Continuou parado, como que esperando um novo toque. O modo como aquela "tuba" soou pareceu "esquisito demais" para o experimentado músico, mesmo estando um pouco abalado com sua presença.

- Vamos! Toque novamente! - disse ele baixinho sem se voltar, mas prestando muita atenção.

E a tuba eletrônica tocou novamente:

- Ahá ! - exclamou Epaminondas com um sorriso estranho. Em seguida, seguiu seu caminho.

- Desconfia de alguma coisa! - disse o Professor Ventura, observando o músico sumir na esquina.

- Eu não disse! - exclamou vitorioso Beto, olhando feio para Cleto.

- A "coisa" não terminou ainda! Vamos descobrir o que o Epaminondas acha da tuba.

Encontraram Epaminondas trabalhando normalmente na barbearia. Beto e Cleto sentaram nas cadeiras de espera e, depois de meia hora o freguês saiu, contente como sempre. O músico também era perfeito como barbeiro, e se orgulhava disso.

- O próximo! - chamou finalmente Epaminondas, como barbeiro.

Beto sentou-se na cadeira, enquanto Cleto ficou na espera. Fingindo ler uma revista, ficou apenas observando. Beto puxou a conversa, enquanto fazia seu corte de cabelo. Conforme combinado, o Professor Ventura também foi a barbearia e, depois de cumprimentar, com certa surpresa, os rapazes e o barbeiro, sentou-se para esperar sua vez.

- Já soube que venderam a casa do Vieira, "seu" Epaminondas?

Ao ouvir aquilo, ele tremeu, mas não perdeu o controle:

- Foi bom vocês dizerem isso! Por acaso sabem quem é o novo morador?

Epaminondas parou de cortar o cabelo de Beto. Percebia-se que estava muito ansioso pela resposta.

- Dizem que é um músico. Será verdade? - respondeu Beto, fingindo indiferença.

Epaminondas não se abalou:

- Disso eu sei! Mas, não se trata de um músico comum!

- Não?
- Isso mesmo! Ouvi o cara tocar, na verdade me pareceu muito estranho o som do instrumento! - comentou Epaminondas, continuando a manejar a tesoura com habilidade.

- Estranho por que? Afinal que instrumento ele toca?

- Tuba, ou melhor tenta "imitar" uma tuba! Acho até que tem algo a ver comigo, pois tocou justamente na minha passagem, e quando procurei-o, escondeu-se!

- Ora, como é possível distinguir o som de uma tuba de verdade de uma "imitação de tuba"? - Cleto, já preocupado, interferiu na conversa.

Epaminondas parou, e orgulhosamente, para demonstrar que tinha um ouvido "diferenciado" explicou:

- Aquilo não é uma tuba! Parece uma gravação, ou algo "artificial", pois é um som mais "duro". Uma tuba de verdade tem um som mais "rico"!

Beto olhou para Cleto com "ar vitorioso".

- Não entendo! Como um som pode ser "mais rico"? - na verdade Beto estava querendo tirar mais informações do músico-barbeiro.

- Há algo diferente! Não é possível descrever, mas ontem quando eu ouvi aquele som, pude perceber claramente que era "artificial" é isso! Artificial! - Epaminondas, parado, olhava fixamente para o nada, como tentando "sentir" o som que procurava descrever. No entanto, isso não era possível, mas Beto e Cleto tiveram a nítida sensação de que, para o músico, as mínimas diferenças entre um som artificial e natural, principalmente de uma tuba, eram sensíveis.

O professor Ventura, que até então só ouvia a conversa, pode finalmente intervir:

- Está provado! - disse ele finalmente - Que um ouvido treinado pode distinguir as diferenças que existem entre a reprodução de um instrumento num equipamento eletrônico e o próprio instrumento, porque elas realmente existem! E devemos essa prova ao Senhor Epaminondas, não é verdade?

Epaminondas, surpreso, não entendia o que estava se passando. O professor Ventura explicou então o que haviam feito. O músico não se aborreceu, principalmente pelos elogios que o professor fez:

- Somente um ouvido apurado como o seu poderia nos ajudar a desvendar esse mistério!

Orgulhoso, o tubista pode então tirar suas conclusões: