Escrito por: Newton C. Braga

Se o detetive acusar a presença de uma transmissão suspeita num local. mas não conseguir determinar onde está o aparelho transmissor, o que fazer? Ou ainda, uma outra situação a ser considerada: suspeita-se da existência de um transmissor num local, mas não se consegue detectar nada. O que fazer? A solução para estes dois casos está na colocação no local de um transmissor bloqueador.

Este aparelho consiste num “gerador de interferências” que cobre uma ampla faixa de frequências e que afeta os receptores colocados nas proximidades.

Como o sinal do bloqueador é forte, é bem provável que ele seja maior do que o alcance do transmissor que eventualmente esteja no local, e assim ele impede sua chegada ao receptor, cobrindo o sinal com um forte ruído (figura 1).

 

Figura 1 – O bloqueador
Figura 1 – O bloqueador

 

Assim, desconfiando que numa sala de reuniões alguém tenha escondido um transmissor, basta colocar na mesma sala o bloqueador que ele se encarregará de emitir um sinal mais forte que prejudicará o trabalho do agente inimigo

Uma outra aplicação interessante deste aparelho, não com finalidade que corresponda a um trabalho de espionagem, é o de interferir nos rádios de um escritório onde funcionários o usem indevidamente.

Receptores de FM de bolso, walkmans e outros que afetem o trabalho podem ser “bloqueados” com a ligação no local deste aparelho.

Um forte ruído será sobreposto às transmissões e praticamente nada poderá ser ouvido.

 

COMO FUNCIONA

O aparelho consiste num potente transmissor de FM mas sobremodulado, de modo a varrer uma ampla faixa de frequências.

O diagrama completo do bloqueador é mostrado na figura 2.

 

Figura 2 – Diagrama do bloqueador
Figura 2 – Diagrama do bloqueador

 

Num primeiro bloco temos um gerador de baixas frequências (áudio) com base num transistor unijunção e que será responsável pela sobremodulação.

A frequência deste oscilador depende do resistor R9 e do capacitor C1. Estes componentes podem ser alterados no sentido de se modificar a tonalidade do sinal de sobremodulação ou apito, que vai “tampar” as transmissões.

O sinal gerado, que tem uma forma de onda dente-de-serra, é aplicado no segundo bloco do aparelho que consiste num oscilador de alta frequência. Este oscilador determina por meio de C3, D1 e L1 a frequência das transmissões.

Ocorre que D1 é um diodo de capacitância variável ou varicap, que é um componente cuja capacitância depende da tensão que lhe é aplicada.

No caso, a tensão vem do oscilador de sobremodulação e é aplicada, via XRF1, entre o diodo D1 e C3.

Como o sinal do oscilador é intenso, ele provoca uma variação bastante grande na capacitância de Dl, que então faz com que o oscilador se desloque continuamente de frequência.

Para o circuito indicado, com os valores dos componentes usados, a frequência vai se deslocar entre 50 e 200 MHz, tipicamente, mas podem ser usados dois diodos varicap em paralelo para se obter uma faixa mais ampla.

Alterações de C3 também permitem que uma faixa mais ampla de frequências seja varrida continuamente pelo transmissor.

O resultado é que o sinal do transmissor passa a estar em toda a parte do espectro, impedindo uma recepção normal de aparelhos receptores que estejam nas proximidades, inclusive televisores.

O sinal obtido no oscilador de alta frequência, já modulado e amplificado, é levado a uma terceira etapa do aparelho, que consiste num amplificador de potência com um transistor BD135.

Este transistor aumenta bem a intensidade do sinal de modo a garantir que ele cubra as transmissões que ocorram no local.

O sinal chega ao transistor Q3 via C5. A polarização de base do transistor é feita pelos resistores R6 e R7 e a retirada do sinal é feita pelo coletor.

No coletor não temos um circuito sintonizado, pois desejamos que a trans- missão seja numa faixa ampla de frequências. Por este motivo, a carga de coletor é um choque de RF.

Para melhor desempenho do transmissor será interessante alimenta-lo por um eliminador de pilhas de 12 V com pelo menos 500 mA, ou então, por meio de bateria, já que pela elevada potência de transmissão seu consumo é elevado.

O alcance ou raio de interferência deste bloqueador é da ordem de 500 metros com uma antena telescópica de 1 metro.

 

MONTAGEM

A disposição dos componentes numa placa de circuito impresso é mostrada na figura 3.

 

Figura 3 – Placa para a montagem
Figura 3 – Placa para a montagem

 

Os resistores são todos de 1/8 W e os capacitores devem ser todos cerâmicos, menos C1 que também pode ser de poliéster ou styroflex.

O transistor unijunção não admite equivalentes e para Q3 precisamos de um pequeno radiador de calor que consiste numa chapinha de metal de 2 x 3 cm dobrada em “U”.

Para D1 podemos usar qualquer diodo varicap de FM comum como o BB809.

A bobina L1 consta de 3 ou 4 espiras de fio 24 ou 22 em fôrma de 1 cm de diâmetro sem núcleo. Alterações do número de espiras podem ser experimentadas em função da faixa de frequências que se deseja transmitir.

XRF1 e XRF2 são microchoques comerciais, mas na sua falta enrole de 50 a 100 voltas de fio esmaltado bem fino (32 ou mais fino) num palito de fósforos ou dente ou ainda num resistor de 100 k Ω x 1/2 watt.

A antena tanto pode ser telescópica de 80 cm a 1 metro de comprimento como um pedaço de fio rígido grosso de mesmo comprimento.

 

PROVA E USO

Para provar o aparelho, basta ligá-lo nas proximidades de um rádio de FM ou de um televisor sintonizado num canal baixo. Deve ocorrer uma forte interferência num raio de pelo menos uns 20 metros tampando as estações sintonizadas.

Para sinais fracos, como por exemplo de um pequeno transmissor, o raio de ação será muito maior, conforme explicado na introdução.

Comprovado o funcionamento, basta ligá-lo no local em que se deseja fazer o “serviço” impedindo que um transmissor escondido possa ser ouvido nas proximidades.

Atenção: este aparelho gera interferências em aparelhos comerciais, portanto, não deve ser usado em locais densamente povoados como, por exemplo, em prédios de apartamento. Afetando a recepção de televisores e rádios, ele pode deixar os moradores “furiosos”.

Como a produção de interferências nestas condições é proibida por lei, o operador de tal aparelho pode ser denunciado.

 

Semicondutores:

Q1 - 2N2646 - transistor unijunção

Q2 - 2N2218 - transistor de RF

Q3- BD135-transistor NPN de média potência

D1 - BB809 ou equivalente - diodo varicap

 

Resistores: (1/8 W, 5%)

R1 - 470 Ω

R2 - 47 Ω

R3 - 12 kΩ

R4 - 4,7 kΩ

R5 - 47 Ω

R6 - 10 kΩ

R7 - 1 kΩ

R8 - 22 Ω x 1 W

R9 - 47 kΩ

 

Capacitores:

C1 - 10 nF - cerâmico ou poliéster

C2 - 10 nF - cerâmico

C3 - 22 pF - cerâmico

C4 - 10 pF - cerâmico

C5 - 47 pF - cerâmico

C6 - 100 nF - cerâmico

 

Diversos:

L1 - bobina, ver texto

XRF1, XRF2 - 100 µH – microchoque - ver texto

A - antena - ver texto

Placa de circuito impresso, caixa para montagem, fonte de alimentação ou bateria, fios, solda, etc.