O que acontece quando o professor Ventura, Beto e Cleto resolvem ajudar um garoto num campeonato de "videogame"? Certamente, usando recursos eletrônicos, que só eles sabem, a vitória estará garantida. É claro que também podem ocorrer algumas "trapalhadas" e problemas, mas se isso ocorreu realmente o leitor ficará sabendo em mais esta interessante estória.

Esta estória é da década de 90 e nunca foi publicada.

 

Paulinho estava muito aborrecido, e logo Beto e Cleto perceberam isso quando encontraram o garoto sentado na escada da escola técnica. Os dois não puderam deixar de sentar ao lado do rapaz e perguntar o que havia:

 

- Nada não! Vocês não podem me ajudar!

 

- Pelo menos conte o que houve, e se não pudermos auxiliar talvez possamos lhe indicar o caminho de alguém que ajude ou que permita que você mesmo se ajude! - insistiu, com inteligência, Beto.

 

Cleto ainda reforçou a idéia do amigo:

 

- Sim, é isso mesmo! Às vezes o simples fato de desabafar ajuda a encontrar a solução de um problema.

 

- Está bem! Está bem! Eu vou lhes contar tudo, mas sei que não podem me ajudar! - segredou o rapaz ainda deprimido.

 

Os três partiram então para uma caminhada pelos jardins da escola, indo até a beira do rio que passa no fundo, onde sentaram sob uma árvore. O garoto de uns 15 anos contou tudo a Beto e Cleto, um pouco mais velhos.

 

- Vai haver uma competição de videogame, vocês sabem e eu que não sou muito "ligado" neste tipo de coisa, na verdade nem me interesso, mas vou ser obrigado a participar!

 

- Ué, mas por que? - perguntou Beto.

 

- Por causa de Chiquinha, minha namorada! - segredou, meio encabulado o rapaz.

 

- Ela o obrigou? - perguntou então Cleto.

 

- Não é isso! O Renato está na jogada. Vocês sabem, ele é praticamente imbatível no videogame e isso chama a atenção das garotas. Muitas delas ficam "caídas" por ele, só porque ele sempre faz mais pontos que nós em qualquer jogo! Agora, sabendo da competição ele me desafiou, me chamando de "moleirão" diante da Chiquinha e das amigas delas. Ele disse que eu não chego nem a um décimo dos pontos que ele vai fazer e, riu na minha cara!

 

- Puxa! Que sujeito atrevido! - recriminou Beto. Paulinho continuou então desanimado:

 

- Agora estou numa enrascada! Se não participo, fico com fama de covarde diante da minha namorada e suas amigas!... Mas, se participo, certamente vou levar uma "surra" e aí vai ser ainda pior!...

 

Beto e Cleto concordaram então que o rapaz estava mesmo numa enrascada e ficaram por algum tempo em silêncio. Cleto pensava num jeito de consolar o rapaz e até de tirar o atrevido do Renato da jogada:

 

- Por que não "sequestramos" o Renato no dia da competição? - chegou a sugerir Cleto.

 

Beto entretanto nem respondeu, pois estava "bolando" algo bem diferente, e envolvendo a eletrônica!

 

Cleto até estranhou o silêncio do amigo, se bem que sabia que quando esse silêncio se prolongava, era sinal de que ele tinha encontrado "algo" e estava simplesmente "arrumando" as idéias. Foi justamente o que ocorreu, e depois de algum tempo Beto exclamou entusiasmado:

 

- Já sei!

 

Cleto abriu um sorriso, sabendo que o amigo tinha uma idéia, se bem que Paulinho nem esboçou reação, pois estava realmente desanimado. Cleto explicou então o que pretendia:

 

- Vamos dar uma "surra" no Renato!

 

- Vai bater nele? - perguntou Paulinho meio preocupado.

 

- Não é esse tipo de surra! Vamos, ou melhor, você vai vencê-lo na competição de videogame! - explicou Beto. Paulinho não acreditou no que o outro disse:

 

- Só se vocês fizerem algum milagre! Sou "grosso de nascença" nesse negócio, e nem mesmo um treinamento vai mudar isso! - explicou Paulinho.

 

- Nós não podemos fazer milagres, mas a eletrônica pode! - explicou Beto, que continuou levantando-se rapidamente - Vamos procurar o Professor Ventura para explicar a idéia que tenho em mente. Ele pode fazer alguma coisa!

 

Os três se levantaram, se bem que Paulinho meio relutante, e foram procurar o Professor Ventura.

 

No laboratório, o Professor Ventura ouviu calmamente as explicações de Beto e à medida que falava Cleto ficava cada vez mais animado e os olhos de Paulinho iam ficando arregalados, com um brilho que indicava que haviam esperanças! Sim, haviam esperanças!

 

A "coisa" ficou muito mais interessante quando o Professor Ventura confirmou as idéias de Beto:

 

- Sim, é perfeitamente possível e nós vamos fazer isso!

 

Para que o leitor saiba o que Beto tinha em mente, vamos detalhar suas explicações. O que o rapaz disse ao Professor foi o seguinte:

 

- A competição exige que cada jogador leve seu joystick e o encaixe no computador na hora da competição. O jogo será previamente indicado, e vencerá o que conseguir mais pontos em três tentativas!

 

Beto tomou fôlego, aproveitando para ver se os outros tinham entendido:

 

- Pois bem, a disputa vai ser realizada no pequeno salão de recreação do grêmio estudantil da Escola Técnica, onde estará o computador principal, mas como ele é pequeno, o sinal vai ser retransmitido para um segundo monitor colocado no anfiteatro, juntamente com o som pelo sistema de alto-falantes.

 

Neste ponto, o Professor Ventura havia interrompido o rapaz e feito a pergunta que levou-o a concluir que era possível fazer o rapaz ganhar!

 

- O sinal para o monitor será transmitido por um cabo relativamente longo! Nesse fato é que estava justamente a possibilidade do Paulinho ganhar, segundo o Professor Ventura.

 

Mas, o que poderia fazer o professor Ventura em termos de eletrônica, para ajudar Paulinho a ganhar a competição contra o "invencível" Renato?

 

O Professor, como sempre, foi ao quadro negro e iniciou suas explicações:

 

- A idéia é muito simples, se bem que haja um ponto crítico a ser superado, e que depende exclusivamente de vocês! O que vamos fazer é o seguinte: vamos "preparar" o joystick que o Paulinho vai usar, colocando nele um receptor de controle remoto e também um pequeno transmissor.

 

- Puxa! Um transmissor! - exclamou Cleto que se impressionou antes mesmo de saber tudo. O professor continuou:

 

- Para controlar esse receptor vamos usar um transmissor que estará ligado a um segundo joystick!...

 

- Já sei, o jogo será na realidade controlado pelo segundo joystick à distância e não pelo que o Paulinho vai usar! O Paulinho vai usar um joystick "fantasma"! Ele simplesmente vai fingir que o usa! Certo?

 

- Isso mesmo! Você tem toda razão! E aí está o ponto crítico!

 

- Ponto crítico? - interromperam os três.

 

O professor sentou, voltou-se calmamente para os três, e perguntou:

 

- Sim! Quem vai controlar o verdadeiro joystick? Tem de ser alguém que seja capaz de vencer o Renato!...

 

Os três se olharam meio desapontados, pois nem Beto e nem Cleto tinham habilidade para isso. No entanto, antes que alguém dissesse alguma coisa, Cleto teve um estalo! Era a solução:

 

- Já sei! Meu primo Maurício! Ele foi campeão diversas vezes, e ninguém o conhece aqui na cidade! É uma "fera" no videogame! Se há alguém que pode vencer o Renato, é ele!

 

- Mas onde ele está? Como fazer com que ele ajude? - Beto ainda tinha muitas dúvidas.

 

- Ele mora em Frutópolis, não muito longe daqui! Basta eu telefonar, e certamente ele vem, principalmente se souber do que se trata! Ele se diverte com esse tipo de "coisa"! É um cara "legal"!

 

Cleto se comprometeu em chamar seu primo Maurício, mas isso ficaria para depois; a conversa não terminou, pois o professor ainda tinha muito que explicar:

 

- Um pequeno transmissor, que será carregado pelo Beto ou pelo Cleto, vai permitir que se monitore o som do local da competição. A imagem nós pegamos num monitor "pirata" na minha saleta! Assim, o que vamos fazer é simples: vamos colocar seu primo Maurício na minha pequena sala de trabalho que é próxima, e por isso pode receber os sinais dos monitores por uma ligação clandestina ao cabo, e tomar o controle do joystick. Dessa forma, ele vai ver o jogo no monitor, ouvir o que se passa no local e ao mesmo tempo vai poder controlar o joystick do Paulinho, mesmo não estando lá!

 

- Puxa! O Paulinho está lá, mas não joga, apenas finge! Enquanto isso o Maurício, que não est  lá, controla o jogo e realmente participa! - Cleto estava entusiasmado. Mas, mais entusiasmado ainda estava o Paulinho:

 

- ... E vence o Renato! Puxa! Se der certo, vou "tampar a boca" daquele "cara" chato!

 

- Vai sim! tenha certeza, e nós vamos gostar disso, pois também não gostamos daquele sujeito! - completou Beto colocando a mão no ombro de Paulinho, que já  estava mais animado.

- Muito pretensioso! - concluiu Cleto.

 

O primo campeão de videogame chegou dois dias depois, e um dia antes da competição.

 

Era uma sexta feira e ele chegou à tarde depois de suas aulas. Maurício, o rapaz campeão de videogame, ficou muito animado quando Cleto lhe contou com mais detalhes o que pretendiam. Neste intervalo o Professor Ventura, Beto e Cleto haviam se encarregado de preparar o equipamento, especificamente o joystick com o receptor e também o transmissor.

 

- Vamos operar na faixa de VHF, numa freqüência pouco usada para evitar problemas! - explicou o professor Ventura ao desenhar o diagrama e dimensionar os componentes – O receptor deve ser bem estável, por isso vamos usar um super-heteródino controlado por cristal. O transmissor também vai ser controlado por cristal. Uma potência no transmissor de pelo menos 2 watts garante recepção à curta distância em qualquer posição, e com antena curta, pois não podemos ter uma antena visível. A alimentação é retirada do próprio video-game, o que limita também a potência de que podemos dispor para o circuito.

 

Beto e Cleto ajudavam na montagem. O professor ainda explicou:

 

- Temos aqui as ligações de controle do joystick original. Vamos substituir os contactos do joystick por reed-relés que vão ser controlados pelo receptor. O transmissor é digital, e cada canal vai ser comandado pelo contacto equivalente do joystick, que o Maurício vai usar.

 

Para fazer os testes de funcionamento, eles arranjaram um videogame semelhante ao que seria empregado na competição e até o próprio jogo. A uma distância de até 50 metros o controle remoto operava sem problemas, sendo seu sinal recebido no joystick preparado, que respondia silenciosamente aos comandos.

 

Uma grande publicidade havia sido feita na escola, com cartazes que apregoavam que o vencedor receberia um troféu e um prêmio, um valioso aparelho de som. A industria local de sucos havia entrado como "patrocinadora" comprando o aparelho. Os demais prêmios também eram atraentes, mas o primeiro é que realmente valia!

 

Renato contava vantagens e sempre que cruzava com Paulinho aproveitava para desmoralizar o rapaz:

 

- Vou acabar com você,"moleirão"! Vou fazer pelo menos 10 vezes mais pontos e sou um "mico de circo" se você não ficar em último lugar na competição!

 

Paulinho apenas dizia:

 

- Vamos ver! Vamos ver!

 

Enquanto isso, Paulinho treinava no uso do equipamento, aprendendo a mantê-lo em posição, e a fingir uma agilidade maior nas manobras.

 

Um dia antes da competição chegou Maurício, primo de Cleto e "ás do videogame". Uma conversa preliminar revelou a verdadeira natureza do rapaz. Ele explicava:

 

- Na verdade, eu não me dedico tanto quanto vocês podem imaginar a essa coisa! É simplesmente uma habilidade natural, como alguém que desenhe bem, que toque um instrumento musical bem. Cada um tem sua habilidade e não se pode esperar que seja o melhor em outra coisa que não seja aquilo!

 

- Puxa! Pensei que você jogasse videogame o dia inteiro! - estranhou Cleto.

 

- Muito pelo contrário! Existem coisas muito mais importantes para se fazer! O Videogame é para mim uma espécie de relax, e eu apenas o uso no máximo uma hora por dia!

 

- Só uma hora? - estranhou Beto, chegando até a duvidar por um instante da habilidade do rapaz.

 

- Sim! Penso que isso é como uma bicicleta que percorre sempre a mesma trilha todos os dias, marcando no chão de tal maneira o sulco das rodas, que o dia que você quiser, não consegue seguir outro caminho!

 

- É verdade! - confirmou o professor Ventura - Sempre disse para meus alunos que fazer operações repetitivas em excesso leva a uma habilidade fora do comum nessas operações, e um videogame é isso. Mas, no dia que você precisar fazer algo diferente pode ter dificuldades em se adaptar a novas situações!

 

- Em suma: pode ficar "bitolado"! - conclui Cleto em palavras mais claras.

 

- O importante do videogame para mim, - continuou Maurício - é que eu relaxo, deixando de pensar e outros problemas quando estou jogando. Isso é importante para quem deseja se "desligar" por algum tempo mas, é‚ óbvio que não deve ser usado para se "desligar" para sempre!

 

- Um belo argumento para se usar contra o Renato! - interferiu Paulinho.

 

- O "desligadão"! - já apelidou Cleto.

 

- Eu diria "bitoladão"! - intercedeu Beto.

 

- Mas, o que importa é que tenho uma habilidade natural para isso e ela pode ser útil para algo mais! Vamos ver esse seu tal equipamento.

 

O professor explicou tudo para o rapaz que, possuindo um grau de inteligência bem elevado, não teve dificuldades em assimilar tudo. Levado a sala ao lado, ele manejou o joystick, com habilidade, usando um monitor de TV separado, enquanto Paulinho fingia na sala principal que estava controlando o jogo.

 

Os resultados foram convincentes! No "treino", uma quantidade enorme de pontos foi conseguida logo na primeira tentativa, e isso com um jogo que Maurício não estava ainda habituado!

 

- Puxa! Além de convencer totalmente, nesse simples "treino", você fez pelo menos o dobro dos pontos que o Renato se gaba ter conseguido fazer na sua melhor marca! - comentou Beto entusiasmado.

 

- Vai ser uma surra! - completou Cleto.

 

Para não despertar suspeitas, no mesmo dia o Professor Ventura foi à escola com Maurício, apresentando-o a algumas pessoas como um aluno particular que precisava de algum reforço em física, e que ele daria as aulas em sua saleta. Chegou a pedir que não fosse incomodado quando isso ocorresse. Maurício concordava com o professor.

 

- Ele vai ter uma prova muito difícil na próxima semana! - explicava o Professor Ventura.

 

No dia da competição, uma grande quantidade de alunos se aglomerava no anfiteatro, enquanto que alguns poucos privilegiados e os competidores estavam na sala dos videogames. Paulinho como competidor, escalou Beto como seu "treinador" de modo que ele podia ficar ao seu lado na prova. Isso facilitava as coisas, pois Beto tinha o transmissor de som e, através dele, podia dar algumas "instruções" ao Maurício na sala adjacente.

 

Ninguém estranhou quando o professor Ventura chegou com o aluno "desconhecido" e foi para sua sala. Na porta ele colocou o pequeno aviso de "não perturbe" e se trancou por dentro com o rapaz.

 

O sistema funcionava perfeitamente!

 

Na sala de competições, o videogame era testado e sua imagem já saia nos monitores do anfiteatro, assim como o som do microfone do árbitro. O mesmo ocorria com o televisor do professor Ventura que, na sala, "pegava" a imagem do monitor. O som vinha do pequeno transmissor que Beto carregava no bolso, e que era recebido num "scanner" e monitorado por meio de fones, para maior segurança.

 

Com os competidores todos presentes, a competição teve início com as instruções do árbitro:

 

- Vou chamar por ordem de inscrição, e cada um ter  três oportunidades no jogo! Valerá para a competição, o valor maior conseguido nestas tentativas.

 

O jogo era uma corrida em que, o competidor dirigia um carro e enfrentava diversas situações, como a ultrapassagem de outros veículos que trocavam constantemente de pista, manchas de óleo capazes de causar derrapagens e até obstáculos mais sólidos, como barreiras que podiam significar o fim de uma das três "vidas" de que dispunha o jogador.

 

O árbitro chamou então o primeiro candidato que em 3 tentativas, cada uma levando de 3 a 4 minutos conseguiu 18 mil pontos.

 

- Raios! Já consegui marcas melhores! - reclamou o Humberto, saindo meio desapontado.

 

Os seguintes tiveram as mais diversas marcas chegando o melhor aos 70 mil pontos, até que o Renato foi chamado.

 

- Vai ser fácil! Já superei muitas vezes os cem mil pontos nesse jogo!

 

E, de fato, o rapaz era bom. Quando perdeu a primeira "vida" já estava na terceira fase do jogo com mais de 40 mil pontos. Os outros participantes olharam desanimados quando ele perdeu a segunda "vida" com 65 mil pontos.

 

Quando ele passou dos 70 mil pontos, a melhor marca até então, o rapaz começou a "esnobar" sua habilidade com algumas manobras arriscadas.  Seu "treinador" sorria com desprezo, atrás do jogador convencido, e constantemente exclamava:

 

- Muito fácil! Muito fácil!

 

Renato chegou aos l30 mil pontos, quando perdeu sua ultima vida, isso com quase 25 minutos de jogo! Na segunda tentativa, sem muito esforço ele chegou aos ll0 mil pontos e na terceira ele se superou chegando aos 145 mil pontos!

 

Todos tiveram de aplaudir quando o rapaz, orgulhoso, cedeu sua posição ao competidor seguinte.

 

Um após outro, os competidores foram deixando desanimados o videogame, não conseguindo chegar aos 70 mil pontos que era a segunda melhor marca, depois de Renato.

 

- Pode parar, seu juiz! - dizia ele, orgulhoso e com desprezo. - Não adianta! É só passar os prêmios aqui para o "maiorial"!

 

Chegou então a vez do Paulinho. Mais uma vez Renato resolveu perturbar o garoto:

 

- Ah! Este eu quero ver! Duvido que passe da primeira fase nas três tentativas! - e riu juntamente com seu "treinador".

 

Paulinho não se perturbou e, depois de encaixar seu joystick no videogame, avisou o árbitro que estava pronto. Ao mesmo tempo, Beto avisava Maurício pelo transmissor que estava tudo pronto. Maurício se posicionou diante do televisor com o seu joystick ligado ao pequeno transmissor de controle remoto que, segundos antes o professor alimentou. Um led vermelho no joystick do Paulinho informou Beto ao seu lado que estava tudo OK. Beto transmitiu a informação ao professor Ventura.

 

O jogo começou:

 

Inicialmente Paulinho se mostrou meio atrapalhado no manejo do joystick apesar do treinamento, mas ninguém notou. Renato observava tudo com um sorriso sarcástico, mas também não notou nada de anormal.

 

No entanto, já no meio da primeira fase, Paulinho se desinibiu e até se mostrou descontraído diante do ar surpreso do adversário. O "carro" controlado pelo jogador se desviava dos obstáculos com extrema facilidade, mostrando muita habilidade! A primeira fase da primeira tentativa foi vencida com extrema facilidade e no final Paulinho, agora totalmente descontraído ainda deu uma piscada para o Renato. O adversário estava perplexo!

 

Na segunda fase, com Maurício no comando, algumas manobras, até que arriscadas e de muita habilidade, surpreenderam os assistentes que não puderam deixar de soltar alguns "Ohs" de admiração.

 

Paulinho terminou a terceira fase com 75 mil pontos, sem perder nenhuma "vida" o que fez Renato se contrair e ficar completamente calado!

 

Na quarta fase Paulinho conseguiu chegar aos 100 mil pontos deixando agora Renato muito preocupado. Todos olhavam espantados e os comentários no anfiteatro eram desencontrados:

 

- Estava "escondendo o jogo"! - dizia um.

 

- Puxa! Ele é bom mesmo! - dizia outro.

 

- Isso mesmo! Agora vai "acabar" com Renato e sua turma! Não gosto mesmo daquele sujeito e isso vai ser bom! - concordava um terceiro.

 

Na quinta fase, Paulinho conseguiu superar a melhor marca de Renato, sem perder uma "vida" sequer! Renato estava perdido e sabia disso! Tentando se esquivar dos olhares sarcásticos dos outros, foi se afastando e acabou por ficar quase na saída da pequena sala. Não acreditava no que via, mas também não queria ir embora!

 

Paulinho passou a sexta, sétima, oitava e nona fases, chegando facilmente aos 300 mil pontos e sem perder uma só vida! Todos estavam absolutamente espantados, e a cada jogada arriscada em que ele passava, um obstáculo difícil davam um "olé", olhando para o Renato.

Nos 400 mil pontos, mostrando que se quisesse, iria "até o fim", Paulinho deu um sinal, avisando Beto que fizesse Maurício parar.

 

- Agora chega! Já está ganho e eu estou entediado! Está muito fácil! Vamos acabar com isso.

 

O rapaz soltou o comando, fazendo Maurício o mesmo. Foram então perdidas de modo automático as três vidas, mas ficando patente que isso ocorreu porque Paulinho deixou!

 

- Todos aplaudiram!

 

Paulinho informou então que abria mão das outras duas tentativas que teria direito!

 

- Uma já é suficiente!

 

Ficando claro que seria impossível alguém superar aquela marca, os três competidores seguintes desistiram e Paulinho foi declarado vencedor.

 

- O vencedor! - declarou o árbitro entregando o troféu.

 

Renato já tinha desaparecido quando isso ocorreu e o professor Ventura rapidamente recolhia o equipamento na sua sala.

 

Aplaudido pelos companheiros, Paulinho foi carregado triunfalmente pela escola, enquanto Cleto pegava o joystick "preparado" e rapidamente saia do local. O professor Ventura, Beto, Cleto e Maurício num canto observavam tudo:

 

- Sucesso! Conseguimos, ou melhor o Maurício.

 

- Eu não! - disse o rapaz - Apenas fiz uma pequena parte do "serviço" que, na realidade, foi planejado e executado por vocês! - protestou Maurício.

 

Paulinho, ao passar carregado diante deles, piscou os olhos em agradecimento.

 

Quanto a Renato, que derrotado havia se afastado do grupo, ainda observava tudo a distância, foi provocado "de longe" por Paulinho:

 

- Que tal agora uma competição "de verdade", uma olimpíada de matemática?

 

Todos riram e Renato nem esboçou resposta. Todos sabiam que o rapaz era um péssimo aluno nesta matéria, que Paulinho dominava tão bem.