As medidas de segurança contra roubos e assaltos são cada vez mais sofisticadas tendo em vista o aumento da criminalidade, principalmente nas grandes cidades. O melhor mesmo para quem sai de casa a noite é ter recursos para fazer quem está de fora pensar que ainda ficou alguém para tomar conta. O que propomos neste artigo é justamente isso. Um simples e econômico aparelho que permite simular um televisor ligada como se alguém tivesse permanecido em sua casa quando de sua saída.

Muitas pessoas ao sair de casa deixam a luz da sala acesa, e até mesmo um rádio ligado para simular a presença de alguém e com isso desestimular um eventual invasor.

Entretanto, tais aparelhos ligados por longos períodos têm dois inconvenientes: em primeiro lugar eles significam um gasto de energia relativamente alto, caso específico de lâmpadas incandescentes (*), e em segundo lugar a não alteração do padrão de comportamento na residência, ou seja, uma lâmpada sempre acesa, ou um rádio sempre ligado podem levar o eventual intruso suspeitar de que realmente tais aparelhos só estão assim para enganá-lo.

(*) Na época em que o artigo foi escrito não existiam as lâmpadas econômicas e as lâmpadas de LEDs.

Um tipo de aparelho que não se sai deixando ligado é sem dúvida o televisor, e sua presença nestas condições numa residência pode ser facilmente percebida de longe pela claridade característica de sua imagem e pelas suas tremulações.

Entretanto, ter um televisor ligado somente para afugentar intrusos não é o que pretendemos, não só por segurança como por economia. O que propomos neste artigo é um aparelho que produz um padrão de luz semelhante ao produzido por um televisor ligado com as variações e tremores característicos e que deixado ligado pode perfeitamente enganar um intruso.

E, como se trata de aparelho para ser deixado ligado por longos períodos, de baixo consumo, não pesando na sua conta de energia no final do mês.

Simples de montar, ele não apresentará dificuldades ao leitor, por menos experiente que seja.

 

COMO FUNCIONA

A luz clara de um televisor pode ser obtida de uma lâmpada fluorescente pequena, enquanto que suas tremulações através de um circuito eletrônico especial.

Esta é a base de nosso aparelho, mostrado em blocos na figura 1.

 

Figura 1 – Diagrama de blocos
Figura 1 – Diagrama de blocos

 

Começamos por analisar o circuito do fim, ou seja, da lâmpada fluorescente.

Para acender uma lâmpada fluorescente é preciso uma tensão relativamente alta, da ordem de centenas de volts aplicada entre seus extremos. Na rede normal de energia, o acendimento contínuo é feito com a ajuda de um reator e de um starter.

No nosso caso queremos que a lâmpada produza pulsos de intensidades variáveis, pelo que teremos de usar em lugar do reator e do starter um transformador.

Ligamos então a lâmpada no enrolamento de alta tensão (220 V) deste transformador.

No enrolamento de menor tensão do transformador ligamos um SCR (diodo controlado de silício), componente bastante conhecido dos leitores que acompanham nosso trabalho. (figura 2)

 

Figura 2 – Circuito de disparo com SCR
Figura 2 – Circuito de disparo com SCR

 

Este componente funciona como uma chave que liga quando determinada tensão é aplicada em sua comporta (gate-G) ou então quando determinada tensão é aplicada entre seu anodo (A) e seu catodo (C).

O SCR será ligado num circuito de carga de um capacitor, conforme mostra a figura 3.

 

Figura 3 – O circuito de carga do capacitor
Figura 3 – O circuito de carga do capacitor

 

Temos então um retificador que, a partir da tensão alternante da rede local permite obter tensão contínua que carrega o capacitor (C1).

Com a carga, o capacitor tem a tensão entre suas placas (armaduras) aumentadas até o ponto de disparo do SCR. Na figura 4 mostramos a curva característica de carga de um capacitor que é função da "constante de tempo do circuito", ou seja, dos valores de R e de C.

 

Figura 4 – Curva de carga de um capacitor
Figura 4 – Curva de carga de um capacitor

 

Quanto maior for o produto R x C mais lenta será a carga.

Pois bem, quando o capacitor atinge a carga que dispara o SCR, este componente “liga" e com isso coloca em curto suas armaduras. O resultado é que toda a carga do capacitor se escoa para o enrolamento de baixa tensão do transformador, induzindo assim um pulso de alta tensão que aparece na lâmpada fluorescente.

O resultado final é um “flash".

Como o retificador está constantemente fornecendo energia ao capacitor, tão logo ele se descarregue e o SCR novamente abra, um novo ciclo se inicia.

Uma sucessão de pulsos e de ”flashes" é então produzida na lâmpada.

Ajustando convenientemente o potenciômetro P1 que controla o ponto do disparo do SCR, podemos obter uma sucessão de pulsos e de flashes da lâmpada que simulam o tremular da imagem de um televisor.

A presença do segundo transformador, na entrada do circuito é importante, pois ele influi diretamente sobre o circuito de carga' do capacitor, ora reduzindo sua velocidade ora aumentando, o que significa que as tremulações da lâmpada variam também de padrão, o que é essencial para se imitar uma imagem de TV.

Em suma, a lâmpada tremulará e variará de intensidade de brilho do modo exato que imita um televisor (visto do outro lado da janela!).

 

O MATERIAL

Os componentes empregados nesta montagem são todos comuns.

Começamos pela caixa que tem o formato sugerido na figura 5.

 

   Figura 5 – Sugestão de caixa
Figura 5 – Sugestão de caixa

 

Os componentes eletrônicos, na medida do possível devem seguir as especificações originais, mas sempre existem algumas possibilidades de alternativas que serão analisadas a seguir.

Para o SCR o tipo recomendado originalmente é o MCR106-4 ou MCR106-6 se a rede for de 220 V, mas equivalentes como o TIC106 ou IR106 podem ser usados sem alterações no circuito. Apenas para o caso do TIC106 será preciso ligar entre o catodo e o gate, um resistor de 1k ou 2k2.

O diodo D1 pode ser o 1N4004 ou qualquer superior da série da rede de 110 V e o 1N4007 ou qualquer superior da série se a rede for de 220 V. Os diodos BY126 ou BY127 também servem nos dois casos.

T1 é um transformador de qualquer tipo com enrolamento primário para 220 V. O secundário não importa pois não será usado, mas será conveniente especificá-lo para dar uma ideia do tamanho deste componente. Assim transformadores de 6, 9 ou 12 V com correntes entre 150 mA à 500 mA podem ser experimentados.

Já T2 deve ser um transformador com enrolamento primário para 110 V e 220 V e secundário de 9+9 ou 12+12 V com corrente em torno de 250 mA.

Valores próximos podem ser experimentados.

O resistor R1 é um componente de alta dissipação. Trata-se de um resistor de fio de 5 W. O valor ideal para a rede de 110 V é 680 Ω, mas pequenas alterações não impedem o funcionamento do aparelho. Já para a rede de 220 V o valor deve ser 1k2.

Alterações influem no brilho da lâmpada, mas em nenhum caso R1 pode ser menor que 470 Ω (110 V) ou menor que 820 Ω (220 V).

O outro resistor é comum de 1/8 W de 100 k ou valores próximos, e R2 de 33 k x 1/8 W.

O capacitor C1 é um componente importante nesta montagem. O valor mínimo recomendado é 470 nF, e o máximo 1 µF.

Este capacitor deve ser de poliéster com uma tensão de trabalho de pelo menos 250 V se sua rede for de 110 V e de peio menos 400 V se sua rede for de 220 V. Os valores de C1 influem na intensidade da luz produzida pela lâmpada e na frequência das tremulações que podem ser compensadas em P1.

O potenciômetro de ajuste (ou trimpot) P1 pode ter valores entre 2M2 e 4M7, dando-se preferência ao maior.

Temos finalmente a lâmpada fluorescente que deve ser de 15 W pequena, portanto, para que os pulsos produzidos pelo transformador tenham condições de ionizá-la.

Em alguns casos, conforme o transformador usado para T2 até mesmo lâmpadas maiores como de 40 W poderão funcionar e em outros casos até lâmpadas "consideradas queimadas" para o uso normal poderão acender (desde que o vidro ainda esteja inteiro, é claro!). O leitor pode experimentar.

Completa o material usado o cabo de alimentação do tipo já pronto com plugue 1njetado, a ponte de terminais que serve de chassi, o botão plástico para o potenciômetro, tudo comum.

 

MONTAGEM

Pela simplicidade do circuito, a versão sugerida é a que faz uso de uma ponte de terminais e que também é acessível aos leitores menos experientes.

As pontes de terminais não precisam ser “fabricadas" como as placas, pois podem ser adquiridas prontas em qualquer casa especializada.

As ferramentas usadas são as de sempre: soldador de pequena potência, ponta fina; um alicate de corte lateral; um alicate de ponta fina e chaves de fenda.

Temos então na figura 6 o diagrama completo do simulador de presença, onde os componentes aparecem por seus símbolos.

 

Figura 6 – Diagrama do simulador
Figura 6 – Diagrama do simulador

 

A montagem completa feita em ponte de terminais é mostrada na figura 7.

 

Figura 7 – Montagem em ponte de terminais
Figura 7 – Montagem em ponte de terminais

 

Veja que esta montagem está com os componentes externos “espalhados" para que se possa visualizar suas ligações. Na prática todos os componentes devem ser fixados na caixa de modo firme.

Para que o aparelho funcione como o esperado existem alguns cuidados que devem ser tomados durante a montagem e que são lembrados em sequência a partir de agora.

a) Solde em primeiro lugar o SCR tomando cuidado com sua posição, ém que a parte metálica fica voltada para baixo. Abra ligeiramente seus terminais para que se ajustem à ponte em posição de soldagem. Seja rápido pois o calor pode afetar este componente.

b) Para soldar o diodo o leitor deve atentar para sua posição (polaridade) já que a faixa que indica o catodo deve ficar exatamente como no desenho.

c) Solde depois todos os resistores. Cuidado para não trocar R2 por R3. Veja os valores pelas faixas coloridas.

d) Ao soldar o capacitor C1 tenha cuidado para que o excesso de calor não se propague pelos terminais vindo a afetar o componente. Seja rápido.

e) Depois faça as interligações entre os componentes da ponte e as ligações dos componentes externos. O potenciômetro é ligado por meio de pedaços curtos de fio comum, e os transformadores devem ser ligados pelos próprios fios terminais de seus enrolamentos. Cuidado com a identificação desses fios. As cores normalmente usadas para os fios são:

preto – 0 V

marrom – 110 V

vermelho – 220 V

f) Complete sua montagem com a soldagem do cabo de alimentação e também com a ligação da lâmpada fluorescente. Dois fios são usados para ligar a lâmpada ao transformador e estes fios são soldados diretamente nos terminais (pinos) da primeira. Veja que os fios devem fazer contacto com os dois pinos de cada lado da lâmpada.

 

PROVA E USO

Ligue o plugue na tomada de energia e ajuste P1. Conforme a posição do ajuste a lâmpada fluorescente deverá acender e tremular com pequenas variações de intensidade.

Procure o ponto que dê mais brilho e tremulações que lembrem as produzidas por um televisor ligado (quando você olha a luminosidade que ele produz através de uma janela)

Se a lâmpada não acender os prováveis pontos de problemas podem ser descobertos da seguinte forma:

Ligue o seu multímetro na escala de tensões até 150 V entre os polos de C1.

A sua agulha deve oscilar conforme você ajustar P1. Se isso não acontecer o problema estará no SCR. Se nenhuma tensão for notada o problema pode estar em T1, D1 ou R1. Verifique a continuidade do enrolamento de T1, e o estado de D1. (figura 8)

 

Figura 8 – Teste com o multímetro
Figura 8 – Teste com o multímetro

 

Se houver tensão e oscilação o problema pode estar em T2 e na lâmpada.

Se a tensão em C1 for muito baixa, veja também se o SCR não está em curto. Neste caso R1 deve aquecer-se ligeiramente.

Para usar o aparelho é só deixar ligado à noite na sua sala. Quem olha de fora terá a impressão que no local existe um televisor ligado e, portanto, alguém.

 

SCR - MCR106, C106, TIC106 ou IR106 - diodo controlado de silício para 200 V se a rede for de 110 V e para 400 V se a rede for de 220 V

D1 - 1N4004 ou 1N4007 - conforme a rede local

T1, T2 - Transformadores com 110 V de enrolamento primário e 9 ou 12 V de secundário com corrente entre 150 e 500 mA - ver texto

L1 - lâmpada fluorescente de 15 W - ver texto

PI - 4M7 - potenciômetro comum

R1 - 680 Ω x 5 W - resistor de fio se a rede for de110 V ou 1k2 x 5 W - resistor de fio se a rede for de 220 V

R2 – 33 k x 1/8 W - resistor (laranja, laranja, laranja)

R3 – 100 k x 1/8 W - resistor (marrom, preto, amarelo)

C1 – 470 nF - capacitor de poliéster (ver texto)

Diversos: ponte de terminais, cabo de alimentação, caixa para a montagem fios, etc.