Um dos problemas que o reparador novato de rádios transistorizados encontra é a identificação dos componentes. Quais são os componentes reais de um rádio e os representados num diagrama? Como saber que tipo de circuito está sendo usado num determinado tipo de rádio e quais são os defeitos que ele apresenta? Algumas explicações Sobre os componentes usados nos rádios e a forma como são instalados serão dadas neste artigo.

Obs. Este artigo é de 1983.

 

Muitos leitores pretendem aprender a consertar rádios transistorizados com finalidade de ganhar algum dinheiro extra que possa sustentar o seu hobby, hoje muito caro, que é a eletrônica.

Outros vão além, pois vêm na reparação de rádios uma forma de ganhar dinheiro para seu próprio sustento, pensando até em abrir um negócio próprio, estabelecendo-se assim como técnico.

Entretanto, aprender a consertar não é fácil e além de tudo exige paciência. Hoje em dia, os tipos de rádios que existem no comércio são muitos e as variações em torno dos circuitos típicos são mais numerosas ainda.

Isso obriga o técnico a uma capacidade de análise maior do que antigamente, no sentido de encontrar possíveis defeitos.

Mas, o principal problema que os técnicos novatos encontram é a identificação dos componentes que são usados nos pequenos rádios, e como “tirar” seu esquema quando ele não é disponível num manual, na própria caixa do rádio ou de outra forma. (figura 1)

 

Figura 1 – Componentes comuns
Figura 1 – Componentes comuns

 

Na verdade, os componentes usados em todos os tipos de rádio variam muito pouco, o que significa que dificilmente o leitor encontrará alguma peça diferente das que está acostumado a usar em nossas montagens.

O que varia bastante é a disposição destas peças, ou seja, as configurações encontradas.

 

Os componentes

Na figura 2 temos um desenho típico de um radinho transistorizado de uma faixa de onda (ondas médias), e que pode servir perfeitamente para o aprendizado do leitor que deseja se iniciar na reparação.

 

Figura 2 – Placa de um receptor
Figura 2 – Placa de um receptor

 

O diagrama deste rádio é mostrado na figura 3, por onde faremos uma análise conjunta.

 

Figura 3 – Diagrama do receptor
Figura 3 – Diagrama do receptor (clique na imagem para ampliar)

 

Conforme os leitores podem ver, nas etapas de áudio encontramos basicamente transistores, capacitores, resistores e diodos. Já nas etapas de RF, além destes componentes, temos as bobinas de FI, osciladora e de antena.

Vemos, em artigos diversos do site, que existem diversas configurações para as etapas de saída de áudio, algumas das quais fazendo uso de transformadores.

Se o leitor lembrar que a presença da ligação do alto-falante e do controle de volume permite identificar as etapas de áudio do radinho e que a presença dos transformadores de FI permite identificar as etapas de frequência intermediária, e que ainda a presença do variável, da bobina de antena e osciladora permitem identificar a etapa de entrada, as coisas ficam bem mais fáceis.

Deste modo, mesmo que o leitor não disponha do esquema do rádio que está sendo reparado, por estas “dicas" a identificação das etapas e dos componentes, e se precisar até o levantamento do circuito, se torna mais fácil.

Para os casos dos transformadores de FI deve-se ter sempre em mente a sua ordem de colocação dada pelas cores dos parafusos de ajuste:

1ª Fl - amarela

2ª Fl - branca

3ª Fl - preta

Lembramos que a bobina vermelha é a osciladora, e que em alguns casos as bobinas branca e amarela são intercambiáveis.

Tomando o nosso radinho AM de exemplo, a partir da própria placa do circuito impresso, podemos estabelecer o percurso do sinal conforme mostra a figura 4 e com isso identificar os componentes.

 

Figura 4 – Percurso do sinal
Figura 4 – Percurso do sinal

 

Este percurso é muito importante, pois na procura de um defeito com o injetor de sinais, ele determinará exatamente em que componentes devemos fazer sua aplicação.

Análise com o injetor de sinais O injetor de sinais é o instrumento de prova mais eficiente na reparação de pequenos rádios, juntamente com o multímetro.

Com estes dois instrumentos poderemos facilmente determinar as etapas que não funcionam, ou que o fazem de modo deficiente, e partindo daí, chegar aos componentes que devem ser substituídos.

No nosso caso, usamos o injetor de sinais fazendo a análise de dois circuitos independentes. Separamos os circuitos de RF dos circuitos de áudio, pelo componente que mais facilmente se identifica no rádio, qualquer que seja o seu tipo: o potenciômetro de controle de volume.

O procedimento típico que o leitor deve seguir, quando de posse de um rádio que não funciona, é o seguinte:

a) Coloque as pilhas no suporte e, com o multímetro, verifique em primeiro lugar se existe tensão de alimentação na placa quando o potenciômetro é ligado. (Este procedimento vale para rádios que não deem sina algum quando ligados, pois o estalido no alto-falante ao ligar já indica a presença de alimentação, podendo ser suprimida esta etapa.)

Se não houver tensão, deveremos suspeitar em primeiro lugar dos contactos das pilhas. Veja se não estão sujos, ou se o fio de ligação não está partido por dentro. Use o multímetro para isso, conforme mostra a figura 5.

 

Figura 5 – Usando o multímetro
Figura 5 – Usando o multímetro

 

Se o suporte de pilhas e os seus fios estiverem em ordem, veja se o interruptor do potenciômetro de volume não está com defeito. Ligue o multímetro antes e depois dos contactos do interruptor. Com o interruptor ligado deve haver a mesma tensão dos dois lados. (figura 6)

 

Figura 6 – Testando o interruptor
Figura 6 – Testando o interruptor

 

b) Constatada a alimentação do rádio, mas a falta de sinal, o primeiro ponto em que aplicaremos o sinal do injetor é no terminal central do potenciômetro de controle de volume, conforme a ligação mostrada na figura 7.

 

Figura 7 – Injetando o sinal no controle de volume
Figura 7 – Injetando o sinal no controle de volume

 

Se a reprodução do sinal for normal, ou seja, o alto-falante “apitar”, então o problema está nas etapas anteriores, de RF e FI, que deverão ser analisadas.

Mas, se não houver reprodução alguma, podemos então ter certeza que aIgo vai mal com as etapas de áudio.

Vejamos como proceder neste caso de não haver sinal algum:

Em primeiro lugar injetamos o sinal na base de Q4, ou seja, do primeiro transistor que o sinal encontra em seu percurso a partir daí. Se houver agora a reprodução, então o problema terá sido localizado: o capacitor C9 deve ser trocado.

Se ainda não houver reprodução, passamos o injetor para o coletor deste transistor (lembre-se que estamos tomando como base o rádio AM que demos o circuito).

Se o sinal aparecer, então o problema está neste transistor que deve ser substituído. Se não aparecer, então devemos verificar os transistores de saída (C5 e C6), o capacitor de saída C10 e o próprio alto-falante. Usamos o multímetro para medir as tensões.

Nos emissores dos transistores, se eles estiverem bons, assim como a ligação dos diodos, deve haver uma tensão em torno de 1,5 V. (figura 8)

 

Figura 8 – Tensões nos transistores
Figura 8 – Tensões nos transistores

 

Do mesmo modo, uma tensão de valor diferente a 3 V no alto-falante, indica que este se encontra aberto.

Para o caso do defeito não estar nesta etapa, ou seja, aparecer sinal quando injetamos no potenciômetro, então a análise é a seguinte:

Passamos a aplicar o sinal do injetor a partir do extremo superior do potenciômetro de controle de volume (terminal que vai ao diodo detector) em direção às etapas de entrada de RF.

Se neste ponto o sinal já estiver ausente, então o problema estará no potenciômetro, que deverá ser substituído, pois pode se encontrar aberto (não dando passagem ao sinal).

Se o sinal estiver presente, então, na figura 9 damos a sucessão de pontos de aplicação.

 

Figura 9 – Pontos de aplicação
Figura 9 – Pontos de aplicação (clique na imagem para ampliar)

 

Se o sinal desaparecer num dos pontos de uma das etapas de FI, então teremos localizado a região do problema. Deveremos agora fazer uma análise com o multímetro no sentido de encontrar o componente, ou componentes, ruins.

Medimos então as tensões nos diversos pontos da etapa.

Se a tensão for nula no coletor do transistor, deveremos verificar se existe continuidade na bobina de FI. Isso é feito desligando-se o rádio e com o multímetro na escala mais baixa de Ω. A resistência do enrolamento da bobina deve ser muito baixa, da ordem de no máximo alguns ohms.

Se for infinita então a bobina está aberta, devendo ser trocada.

Se a bobina estiver boa, mas a tensão for baixa e o transistor aquecer, é sinal que ele se encontra em curto, devendo ser trocado.

Se a tensão estiver normal no coletor, mas não na base, devemos verificar se a bobina na base do transistor não se encontra aberta, procedendo do mesmo modo que no caso anterior com o multímetro.

Conforme a etapa, os capacitores C3 e C4 também devem ser testados, pois podem estar abertos.

Se o sinal estiver presente até a primeira etapa de FI, então o problema estará na etapa osciladora/misturadora que tem por base o transistor Q1.

Aplicando o sinal na base de Q1 e sendo ele reproduzido, então teremos de verificar tanto as ligações como o estado da bobina de antena (L1), da bobina osciladora (vermelha) e da primeira FI (amarela), fazendo a prova com o multímetro na escala de ohms (Ω).

Se não houver reprodução quando aplicarmos o sinal na base de Q1, mas e!a ocorrer normalmente quando aplicarmos no coletor, então deveremos suspeitar do transistor.

 

Conclusão

Em princípio parece muito simples o procedimento indicado, mas muitas coisas mais podem acontecer como, por exemplo, o fato do problema não se localizar num componente em si, mas numa interrupção da placa de circuito impresso, num mal contacto de um resistor ou outro componente que dificilmente apresenta problemas.

Tudo isso deve ser levado em conta na análise, se nada for encontrado de início.

Deve-se também levar em conta que o rádio as vezes não funciona simplesmente por estar “mexido" na sua calibração, o que deve ser verificado antes de mais nada, com a ajuda do injetor. Um sinal anormalmente baixo logo na primeira análise pode indicar isso.

Tudo depende da prática que o leitor, sem dúvida, vai adquirir com o tempo, se realmente tiver vontade de se tornar um eficiente técnico reparador.