- Podemos ficar escondidos do lado oposto da rua, onde existe um terreno baldio, e observar as reações do Epaminondas!
- Vai ser interessante! - concluiu o professor Ventura.
Os testes com o equipamento, antes de serem instalados, mostraram que não era possível distinguir o som sintetizado da tuba, de uma tuba verdadeira, pelo menos para eles!
- Perfeito!
Na casa, tudo ficou oculto, pois não queriam que o Epaminondas visse que o som era "eletrônico". Ele deveria deduzir isso, se fosse possível, e assim comprovar as teorias de Beto ou de Cleto em relação à reprodução eletrônica.
Assim, colocaram a caixa na sala da frente, que deveria ficar com a janela aberta na hora que o Epaminondas passasse, mas oculta por baixo de um "falso sofá" e passando os fios pelos cantos, a ligaram ao equipamento que ficava oculto numa saleta dos fundos (que ficaria fechada!).
Estava tudo pronto para a comprovação.
Logo pela manhã do dia seguinte, dentro do horário previsto, lá vinha o Epaminondas de sua casa, carregando sua inseparável tuba, assobiando alegremente uma marcha de John Philip Sousa, rumo à barbearia. A presença da tuba era facilmente explicada: após seu trabalho, tocaria na banda.
Ao passar diante da casa, ele reparou levemente que a placa de "vende-se", finalmente, tinha sido retirada e a janela da frente estava aberta. Olhou com curiosidade e pensou satisfeito:
"- Ótimo! Foi vendida! Mas, quem serão os novos moradores?"
Reduziu a velocidade para dar uma olhadinha "indiscreta" para ver se via e conhecia alguém, pois parecia que estavam fazendo a limpeza do imóvel antes da mudança.
Como não viu nada, acelerou e seguiu normalmente seu caminho. Entretanto, alguns passos além, um som muito familiar ao músico saiu diretamente da janela da frente da casa:
- Pá ! Póó! Puumm! Póo!...
O músico engasgou, tropeçou, arrepiou-se todo e quase deixou cair a sua tuba! Imediatamente encolheu-se, e parou!
Antes de se voltar, novamente, a sequência inconfundível das notas de uma tuba foi emitida, e com uma potência que surpreendeu o músico!
- Pá ! Póó! Puum! Póo!...
Epaminondas ainda paralisado, saiu do transe e, voltando-se vagarosamente, abriu um grande sorriso, comentando baixinho:
- Tuba! Um baixo-tuba! E o "cara" é "potente"! Quem será?
Caminhou de volta lentamente, espiou pelo muro, com muita curiosidade, esperou um pouco mas nada!
- Parou! - comentou Epaminondas - Deixa pr lá! Depois eu descubro que é! Taí alguém que eu gostaria MUITO de conhecer!...
Seguiu em frente alegremente até que lhe ocorreu um terrível pensamento:
- Caramba! Se esse cara for mesmo bom como parece, minha posição na banda está em "perigo"!
Agarrando firmemente sua tuba, sua expressão não era mais tranqüila, mas muito preocupada! O sorriso desapareceu, e Epaminondas Começou a suar! A perspectiva de perder seu lugar na "Gloriosa" Corporação Musical de Brederópolis pareceu-lhe terrível:
- É o fim do mundo! Preciso saber quem é esse "cara"!
Finalmente, abalado, cabisbaixo e suando lá se foi, rumo à barbearia, um músico muito preocupado. O professor Ventura, Beto e Cleto que estavam no terreno baldio acompanharam tudo:
- Percebeu que é eletrônico! Eu não disse? - comentou Beto.
- Não percebeu não! Se tivesse percebido, não estaria tão preocupado! - discordou Cleto.
- Calma! Ele realmente sentiu algo diferente "no ar", mas não podemos dizer o que é! - acalmou os dois, o professor. - Precisamos continuar com o teste.
Epaminondas, entretanto, estava sofrendo! Depois de cortar pelo menos dois clientes, pediu desculpas pelo nervosismo, fechou a barbearia e foi para casa. Na volta não deixou de dar uma espiada na casa vendida, que agora estava com a janela da frente fechada.
- Deve ter ido embora! Mas, quem será o "desgraçado"! - Epaminondas disse isso com raiva, disposto a descobrir quem seria o "atrevido, que estaria querendo tomar seu lugar na banda!"
" - Preciso me precaver!" - pensou ele, caminhando com pressa.