- Dois amplificadores, de faixas de frequências passantes diferentes, foram usados para a reprodução de um mesmo som. Um deles tinha apenas a faixa que podemos ouvir, mas a reproduzia sem distorção. O outro tinha uma faixa muito mais ampla, estendendo até os 40 ou 50 kHz, muito além de nossa capacidade auditiva, e também operava com grande fidelidade.
- Posso imaginar os resultados! - comentou Beto, antecipando o que o professor Ventura iria dizer.
- Pois bem! Mesmo reproduzindo sons que não podem ser ouvidos, o de faixa mais larga se mostrou mais "rico" na reprodução, com o que foi denominado de um "colorido" mais puro para o som. O som era mais "agradável" ou natural! Para o outro, o comentário foi que seu som parecia mais "duro" ou artificial!
- É por esse motivo que, mesmo que a gente não possa ouvir frequências acima de 16 000 Hz ou 18 000 Hz, os amplificadores comerciais são vendidos com respostas que vão muito além disso! - concluiu Cleto.
O professor concordou:
- Exatamente! A resposta acima do que podemos ouvir garante a reprodução das harmônicas que dão o chamado "colorido" ao som, tornando-o mais próximo do real!
- Puxa!
Beto achava que aquilo era o bastante para convencer o amigo:
- E então, convenceu-se que existem aquelas "nuances" do som que um ouvido treinado pode perceber, e que mesmo com um amplificador que chegue aos 40 kHz teremos harmônicas ainda mais elevadas que podem faltar! Elas seriam suficientes para que um ouvido treinado as reconhecesse?
A resposta do outro mostrava, entretanto, que ele não havia mudado de opinião:
- Duvido!
Já iam se pegar em nova discussão, quando o professor Ventura separando-os fez uma sugestão:
- Por que não fazemos uma prova?
Os dois rapazes pararam quietos e pensaram. Estava ali uma boa idéia para tirar qualquer dúvida, mas que tipo de prova poderiam fazer?
O professor tinha a resposta para tudo e não seria muito difícil "bolar" algo que serviria também para tirar uma dúvida que era dele:
- Equipamento fiel, nós temos: um potente amplificador de 150 watts com MOSFETs de potência e com faixa passante de 16 a 100 000 Hertz ,distorcendo apenas 0,001%. Uma caixa acústica de excelente fidelidade também! Falta apenas a fonte de sinal e o "ouvido treinado"!
Beto concordou, pensou um pouco e, finalmente, encontrou o que faltava para a experiência:
- A fonte de sinal nós também temos, meu sintetizador eletrônico. Quanto ao ouvido treinado, conheço um, mas não está aqui na escola!
O Professor Ventura e Cleto perceberam então no que Beto estava pensando e completaram ao mesmo tempo:
- Epaminondas Portentoso!
Sim, nada melhor do que um músico, um tocador de tuba orgulhoso de sua habilidade como "mais potente tuba" de todas as bandas da regão, para ter a sensibilidade e competência exigida para a prova.
Cleto já ía sair correndo atrás do Epaminondas quando o Professor Ventura o impediu:
- Espere aí! Onde pensa que vai?
- Ora, convidar o Epaminondas para nos ajudar no teste! Ele vai ficar orgulhoso!
O professor pediu para Cleto se acalmar, e fazendo-o sentar-se explicou:
- Você está fazendo as coisas de modo errado! Se você convidar o Epaminondas para nos ajudar no teste, com seu ouvido "treinado", ele orgulhoso como é de seu instrumento não eletrônico, e da música tocada da forma tradicional, mesmo que não sinta diferença alguma, não vai admitir isso!
- É verdade! - concordou Cleto mais calmo.
Mas, o professor sabia como fazer a "coisa" da maneira certa!
Ele sugeriu então que se fizesse um teste, mas sem o Epaminondas saber. O músico faria o julgamento, mas sem ter consciência disso, de modo que não interferiria no resultado! Determinaria, dessa forma, se haveria diferença ou não entre o som "vivo" de um instrumento, e o som "gravado" do mesmo instrumento!
- Mas como?
O professor sentou-se e calmamente explicou o que pretendia:
- Ouçam!