: um motor "envenenado" que só era acionado quando não havia ninguém olhando!

Um foguete amarrado por baixo do chassi! Um motor de reserva com muitos cavalos a mais para correr quando quisesse... Essas foram apenas algumas das possibilidades que fizeram o Guarda interceptar o velho Zé Matias quando ele, procurando dar tudo, já ía passando pelo posto rodoviário. O diálogo que se seguiu foi muito interessante, e o professor Ventura, Beto e Cleto ouviram tudo através do seu transmissor "secreto".

O "ventilador" já havia sido desligado pelo controle remoto, e por isso nenhum barulho estranho na caixa poderia causar algum tipo de suspeita...

- Bom dia "seu" Zé Matias! - O guarda cumprimentou o motorista com um ar bastante desconfiado...

- ..."Dia", dia seu guarda! Me "descurpe" se "tava" devagar, mas não "trapaiei" ninguém, não é? Nesta hora o movimento é pequeno... - Zé Matias não desconfiava de nada do que tinha ocorrido. O guarda o interrompeu...

- Não me venha com essa de que estava devagar... Quero ver o motor de seu veículo. Levante o capô!

Zé Matias não respondeu nada! Estranhou um pouco, mas sabia que de nada adiantava argumentar. Desceu e abriu do lado de fora. O guarda não havia se dado conta que nos carros antigos, como aquele, o motor era aberto por duas tampas laterais que levantavam como asas, e que o trinco era do lado de fora!

Com um ar bastante desconfiado, mãos unidas para trás, o guarda começou a rodear a velha caminhonete. O pobre do Zé Matias, cada vez mais aumentando a desconfiança, só olhava, sem entender nada.

O guarda olhou por baixo, olhou dentro do motor, puxou um fio aqui, afastou uma peça ali para ver se encontrava algo de anormal, um carburador extra, uma bomba injetora eletrônica mas, nada! Tudo que ele conseguiu foi sujar a mão de graxa e, tudo isso, sem perder a calma...

Na verdade, mesmo que houvesse alguma coisa de anormal, o guarda teria dificuldade em saber pois seus conhecimentos de mecânica não eram lá grande coisa...

- Muito bem! Onde que está o "veneno"? - finalmente, o guarda falou mais ríspido com o Zé Matias – referindo-se aos recursos usados nos carros preparados com motor mais potente, o que hoje chamamos de “tuning”..

- Uai, se é isso que o senhor quer não tem "probrema"!

Voltando para o interior do veículo ele levantou o banco e "puxou" um garrafão cheio com um líquido transparente.

"- Deve ser combustível especial! Que esperto!" - pensou o guarda, mas o que Zé Matias revelou frustrou o guarda:.

- Este "veneno" é "do bão"! - exclamou orgulhoso Zé Matias mostrando o "garrafão de cachaça", - mas eu "inda" não tomei nada hoje! Se o senhor quiser eu trago um pouco lá  do alambique!...- O guarda logo o repeliu mandando-o guardar... Zé Matias também ía mostrar também seu "bafo" ao guarda para provar que realmente não havia bebido nada quando ele interrompeu mais rispidamente:

- Não me venha com essa! Você passa a 130 por hora no meu radar, e depois aponta lá em cima do morro devargazinho, como se não soubesse de nada! Aí tem coisa e eu vou descobrir!... - Nervoso, o guarda deu mais algumas voltas no carro, e até mandou o Zé Matias entrar e acelerar o velho motor. Prestando atenção a algum ruído que revelasse um motor "envenenado", nada conseguiu: o motor pipocava e com muito custo ganhava velocidade...

- Desça! - Mandou o guarda que já mostrava sinais maiores de alteração agora. Zé Matias, entretanto, que nunca perdia a calma, obedecia sem reclamar.

Não se confomando em não encontrar nada, o guarda resolveu lançar suas últimas cartas:

- Então você não vai revelar seu segredo! Passando a 130 por hora diante do meu nariz, digo, do meu radar e me fazendo de bôbo! Só tenho duas alternativas: ou multo você ou aprendo sua "viatura" por estar com suas características alteradas!...

O velho Matias olhou para o Guarda e aí, a surpresa de Beto, Cleto e o professor Ventura que ouviam tudo pelo rádio, pois ele falou:

- O senhor pode "murtar" como "quisé", ou "inté prendê" a "véia Maricota", mas vai "ficá " muito chato quando eu "chegá" na cidade e "dissé" "prá " todo mundo que eu "tava" a 130 por hora e que o senhor me "murtá" por "insesso" de velocidade. Vai "sê" um bocado "difici" "explicá" , mas o "probrema" não ‚ meu...Vou "inté pendurá a murta num locá  bem visiver pra todo mundo vê"...

Ele tinha razão! O guarda logo percebeu que na verdade ele estava diante de um belo problema: se multasse ou aprendesse a velha caminhonete corrria o risco de cair no ridículo, a não ser que provasse que ela estava realmente alterada e a 130, mas a única prova era o radar pois não havia encontrado nada de anormal no motor! E se o radar estivesse com problemas?

Em suma, era arriscado demais, pois isso poderia levá-lo ao ridículo! Mas ele tinha suas dúvidas... O que poderia ter ocorrido: o radar havia realmente falhado ou o velho disfarçado muito bem a "potência" extra da caminhonete? Retraindo-se, e tratando agora com mais respeito o Zé Matias que realmente estava se mostrando muito mais esperto do que sua simplicidade podia prever, o guarda resolveu liberar o veículo com sua "estranha carga".

- Pode ir, mas cuidado! Tô de olho em você! - disse o guarda Oliveira muito sério. Zé Matias não respondeu nada.