Muitos leitores que tocam algum instrumento, ou fazem parte de conjuntos musicais, gostariam de montar seus próprios pedais de efeitos, ou mesmo caixas com efeitos especiais. Muitos desses projetos são simples, e não valem o preço que se cobra por um equipamento pronto. Assim, o leitor que tem alguma habilidade na eletrônica, pode ter como vantagem a possibilidade de montar seu próprio efeito eletrônico. Neste artigo descrevemos três efeitos e nada impede que o leitor, use os três com seu instrumentos ou conjunto musical.

Os instrumentos musicais como violões, guitarras, baixos, cavaquinhos, possuem timbres bem definidos, ou seja, as formas de onda das notas que produzem, estão determinadas pelo tipo de construção, material e dimensões, não podendo em princípio ser modificados na origem.

No entanto, como em muitos casos tais instrumentos são ligados a amplificadores e, portanto, passamos a ter sinais elétricos em lugar de acústico, as modificações se tornam possíveis, e isso é que torna muito mais ricos em possibilidades, aos conjuntos que fazem uso de recursos eletrônicos.

Se o leitor possui um instrumento musical que utiliza com um amplificador, a modificação do timbre com o acréscimo de efeitos é simples, e neste artigo damos três possibilidades.

 

Fuzz-Booster

O primeiro 'projeto é de um “deformador” de sinais, que modifica radicalmente o timbre, principalmente de instrumentos de corda, pela alteração da forma de onda do sinal, conforme mostra a figura 1.

 

Figura 1 – Alterações da forma de onda
Figura 1 – Alterações da forma de onda

 

Como o fuzz também amplifica o sinal, o denominamos de “booster”, e ele consiste numa etapa amplificadora, que introduz propositalmente uma deformação ou distorção do sinal. O fuzz-booster também é conhecido como distorcedor.

O fuzz-booster é intercalado entre a guitarra e o amplificador, e “disparado"por meio de um pedal, atuando pois, somente como certas notas.

 

Uáu-Uáu

Também chamado de Uá-Uá ou Wah-Wah, trata-se de um modulador que faz com que a intensidade de uma nota, sofra variações controladas por meio de um pedal.

Pela ação do pedal, a nota musical sofre uma modulação em amplitude, que pode então ser percebida como se o som fosse o mesmo que dá nome ao efeito, ou seja, um Uáu-Uáu.

Este instrumento é intercalado entre o instrumento musical e o amplificador.

 

Trêmulo

Nosso terceiro Projeto é de um trêmulo, que conforme o nome diz, torna o som “tremido" por meio de uma modulação em amplitude. Devemos diferenciar o trêmulo do vibrato, que provoca uma modulação em frequência, como na guitarra havaiana.

O trêmulo nada mais é do que um oscilador rápido, que controla o ganho de uma etapa amplificadora, por onde passa o sinal do instrumento. O disparo desse circuito, pode ser feito tanto por meio de um pedal, como por meio de uma simples chavinha.

Todos os projetos são simples, e podem ser construído com material facilmente encontrado no comércio especializado.

 

PROJETO 1 - FUZZ-BOOSTER (Distorcedor)

Este projeto provoca uma distorção dos sinais, alterando assim o timbre das notas.

Nosso circuito usa apenas um integrado 741, de fácil obtenção e é alimentado por uma bateria de 9 V.

Para o caso de conjuntos, em que temos a operação por longos períodos, a alimentação pode ser feita por 6 pilhas pequenas, o que garantirá uma autonomia muito maior de funcionamento.

Características

Tensão de alimentação: 9 V

Ganho: 1 000 vezes

Corrente de consumo: 5 mA (tip)

 

 

COMO FUNCIONA

O amplificador operacional 741 tem seu ganho determinado pela relação de valores entre R¡ e R1. Como temos um ganho elevado, o sinal de entrada "satura" o circuito, e o resultado é um corte ou “clipagem" que acaba por deformá-lo, causando assim a alteração desejada de timbre.

Isso é mostrado na figura 2.

 

  Figura 2 – Clipagem do sinal produzindo o efeito
Figura 2 – Clipagem do sinal produzindo o efeito

 

Uma idéia para os leitores que desejarem ir além, consiste em trocar o resistor fixo R2 por um potenciômetro de mesmo valor, e assim obter a regulagem do corte.

Esta regulagem já é feita de certa forma por P1, enquanto que P2 controla a excitação do amplificador, conforme suas características.

A chave S1 pode ser agregada ao pedal, sendo que na posição normal o sinal passa “direto" para o amplificador, sem distorções, e na posição acionada ela faz com que o sinal passe pelo distorcedor, antes de aparecer na saída.

 

MONTAGEM

Na figura 3 temos o diagrama completo deste primeiro projeto.

 

   Figura 3 – Diagrama do Fuzz-Booster
Figura 3 – Diagrama do Fuzz-Booster

 

A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso é mostrada na figura 4.

 

   Figura 4 – Placa para a montagem
Figura 4 – Placa para a montagem

 

O circuito 741, deve ser instalado em soquete para maior segurança. Como se trata de circuito de grande amplificação, e portanto sujeito a captação de roncos, as entradas de sinal devem der feitos com fio blindados e as malhas desses fios, ligadas à caixa metálica que servirá de blindagem total.

A chave S1 tanto pode ser manual, como pode ser acoplada a um pedal, conforme mostra a figura 5.

 

Figura 5 – Montagem do pedal
Figura 5 – Montagem do pedal

 

Para as entradas e saídas de sinal, devem ser usados jaques apropriados, conforme os cabos disponíveis e os instrumentos usados.

Os resistores são de 1/8 W com 5% ou mais de tolerância e os capacitores de cerâmica ou poliéster. Os potenciômetros podem ser lineares ou logarítmicos.

Para a alimentação use uma bateria de 9 V alcalina, conectando-a ao circuito com a polaridade certa.

 

PROVA E USO

Para provar o aparelho, basta ligar na entrada o instrumento musical, e a saída do distorcedor à entrada de um amplificador, usando um cabo blindado.

Ajuste o amplificador para o volume normal, e depois ao mesmo tempo em que tocar e acionar S4, ajuste P4 e P2 para obter o efeito de distorção desejado.

Comprovado o funcionamento, solte o pedal e ajuste a entrada do amplificador para a reprodução normal.

Volte a apertar o pedal e ajuste P2 para ter o mesmo volume com o pedal acionado. Depois disso é só usar o distorcedor.

 

Semicondutores:

C14 - 741 – amplificador operacional - circuito integrado

 

Resistores: (1/8 W, 5%)

R4 - 10 k Ω - marrom, preto, laranja

R2 - 10 M Ω - marrom, preto, azul

R4, R5 - 47 k Ω - amarelo, violeta, laranja

R4 - 100 k Ω - marrom, preto, amarelo

P4 - 470 k Ω - potenciômetro

P2 - 4,7 k Ω - potenciômetro

 

Capacitores:

C4, C4 - 100 nF - poliéster ou cerâmico

C2 - 47 nF - poliéster ou cerâmico

C3 - 220 nF - poliéster ou cerâmico

 

Diversos:

S4 - Chave de 2 pólos x 2 posições

S2 - Interruptor simples

J1, J2 - Jaques

B1 - 9 V - Bateria.

Placa de circuito impresso, soquete para o circuito integrado, botões para os potenciômetros, conector de bateria, fios blindados, fios, solda, caixa para montagem, etc.

 

 

 

PROJETO 2 - UÁU-UÁU

Este circuito consiste num oscilador de duplo T acionado por um pedal, e que modula em amplitude o sinal do instrumento musical.

Com apenas um transistor ele é muito simples e não critico, tendo ainda um consumo muito baixo.

Características:

Tensão de alimentação: 9 V

Consumo: 3 mA (tip)

 

COMO FUNCIONA

A base do circuito e um oscilador de duplo T, em torno de um único transistor de uso geral. Neste oscilador temos um ajuste para que ele opere de modo amortecido feito por P2.

Quando o pedal, P4 é ativado, o oscilador pode ou não entrar em funcionamento, controlando assim a modulação do sinal, quando então o oscilador entra em funcionamento.

A freqüência do oscilador é dada pelos valores de C4, C2, C4, R1, R2 e pelo ajuste de P4.

O sinal entra na base do transistor via C4 e R5, e é retirado de forma modulada via C5 e R4.

A chave S4 permite que o sinal passe “direto", quando desejarmos cancelar o efeito.

O leitor pode alterar os valores dos capacitores de freqüência, mas sempre deve manter a proporção, ou seja, C4 deve ser igual a C2, e C4 deve ser o dobro de C4.

 

MONTAGEM

Na figura 6 temos o diagrama completo do Uáu-Uáu para guitarra, violão e outros instrumentos eletrônicos.

 

Figura 6 – Diagrama do efeito Uáu-Uáu
Figura 6 – Diagrama do efeito Uáu-Uáu

 

A disposição dos componentes numa pequena placa de circuito impresso, que deve ficar em caixa metálica, é mostrada na figura 7.

 

Figura 7 – Placa de circuito impresso para a montagem
Figura 7 – Placa de circuito impresso para a montagem

 

Os cabos de entrada e saída de sinais devem ser blindados, e a malha externa ligada ao negativo da fonte, e também a caixa de metal que serve como blindagem adicional, evitando assim da captação de zumbidos.

P1 será acoplado ao pedal de modo a fazer a modulação do sinal, enquanto que S4 serve para desligar o efeito, permitindo a passagem direta do sinal.

Os resistores são todos de 1/8W ou maiores, e os jaques serão escolhidos de acordo com os plugues e cabos dos instrumentos.

Os capacitores podem ser de poliéster, exceto C3 que e um eletrolítico para 12 ou 16 V de tensão de trabalho.

Na figura 8 temos uma sugestão de como acoplar o pedal a P4, que para esta finalidade pode ser do tipo deslizante.

 

Figura 8 – Montagem do pedal
Figura 8 – Montagem do pedal

 

Para a bateria deve ser usado conector apropriado.

 

PROVA E USO

Para provar o aparelho intercale-o entre o instrumento e a entrada do amplificador. Ligue a alimentação em S2, e abra S1 de modo a ativar o efeito.

Pressione P1, observando que sua resistência deve aumentar quando calcado. O efeito deve ocorrer quando uma nota for tocada.

Solte o pedal e ajuste P2 para que o efeito não ocorra nesta condição.

Comprovando o funcionamento é só usar o aparelho.

 

Semicondutores:

Q1 - BC548 - transistor NPN de uso geral

 

Resistores (1/8 W, 5%)

R1, R2, R4, R5, R6, R8 - 47 k Ω amarelo, violeta, laranja

R3 - 47 k Ω - amarelo, violeta, laranja

R7 - 180 k Ω - marrom, cinza, amarelo

P1 - 100 k Ω – potenciômetro deslizante (slide)

P2 - 4,7 k Ω - trimpot

 

Capacitores

C1, C2- 4,7 nF – poliéster ou cerâmicos

C3 - 47 nF - poliéster ou cerâmico

C4 - 10 nF - poliéster ou cerâmico

C5, C6- 100 nF - Poliéster ou cerâmicos

C7, - 100 µF x 12 V - eletrolítico

 

Diversos:

S1 - Interruptor simples

S2 - Interruptor simples

JI, 12 - Jaques de entrada e saída

B1 - 9 V - bateria

Placa de circuito impresso, conector de bateria, caixa de metal, fios, solda, etc.

 

 

PROJETO 3 - TRÊMULO

Conforme sugere, este “pedal” produz um som tremido ao instrumento musical quando ativado. A profundidade do efeito pode ser controlada por meio de um potenciômetro, e são usados apenas dois transistores no projeto, o que torna muito simples.

Características:

Tensão de alimentação: 9 V

Consumo: 5 mA (tip.)

Freqüência do efeito: 1 Hz (aprox.)

Ganho do circuito: 10 vezes

 

COMO FUNCIONA

Um oscilador de deslocamento de fase em torno de Q1, produz o sinal modulador de aproximadamente 1 Hz.

A freqüência deste oscilador é dada por Cl, C2 e C3, que podem ser alterados pelo montador. Valores entre 220 nF e 1,5 µF podem ser experimentados.

O ponto de funcionamento deste oscilador que produz um sinal senoidal é ajustado em P1.

A segunda etapa do circuito tem por base Q2, e consiste num amplificador.

O sinal do instrumento musical entra por J1 e é aplicado na base do transistor. O ganho deste transistor, entretanto, sofre influências do sinal do oscilador via emissor.

Esta influência é portanto a profundidade da modulação é ajustada em P2.

O sinal amplificado, com variações de intensidade, é então obtido no coletor do transistor e aplicado a saída via C8.

 

 

MONTAGEM

Na figura 9 temos o diagrama completo de nosso terceiro projeto.

 

   Figura 9 – Diagrama do trêmulo
Figura 9 – Diagrama do trêmulo

 

 

A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso, que deve ficar em caixa metálica, é mostrada na figura 10.

 

 

   Figura 10 – Placa para a montagem
Figura 10 – Placa para a montagem

 

 

Todos os cabos de sinal devem ser blindados, com a malha ligada a caixa, de modo que ela sirva de blindagem adicional.

Os jaques de entrada e saída devem ser de acordo com o instrumento, amplificador e cabos usados.

Para a bateria observar a polaridade, e use um conector apropriado.

Os resistores são todos de 1/8 W. Os capacitores Cl, C2 e C3 são

críticos devendo ser usados tipos de poliéster, o leitor poderá fazer experiências com valores menores como 470 nF, para um tremulo mais rápido, e até mesmo 220 nF.

Pode também formar pares 220 nF com 100 nF, obtendo assim um valor intermediário de 320 nF.

Os demais capacitores não são críticos, e os eletrolíticos devem ter tensões de trabalho de 12 ou 16 V. P1 e P2 são comuns e podem ser colocados na própria caixa de efeitos.

Uma opção de funcionamento é o uso de uma chave comutadora acionada por pedal.

 

PROVA E USO

Para provar, basta intercalar o aparelho entre o instrumento musical e a entrada do amplificador. Ligando S1, vá tocando e ajustando tanto P1 como P2 até obter o efeito desejado.

Se as tremulações estiverem lentas, reduza os valores de Cl, C2 e C3. Verificando o funcionamento é só utilizar.

 

Semicondutores:

QI, O2 - BC548 - transistores NPN de uso geral

 

Resistores: (1/8 W, 5%)

R1, R9 - 4,7 k Ω - amarelo, violeta, vermelho

R2- 82 k Ω - cinza, vermelho, laranja

R3, R7 - 120 k Ω - marrom, vermelho, amarelo

R4, R8 - 12 k Ω - marrom, vermelho, laranja

R5 - 10 k Ω - marrom, preto, laranja

R6, R10 - 2,2 k Ω - vermelho, vermelho, vermelho

P¡ - 47 k Ω - potenciômetro

P2 - 100 k Ω - potenciômetro

 

Capacitores:

C1, C2, C3, - 1 µF - poliéster

C4 - 47 µF x 12 V - eletrolítico

C5, C6 – 22uF x 12 V - eletrolíticos

C7 - 4,7 µF x 12 V - eletrolítico

C8 - 470 nF - poliéster

C9 - 100 µF x 12 V - eletrolítico

 

Diversos:

J1, J2 - jaques

S1- Interruptor simples

B1 - 9 V bateria

Placa de circuito impresso, caixa de metal, conector de bateria, cabos blindados, botões para os potenciômetros, fios, solda, etc.