Tão logo o velho veículo foi liberado e se afastou pipocando nos seus 40 por hora, sob o olhar muito desconfiado do Guarda, Beto, Cleto e o Professor Ventura cairam na gargalhada, comprimentando um aos outros pelo sucesso da brincadeira, e se apressaram em tomar um atalho para o Sítio onde deveriam receber a entrega.

- Sucesso! O guarda não vai mais amolá-lo!

Mas, não era bem assim pois, para o Guarda, as coisas não tinham terminado. Caminhando até o radar êle olhou desconfiado para o aparelho e recolhendo-o carregou-o de volta até sua sala. No dia seguinte enviou-o aos laboratórios da polícia para uma verificação: a reposta veio em pouco tempo.

Não havia nada de anormal!

O guarda não se conformava, mas não haviam provas!

- Um dia eu o pego! - O guarda não havia desistido.

Mas, se daquele dia em diante foi um respeito maior ao Zé Matias por parte de guarda, isso não significa que ele deixou de ser incomodado: muito pelo contrário! Todas as vezes que a velha caminhonete cruzava com o guarda, era parada e recebia uma vistoria geral: da pintura até a última vela do motor eram verificadas pelo Guarda Oliveira que procurava ainda a causa do envenenamento secreto do motor. Só observando, Zé Matias ficava impassível observando tudo, mas muito espertamente não afirmava nem negava nada, se aproveitando da situação e deixando o policial inconformado!

- Eu um dia pego você! - Era a frase que o velho Zé Matias ouvia do guarda ao ser liberado e que já tinha decorado...

Beto e Cleto que jé  tinham visto a tal vistoria algumas vezes resolveram contar tudo ao velho motorista:

- Acho que não adiantaria, pois ele não entenderia nada! Mas se vocês quiserem, eu vou junto!...

Quando o guarda se afastou, o professor Ventura, Beto e Cleto se aproximaram do Zé Matias que já ía saindo depois de uma vistoria:

- Temos algo para lhe contar, mas em segredo: pode ser?

- Pode "uai"! - respondeu o motorista

Levando-o para um canto discreto, o professor, procurando não ser técnico em sua explicação, contou como o "ventilador" que ele transportou na verdade era uma engenhoca para enganar o radar do guarda!...

Para surpresa dos três, Zé Matias deu uma boa gargalhada parecendo que tinha entendido tudo::

- Ah! Então é isso? Foram vocês. Pensei por um instante que meu segredo tinha sido descoberto, mas como vocês procuraram me ajudar, merecem conhecer esse segredo!...

Zé Matias parecia diferente, pois o "sotaque caipira" desapareceu, o que deixou o Professor Ventura, Beto e Cleto surpresos! Ele continuou.

- Venham comigo!

Zé Matias assumiu a direção da velha "maricota" e o professor se acomodou ao seu lado.

Beto e Cleto subiram na pequena carroceria. Dirigindo em silêncio, foram para um trecho deserto da rodovia, do lado contrário ao que o guarda normalmente ficava. Em dado momento, Zé Matias foi para o acostamento, e sem desligar o motor olhou para todos os lados. Ainda sem falar nada, abaixou-se e num local secreto acionou alguma coisa. Imediatamente o motor pipocante da "maricota" mudou de rítmo.

Funcionando com suavidade ele atendeu imediatamente a aceleração de Zé Matias e a caminhonete saiu do acostamento e foi ganhando velocidade. Em alguns segundos, para total surpresa do professor e mais ainda dos rapazes na carroceria, o "velho" calhambeque rodava a mais de 120 por hora com incrível suavidade!...

Percebia-se perfeitamente que Zé Matias ainda não estava "pisando" tudo! Durou pouco a demonstração! Zé Matias encostou a caminhonete. Todos desceram e ele finalmente falou, completamente sem sotaque caipira para maior espanto ainda de todos:

- Agora vocês vão conhecer meu segredo!

Abrindo o motor da velha "maricota" e dentro dele um "compartimento secreto" ele mostrou:

- Ignição eletrônica, injeção eletrônica, controle de mistura e tudo mais de um verdadeiro carro, controlado por dois microprocessadores da mais avançada tecnologia!...

O velho caipira falava como um "expert"! O professor e os rapazes não podiam acreditar no que viam!

- Mas, tem mais ainda! Surpresos com minha fala, não é?

- E muito! O senhor não tem nada de caipira! - respondeu o professor.

- Sim é verdade! Na realidade não me chamo Zé Matias. Meu verdadeiro nome é Fritz Bauer. Meu pai veio da Alemanha com as primeiras industrias de automóveis, e além de aprender tudo sobre motores com o "velho" também cursei a escola de engenharia.

Trabalhei durante anos como Engenheiro Especialista em Motores, até que já aposentado, quando perdi minha esposa resolvi me retirar da "vida civilizada" para algo diferente. Não tendo mais que um primo distante na Alemanha, assumi uma nova identidade nesta pacata cidade onde pretendo terminar meus dias!...

- Zé Matias!... - interrompeu Beto.

- Sim, isso mesmo! Levando uma vida simples e solitária, como vocês sabem só mantive uma velha recordação: a caminhonete onde me distraio com alguns "dispositivos" que instalei!...

- Mas, e o guarda?

- Vocês me deram um susto! Quando ele me parou aquele dia dizendo que eu estava correndo a 130 pensei que meu segredo tinha sido descoberto! Depois pela conversa do guarda achei que o problema foi um desarranjo do radar, mas fiquei prevenido!...Cheguei até a imaginar que seria o "treco" que vocês tinham me mandado entregar o causador do problema, pois conheço muito bem as suas "invenções"!...

Zé Matias, ou melhor Fritz, disse isso olhando para o professor que estava surpreso, muito surpreso!

- Mas, devo agradecer vocês e fazer um pedido: guardem meu segredo que eu guardo o de vocês!

Os três foram levados de volta … cidade. Uma nova amizade iria surgir com o professor visitando Fritz para conversar sobre assuntos técnicos, coisa que ninguém suspeitava: achavam que o professor visitava o "velho" apenas por que tinha dó da sua solidão!... Quando Fritz, ou melhor Zé Matias, se afastou com a velha Maricota os três, ainda zonzos com os acontecimentos e não sabendo se enganaram ou foram enganados, puderam ouvir quando o pipocar da velha maricota despareceu numa curva tomando lugar um ronco suave de um potente motor "envenenado"!