Cada vez menos encontramos peças para reparação de equipamentos eletrônicos antigos. Mesmo os tipos mais modernos utilizam componentes "descartáveis" que forçam o usuário a fazer a toca do equipamento depois de que o prazo de garantia vence e ocorre algum problema. Como resolver o problema da falta de peças para reparação, principalmente nas cidades afastadas? Como atender a um cliente que não deseja se desfazer de um equipamento antigo, quer seja por motivos econômicos, quer seja por motivos sentimentais?

 

Obs. Este artigo é de 1998 e hoje o problema persiste com a tendência cada vez mais de se descartar equipamentos que quebram, trocando por outros de tecnologia avançada. No entanto, longe dos grandes centros as oficinas de reparação ainda têm muito trabalho e é para elas que este artigo foi escrito.

 

Os técnicos reparadores que acompanham nossos artigos e que também contribuem com sua experiência descrevendo defeitos e soluções que encontram no seu dia a dia, cada vez mais estão sendo impedidos de exercer sua função normal pela falta de peças no mercado.

Mesmo nos grandes centros, as lojas de componentes diminuem, e cada vez mais se torna difícil encontrar qualquer componente para reparação. Cresce a quantidade de equipamentos abandonados por falta de componentes e diminui o ganho dos que ainda poderiam prestar algum serviço recuperando equipamentos que podem funcionar por um bom tempo.

Como solucionar este problema?

As revistas especializadas de outros países como, por exemplo, as americanas, possuem entre seus leitores não só técnicos reparadores como colecionadores que estão sempre em busca de peças de um equipamento antigo que desejam manter em funcionamento ou simples colocá-lo em tal condição para fazer parte de uma coleção.

A revista Popular Electronics (*), por exemplo, mantém até uma seção de Rádios Antigos em que não são apenas modelos de 20 ou 30 anos que são focalizados, mas tipos muito mais velhos.

 

(*) A revista Popular Electronics que fechou, logo depois de escrevermos este artigo é um exemplo de como este tipo de literatura está em decadência. Hoje os artigos que encontramos sobre o assunto estão na Internet.

 

Na edição de Fevereiro de 1998, por exemplo, um receptor regenerativo de 3 válvulas de 1924 é focalizado com atenção num artigo que mostra que este tipo de equipamento tem um valor muito especial para os que entendem.

Mesmo nós, em algumas cidades do interior, temos vistos velhos rádios valvulados da década de 50 ainda em bom funcionamento e que são muito bem tratados por seus donos! Fale em trocar estes equipamentos por um "som" moderno com CD e FM e veja qual é a resposta!

Tudo isso mostra que o mercado de componentes para equipamentos antigos existe, mas sua modificação de forma está trazendo dificuldades para os técnicos.

Como obter componentes para tais equipamentos se as lojas não existem mais?

 

AS SOLUÇÕES

Nas revistas americanas é comum vermos relações enormes de lojas que vendem componentes pelo correio. Os estoques destas lojas não incluem apenas os componentes modernos, mas também uma enorme quantidade de componentes antigos, principalmente válvulas.

Já falamos destas empresas que vendem pelo correio e até temos a Mouser como anunciante de nosso site, sugerindo que os leitores que realmente precisam de componentes utilizem este meio de compra.

Infelizmente as tentativas de interessar muitos de nossos atacadistas a fazerem o mesmo em nosso país não tem dado resultados satisfatórios, mas continuamos firmes no propósito de encontrar alguém que possa socorrer os leitores que precisam de peças antigas.

Mas, uma solução interessante que tem sido adotada por muitos dos leitores é o canibalismo de que já falamos em outras oportunidades nesta revista.

A ideia é guardar qualquer aparelho "sem conserto" ou simplesmente que tenha um de seus pedaços achado em algum lugar para fazer o aproveitamento de seus componentes.

Existem até técnicos que colocam anúncios em jornais de suas localidades comprando aparelhos fora de uso como rádios, aparelhos de som e televisores, mesmo sem funcionar simplesmente para manter um estoque de componentes.

É claro que não se compra qualquer aparelho deste tipo para aproveitar resistores e capacitores.

A escolha de um equipamento ou placa para compra ou mesmo para ser levada para oficina numa doação exige uma boa dose de percepção do técnico que deve ver se existe a possibilidade de se aproveitar algum componente mais crítico num futuro trabalho.

A atenção especial deve ser dada aos seguintes tipos de componentes que realmente são os mais críticos:

 

a) Circuitos integrados

Se bem que a possibilidade de que o aparelho tenha sido abandonado por um circuito integrado queimado e ele seja justamente o componente no qual "estamos de olho", dependendo do número de componentes na placa e do próprio número de integrados, o técnico pode arriscar, principalmente se a placa ou aparelho chegar "de graça".

 

Deixe os circuitos integrados montados nas placas retirando-os apenas quando necessitar deles. O trabalho de retirar um componente deste tipo é grande e não compensa o leitor gastá-lo para guardar o componente numa caixa (arriscando-se a não saber mais de onde ele saiu) para quem saber nunca precisa dele.

 

b) Válvulas

Se num aparelho existirem muitas válvulas será interessante guardá-las. As válvulas não estragam como tempo, mas sim enfraquecem com o uso. O máximo que pode ocorrer ao se tentar aproveitar uma válvula é verificar que ela está queimada ou ainda enfraquecida demais para funcionar. No entanto, na maioria dos casos, a válvula pode ser a solução de um problema. Lembramos que nos aparelhos valvulados mais de 50% dos problemas que ocorrem são as próprias válvulas.

 

c) Bobinas e transformadores

O principal teste é o de continuidade. As bobinas muito velhas ou que estejam em aparelhos que tomaram chuva ou foram guardados em lugares úmidos podem ter seus terminais oxidados ou mesmo os fios nos pontos de ligação aos terminais interrompidos.

 

Obs. Mais sobre o teste de componentes pode ser encontrado na nossa série de livros “Como Testar Componentes” – volumes de 1 a 4.

 

Se a bobina tiver em sua carcaça sinais da presença de um pó esbranquiçado isso pode ser sinal de corrosão interna e a bobina não deve ser usada.

Um ponto importante que deve ser considerado no aproveitamento de bobinas é a sua identificação. Deixa a bobina na placa original ou anote exatamente em que função e de que aparelho ela foi retirada para poder saber onde ela poderá ser usada novamente.

 

d) Transistores

A variedade de tipos de transistores é imensa. Assim, existe uma boa quantidade de procedimentos que possibilitam o aproveitamento deste tipo de componente.

- Leve em consideração a função num aparelho e tente aproveitar em outra na mesma função mesmo que de tipo diferente desde que outras características coincidam como a tensão de alimentação, a polaridade, potência, etc.

- Tenha a disposição um bom manual de equivalências para poder eventualmente fazer uma identificação do tipo que se pretende usar e se é equivalente ao original.

- Teste sempre o transistor para saber se ele está em bom estado.

- Identifique o transistor ou deixe-o na placa original para poder saber exatamente o que ele é ou o que faz.

 

e) Soquetes e suportes

Suportes de válvulas, radiadores de calor ou partes mecânicas são sempre úteis se estiverem em bom estado pois podem ser reaproveitadas numa reparação. Guarde-as com cuidado.

 

f) Peças mecânicas

Existe uma infinidade de partes mecânicas de aparelhos que podem ser reaproveitadas e que são muito difíceis de encontrar no mercado especializado.

Correias, roldanas e roletes de gravadores de som e video-cassetes ou toca-fitas são exemplos de peças mecânicas que os técnicos devem guardar com carinho.

Igualmente parafusos, separadores, caixas, tambores de sintonia, chaves, também devem ser guardados pelo técnico cuidadoso que, quando menos esperar vai precisar de uma delas para uma reparação.

 

g) Botões e pés

Botões (knobs) e pés de aparelhos podem ser úteis em reparações já que uma improvisação pode acabar com a aparência de um aparelho que, muitas vezes é conservado por muitos anos por um cliente cuidadoso.

 

h) Caixas

Dependendo do aparelho e do estado, é conveniente guardar caixas de determinados aparelhos. Acidentes que levem à quebra de rádios, pequenos gravadores e outros equipamentos podem ser reparados em alguns casos com cola, mas existem outros em que a caixa precisará ser substituída. O técnico terá sorte se tiver uma delas guardada em sua oficina.

 

O INTERCÂMBIO

Se o leitor é técnico, mas não é o único na sua cidade deve fazer amizade com os demais e propor a troca de peças reaproveitadas em caso de necessidade.

 

Obs. Hoje, na internet podem ser encontrados fóruns e grupos de discussão de técnicos reparadores. Procurem no Google.

 

Essa troca pode ser proveitosa para todos pois o estoque disponível passará a ser a soma de todos os estoques e a probabilidade de se encontrar uma peça que um cliente necessite num reparo será muito maior.

 

Se for possível fazer um intercâmbio com técnicos de cidades vizinhas isso será ainda mais proveitoso, pois a possibilidade de se encontrar um componente ou mesmo parte mecânica de um equipamento aumentará mais ainda.

Nestes dias de trabalho difícil os técnicos devem unir-se para poderem prestar um serviço melhor e mais do que isso, não verem sua profissão desaparecer.