Escrito por: Newton C. Braga

Desta vez não tratamos de um componente, mas sim de um equipamento: o rádio de ondas curtas. Como captar estações distantes e quando fazê-lo? É o que veremos, dirigindo-o para uma interessante aventura no domínio das ondas eletromagnéticas com a escuta de estações de outros países, de comunicações entre navios, radioamadores, serviços públicos etc.

Com a internet este tipo de atividade está caindo em desuso. Rádios pela internet podem ser ouvidas sem trabalho e sem interferências, onde quer que se encontrem.

São muitos os pequenos receptores transistorizados portáteis ou de mesa que possuem faixas de ondas curtas capazes de sintonizar estações nos intervalos entre 120 metros e 13 metros de comprimentos de onde, o que corresponde a 2,4 MHz a 25 MHz aproximadamente.

Existem mesmo velhos (e excelentes) rádios a válvulas de mesa que possuem faixas ampliadas de grande sensibilidade de ondas curtas com a possibilidade de escuta de estações distantes com muita facilidade.

Alguns receptores antigos, com válvulas, têm em seu painel uma escala em que são marcadas as estações de alguns países. É claro que esta marcação já não vale para hoje, pois ocorreram muitas mudanças de frequências dessas estações, e mesmo o aparecimento de outras nos últimos anos, mas isso serve para indicar quão sensíveis são tais rádios. (figura 1)

 


 

 

Como usar um radinho que tenha faixa de ondas curtas e quando fazê-lo para obter os melhores resultados?

Certamente todos que possuem um rádio com faixa de ondas curtas e tiveram a oportunidade de ligá-lo, à tardinha ou mesmo à noite, puderam ouvir emissões relativamente fortes em línguas estrangeiras e mesmo em

português. Estas emissões, entretanto, correspondem apenas a umas poucas estações mais fortes que são captadas sem maiores recursos e que não constituem o mais interessante a ser explorado.

São grandes estações com centenas de milhares de watts de potência como a BBC de Londres, a Rádio Moscou, 3 Voz da América dos Estados Unidos, a Voz da Alemanha etc., que dirigem suas antenas para cá em determinados horários e assim podem se fazer ouvir com programas especiais Ou em português ou em castelhano.

Esta estações possuem então serviços internacionais que dirigem os programas para determinados países em suas línguas, nos horários mais favoráveis para a recepção.. Muitas delas possuem programas em português dirigidos para o Brasil que podem ser captados com facilidade.

Para ouvir as estações mais fracas e mesmo as de radioamadores e serviços públicos é preciso dar uma "ajudazinha" ao receptor com a utilização em primeiro lugar de uma antena externa.

O tipo mais simples de antena externa é um fio estendido (dentro de casa ou fora) de 4 a 40 metros de comprimento, o qual deve ser isolado nas pontas. (figura 2)

 


 

 

Para a ligação no receptor podemos usar uma garra jacaré, conforme mostra a mesma figura, a qual será presa à antena telescópica ou ao local de entrada se o receptor possuir.

Se o rádio não tiver lugar para ligar a antena, podemos fazer um elo de irradiação que consiste numa caixa. com uma bobina conforme mostra a figura 3, onde será colocado o rádio de ondas curtas.

 


 

 

Nos dois casos, a ligação à terra é importante para melhorar a recepção.

Esta ligação pode ser feita no polo negativo das pilhas, no caso de rádios com antenas telescópicas prendendo-se um fio que será conectado a qualquer objeto metálico com contato com o solo como, por exemplo, um cano de água ou uma esquadria de porta ou janela de alumínio.

A finalidade da antena é “colher" o máximo da energia irradiada pela estação e levá-la pelo fio através do rádio. Esta antena, localizada acima da casa, longe de fios, também evita a captação de ruídos e interferências que prejudicam a recepção.

Lâmpadas fluorescentes, carros e motores irradiam sinais na faixa de ondas curtas que podem prejudicar a recepção de sinais muito fracos. Tempestades próximas também são fontes de interferência e perigo, não devendo nestas ocasiões a antena externa ser usada.

 

O HORÁRIO

Conforme explicamos no artigo “O que você precisa saber" as ondas curtas' são influenciadas pelo sol, o que significa que existem horários em que os sinais podem chegar mais longe, dependendo de sua frequência e localização.

Assim, no nosso país os melhores horários para escuta em função das faixas são os seguintes:

De 1,6 MHz a 5 MHz – Estações distantes desta faixa, localizadas a mais de 500 km de sua casa só poderão ser bem captadas depois das 17 horas (quando o sol estiver se pondo) e antes das 8 horas da manhã. Isso lhe dá a noite toda para explorar a faixa. Nos outros horários você só poderá captar estações relativamente próximas e potentes. Estações de rádio da faixa de ondas tropicais de cidades vizinhas serão captadas durante o dia e, eventualmente, algum radioamador da faixa dos 80 metros.

De 5 a 11 MHz - Durante o dia você poderá captar estações relativamente fortes até 1 000 km ou mais de distância e estações relativamente fortes. No entanto, depois de 16 horas e até 9 horas do dia seguinte estações muito distantes, de outros países, podem ser captadas nas faixas de 49, 31 e 25 metros. Durante o dia radioamadores relativamente próximos pode ser ouvidos nos 40 metros assim como alguns serviços públicos.

De 11 a 25 MHz - Esta faixa pode ser explorada praticamente durante todo o dia, mas durante a noite é que conseguimos melhores resultados. Durante o dia nas faixas de 19, 17 e 13 metros podem ser captadas potentes estações internacionais com bons sinais.

 

COMO EXPLORAR

Ligado seu receptor e escolhido o horário da ”exploração", tenha em mãos um caderno de anotações.

Se você captar uma estação de radiodifusão internacional com programas em português ou mesmo em língua que você consiga entender, anote a frequência, o horário, o nome da estação e um pouco do programa que você escutou, como por exemplo:

20 h - prefixo musical

20h02 - notícias

20h10 - musical etc.

Dê também nota técnica para a qualidade da recepção. Para isso existe um código internacional denominado “SINFO"onde cada letra representa uma característica que se dá uma nota de1 a 5.

Assim, “S" significa a intensidade do sinal (Signal Strength), “I" significa interferência, "N" significa ruído (de Noise em inglês), ”F" significa desvanecimento (Fading do inglês que é o “vai e vem" do sinal quando a estação ora fica mais forte, ora mais fraca devido à propagação) e “O" significa mérito final ou Overall merit do inglês.

Se então atribuirmos à estação que captamos a nota SINFO 45344 isso significa que a escuta foi de uma estação com sinal for te, sem interferência, algum ruído, pouco fading e um mérito final bom.

A tabela abaixo ajuda você dar sua nota.

 


 

 

Se você escrever para a estação que captou uma carta dizendo o que ouviu, a frequência, dados do programa, o horário, der ainda o código SINFO de sua recepção e depois indicar que tipo de receptor utilizou como antena, isso pode resultar num interessante passatempo: peça à estação que confirme sua reportagem de escuta com o cartão QSL (QSL é o código Q de radioamadores que significa verificação) oficial da estação.

Cada estação tem um cartão tipo postal em que ela faz a verificação confirmando sua escuta.

Estes cartões são muito bonitos e se constituem numa excelente coleção - veja a foto em que aparecem alguns destes cartões obtidos por Newton C. Braga. (fig. 4)

 


 

 

 

Se você realmente pensar em ser tornar um ”explorador sério" (SWL = Short Wave Listner) das ondas curtas, a compra de um receptor “profissional" pode ser interessante.

Receptores como o Grundig Satélite e o Transglobe são algumas opções simples de receptores antigos usados por radioamadores, dos tipos que ainda usam válvulas, mas que são excelentes pela sensibilidade e seletividade (capazes de separar estações de frequências próximas), podem ser adquiridos usados tais como o Collins, National, Signal Corp. etc.

Na figura 5 mostramos um interessante receptor do tipo BC348, que tem mais de 40 anos de idade, pois foi usado em aviões do tipo C-47 (DC-3) na segunda guerra mundial, mas que tem excelente sensibilidade tendo sido adquirido praticamente como sucata!

 


 

 

Nos grandes jornais de domingo podemos, de vez em quando, encontrar anúncios de venda de tais receptores, alguns até por preços acessíveis (Hoje em dia no Mercado Livre, por exemplo.)!

O receptor em questão tem 6 faixas de frequências, cobrindo de 200 kHz a 18 MHz e utiliza válvulas.

Possui ainda filtro com cristal para melhorar a seletividade e um BFO que é um oscilador que ajuda a receber sinais telegráficos e em SSB.