Escrito por: Newton C. Braga

Escrevemos este artigo em 2001 quando as polêmicas sobre os perigos das radiações dos celulares se multiplicavam. Hoje elas ainda persistem, se bem que as pesquisas que revelem se realmente são perigosas ainda são controvertidas, principalmente porque muitas são realizadas pelas próprias empresas que vendem os celulares. No entanto, vale a leitura para se ter uma posição do que se pensava na época.

A instalação de ERBs (Estações Rádio-Base) em diversos pontos de áreas densamente povoadas não apenas têm trazido a público o problema estético com uma poluição visual algo elevada, como também o da própria radiação emitida, que pode ser danosa para as pessoas que vivem nas proximidades. O que há de verdadeiro no segundo caso é o que certamente mais interessa aos leitores desta revista. Neste artigo comentamos um texto de 1998 emitido pela FCC (Federal Communications Commision) que, justamente, aborda o assunto de uma forma bastante clara.

A telefonia celular (bandas A e B) usa uma faixa de frequências que está entre 800 MHz e 900 MHz, enquanto que serviços de comunicações pessoais (PCS) usam a faixa de frequências entre 1850 e 1990 MHz.

As antenas desses serviços são normalmente instaladas em torres, caixas d'água, edifícios e outros locais elevados.

Essas antenas são formadas por varetas ou conjuntos de 3 a 5 varetas ou ainda painéis retangulares de aproximadamente 30 cm x 1,2 m, organizados em grupos de três, conforme mostra a figura 1.

 

A potência irradiada por uma estação desse tipo depende de diversos fatores, tais como a cobertura e o número de canais.

 

Uma estação típica (ERB) utiliza 21 canais por setor, cada qual usando 3 antenas transmissoras, o que nos dá um total máximo de 3 transmissores por site.

 

É importante observar que esses transmissores não ficam em operação simultaneamente o tempo todo, o que significa uma potência total menor que a máxima prevista na maioria dos casos.

 

A potência máxima efetiva (ERP) prevista para uma ERB é de 500 watts por canal, dependendo de diversos fatores como a altura da torre, etc. A maioria das estações em áreas povoadas densamente opera com potências de 100 W ERP ou menos. O típico está na faixa de 5 a 10 W, conforme o tipo de antena.

 

Mas, isso não significa que quem mora perto dessas estações corra perigo.

 

As antenas possuem um padrão de irradiação que focaliza a emissão num feixe estreito na direção do horizonte como uma "fatia de torta" veja a figura 2.

 

Está claro que, mesmo dentro do setor de irradiação máxima, a intensidade do sinal cai rapidamente (segundo a lei do inverso do quadrado da distância) à medida que nos afastamos da antena.

 

Fora do setor a intensidade do sinal é muito menor ainda. Medidas feitas pelo FCC em estações desse tipo, mostram que no pé das torres as intensidade de sinal encontradas estão muito abaixo dos mínimos recomendados pelas normas de segurança.

 

Em 1996 o FCC adotou procedimentos atualizados para avaliar a exposição humana a campos de radiofrequência de antenas fixas como as usadas em telefonia celular.

 

As recomendações do NCRP (National Council on Radiation Protection and Measurements) são semelhantes às fornecidas em 1992 pelo ANSI/IEEE (American National Standards Institute e Institute of Electrical and Electronics Engineers) e fixam a potência máxima a que pode estar exposta uma pessoa em um campo de RF sem perigo.

 

No caso dos telefones celulares, considerando-se a frequência mínima de 860 MHz, as recomendações do FCC são para um nível máximo de exposição em ambientes públicos, de 580 (W por centímetro quadrado, para um tempo médio de 30 minutos.

 

Este valor é muitas vezes mais alto do que o encontrado na base de torres de estações de celulares. Dados de diversas fontes, por exemplo, mostraram que no "pior caso" a intensidade medida no nível da base da torre foi de apenas 1 (W por centímetro quadrado).

 

Verifica-se que para chegar ao limite de 580 (W/cm2) seria preciso que a pessoa ficasse diante da antena a poucos metros dela.

 

Um caso importante que deve ser considerado é quando as antenas ficam no teto de construções e as pessoas podem se aproximar delas mais do que no caso de torres, quando então os campos podem ser superiores a 1 (W/cm2). De qualquer forma, as pessoas mais expostas nestes locais são os técnicos que vão trabalhar nas antenas, os quais sabem das normas de segurança que devem ser adotadas para se evitar a exposição excessiva.

 

Em suma, considerando-se a intensidade do campo emitido por essas estações, vemos que ela está muito abaixo do limite que poderia trazer perigo e que, antes disso, as atenções deveriam ser voltadas para emissões muito mais perigosas, tais como as de emissoras de FM e TV de regiões densamente povoadas, como a nossa Avenida Paulista em São Paulo, onde diversos transmissores com mais de 50 000 W de potência permanecem em operação contínua.

 

ANTENAS EN VEÍCULOS

Outro tipo de emissão a ser considerada é quando se utilizam antenas para celulares nos tetos de veículos, que estão ligadas a amplificadores que visam aumentar a potência de emissão.

 

Mesmo assim, a potência emitida neste caso é da ordem de apenas 3 watts, mas ainda exigindo alguns cuidados.

Quando a antena é montada no centro do teto, conforme ilustra a figura 3, este serve como plano-terra e os sinais são emitidos todos num padrão que não afeta os passageiros no interior do veículo.

 

Entretanto, quando a antena é montada na borda do teto ou ainda sobre o porta-malas, de acordo com a figura 4, podemos ter certa potência irradiada na direção dos passageiros.

 

Estudos feitos nos laboratórios da AT&T Bell Labs, na Universidade de Washington, mostram que nas "piores condições" (quando o passageiro está próximo do vidro) os níveis de potência podem atingir valores elevados.

 

A experiência mostrou que um manequim a uma distância de 9,7 cm do vidro ficou exposto a um nível de radiação de 1900 (W/cm2 quando um transmissor de 3 W foi usado.

 

A Motorola recomenda que a instalação da antena seja feita de modo a se aproveitar ao máximo a estrutura do veículo como blindagem para evitar que a radiação atinja os passageiros. Isso significa que a antena deve ficar sempre no centro do teto do veículo.

 

E, se a antena for colocada no porta-malas, ela deverá ficar de 30 a 60 cm do vidro para evitar que a radiação atinja os passageiros do banco traseiro em níveis maiores do que os considerados como limite.

Em suma, se a antena for instalada corretamente, se o transmissor tiver no máximo 3 W, e ainda considerando-se que o tempo médio de uso do equipamento seja curto, os níveis de radiação para os ocupantes do veículo estarão muito abaixo dos considerados perigosos.

 

TELEFONES DE MÃO

A proximidade da antena do telefone celular da cabeça do usuário, mesmo considerando-se que a potência do sinal é muito baixa, pode levar a níveis preocupantes que foram abordados na documentação do FCC.

As recomendações do FCC, ANSI/IEEE e NCRP especificam os limites de absorção de energia de RF em termos de taxa de absorção específica ou SAR.

Para telefones celulares e PCs o limite é de 1,6 W/kg medidos em um grama de tecido.

Na prática, os níveis constatados têm sido muito menores que esse limite.

No entanto, nos últimos anos têm aumentado as especulações de que, mesmo com níveis menores, os efeitos da radiação seriam ainda perigosos, o que levou várias entidades a fazer em uma pesquisa mais profunda.

Nos Estados Unidos, entidades como a Wireless Technology Research, LLC (WTR) e a Motorola iniciaram uma série de programas de pesquisa no sentido de determinar exatamente os riscos a que estariam expostos os usuários de telefones celulares.

Os resultados das pesquisas levaram à emissão de um documento que, em princípio, afirma que se existem riscos para os usuários "provavelmente eles são pequenos", mas estes estudos têm sido aprofundados com a revelação de que o problema não é tão simples.

De qualquer forma, o estudo dos padrões de irradiação e o projeto de antenas que não permitam uma concentração maior de energia na direção da cabeça do usuário, e mesmo a recomendação de que o telefone celular seja usado de modo controlado (apenas para conversas curtas, deixando-se as longas para o telefone comum - o que também seria também um procedimento saudável para o bolso do usuário), e finalmente, que se dê preferência ao uso do telefone no carro com a antena externa, são alguns dos pontos em destaque atualmente.