Escrito por: Newton C. Braga

Este é o primeiro artigo que descreve um projeto que publicamos diversas vezes ao longo dos anos. Este é de 1976, mas pode ser montado com a mesma facilidade da época ainda hoje.

O tradicional jogo de passar a argolinha pelo arame com uma inovação: se o jogador errar será castigado com um choque imediatamente!

Se bem que “dar choques” nos outros, não possa ser considerada nenhuma brincadeirinha inocente, vemos proliferar em diversos locais dispositivos cuja finalidade aplicar um inofensivo porém bem dado choque elétrico.

Nossa finalidade neste artigo não é instigar nenhum leitor a brincadeiras perigosas, pois acreditamos que todos tenham bom senso suficiente para que o local, hora e a pessoa em que a brincadeira seja feita saibam ser escolhidos.

Desenvolvemos, portanto, uma versão mais forte do conhecido jogo do nervo-teste em que a vítima se verá contem piada com um choque razoável se errar em qualquer instante da passagem da argola pelo fio tortuoso.

Evidentemente, a descarga elétrica não deve ter intensidade suficiente para ser perigosa, se bem que, qualquer choque elétrico seja perigoso, dependendo das condições em que ocorre.

A base deste aparelho é um dispositivo que eleva a tensão de uma pilha de 1,5 Volts para 60 ou 90 Volts, porém sob uma corrente muito baixa, mas suficiente para causar a sensação de choque de modo considerável porém, não perigoso.

Com isso, quem estiver segurando no arame tortuoso e errar a passagem da argola, acionará o dispositivo, provocando a produção de descarga de tensão razoável.

A construção deste dispositivo é extremamente simples não exigindo mais do que dois componentes, e sua instalação pode ser feita quer seja numa base de madeira ou numa caixinha.

Devemos, entretanto, já alertar o montador que a caixinha deve ser material inquebrável, pois com frequência o susto tomado pelo jogador ao levar o choque, faz com que os fios sejam puxados violentamente o que torna possível a caixa ser levada junto e levar tombos bastantes fortes que poderiam quebra- la com facilidade.

Avisar o jogador sobre o castigo fica a critério do leitor, já que o fator surpresa pode ser bastante interessante se você deseja se divertir as custas de algum amigo. Você poderá, por exemplo, dizer que o circuito "apitará" se ele errar, ou, ainda poderá colocar em algum ponto da caixinha ou base de madeira uma lâmpada que servirá somente para enfeite.

Não ligue a lâmpada a pilha, pois seu consumo afetará o desempenho do circuito! (figura 1).

 

Figura 1
Figura 1

 

 

O PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO:

A base deste circuito é um transformador que pode elevar a tensão de 1,5 Volts de uma pilha para 60 ou 90 Volts provocando, portanto, a descarga elétrica na pessoa que segura os fios.

Analisemos o princípio de funcionamento do transformador neste circuito:

Se tivermos uma bobina formada por algumas voltas de fio esmaltado, e estabelecermos em determinado instante uma corrente nessa bobina, será criado em seu interior e nas suas vizinhanças um campo magnético cujas linhas de influência se propagarão até se estabilizarem numa determinada posição final. (figura 2)

 

Figura 2
Figura 2

 

 

Se nas proximidades dessa bobina houver uma segunda bobina (figura 3) no momento em que as linhas de influência ou força da primeira bobina cortarem as suas espiras, haverá uma indução eletromagnética em que uma tensão elétrica aparecerá na segunda bobina enquanto as linhas de forca da primeira estiverem se propagando, ou seja, enquanto o campo magnético da primeira bobina estiver crescendo em intensidade.

 

Figura 3
Figura 3

 

 

Quando o campo estabilizar na sua posição definitiva, mesmo havendo a circulação de uma corrente intensa na bobina número 1, não teremos mais tensão na segunda bobina (figura 4), pois a indução eletromagnética é um fenômeno tipicamente dinâmico, exigindo uma variação da intensidade da corrente.

 

Figura 4
Figura 4

 

 

Uma nova variação pode, entretanto, ser provocada nesse campo no momento em que a corrente na primeira bobina for interrompida. Nestas condições o campo magnético não desaparece instantaneamente, mas contrai-se de modo que suas linhas de força, novamente cortam a segunda bobina pelo que, uma nova tensão em seus extremos aparece.

isso quer dizer que teremos tensão na segunda bobina só nos momentos em que a corrente na primeira é ligada ou desligada, mas nunca nos momentos intermediários, como por exemplo quando a corrente circula depois de estabilizar, ou quando desligada. (figura 5)

 

Figura 5
Figura 5

 

 

A tensão que aparecerá na segunda bobina dependerá do número de voltas que existe na primeira bobina e do número de voltas da segunda bobina. Por exemplo, se a primeira bobina tiver 10 voltas de fio e a segunda 1 000 Voltas (relação de 1:100) ao aplicarmos uma tensão de 1 Volt na primeira teremos cerca de 100 Volts na segunda, pois seu número de espiras é 100 vezes maior.

Este é exatamente o princípio de funcionamento de um transformador (figura 6).

 

Figura 6
Figura 6

 

 

Nas condições normais e utilizando na sua operação uma tensão alternada aplicada a um dos enrolamentos de modo que sempre teremos uma tensão no segundo, pois a tensão alternada faz circular uma corrente que varia constantemente de intensidade, ou seja, inverte de sentido cerca de 120 vezes por segundo.

No nosso caso, como usaremos uma pilha e a pilha não fornece uma corrente de intensidade variável, a indução de tensão e, portanto, o choque só pode ocorrer nos instantes exatos em que o jogador encosta a argola no arame tortuoso ou ainda a desencosta. (momentos em que a corrente é estabelecida ou desligada);

Se a argola for mantida firmemente encostada no fio tortuoso, ele não tomará choque algum.

 

O CIRCUITO:

O transformador usado em nosso circuito é do tipo encontrado na saída de rádios a válvula. Consta ele de dois enrolamentos feitos num núcleo de ferro laminado. Cada enrolamento apresenta duas pontas onde são feitas as ligações externas. (figura 7)

 

Figura 7
Figura 7

 

 

A relação entre as espiras dos dois enrolamentos, denominados primário e secundário é de 1:40 ou 1:60 o que quer dizer que podemos obter de 60 a 90 volts a partir de uma pilha de 1,5 Volts.

O leitor poderá adquirir esse transformador pedindo por um “transformador de saída para a válvula 6V6 ou 50C5".

Obs. Nas versões atuais usamos um transformador de 110 x 6 V com 200 a 500 mA.

 

AS LIGAÇÕES:

Devemos observar que no transformador temos 4 fios que correspondem aos dois enrolamentos. Os dois fios de capa plástica correspondem ao enrolamento com maior número de espiras e, portanto, onde será obtida a alta tensão.

O enrolamento de menor número de espiras termina pelo próprio fio esmaltado com que é enrolado. Ao se fazer a soldagem dos fios desse enrolamento, suas pontas devem ser raspadas de modo quê o esmalte que as recobre seja removido.

A pilha é a fonte de alimentação do circuito, devendo ser usada uma pilha grande, de lanterna, para maior durabilidade, já que a corrente consumida pelo circuito é razoável.

 

A MONTAGEM:

Para a montagem, como ferramentas, tudo que o leitor necessitará será de um ferro de soldar de pequena potência (30 Watts), de um alicate de corte e outro de ponta, e uma chave de fenda.

O aparelho é montado sobre uma base de madeira (caso o leitor queira pode usar uma caixinha, conforme sugerido) de 10 x 10 cm, e os componentes são fixados por, meio de parafusos com porcas.

Para as conexões oriente-se pela figura. O principal ponto a ser observado é em relação a posição do transformador, cujo enrolamento de menor número de espiras (que termina em fio esmaltado) deve ficar do lado da pilha (figura 8)

 

Figura 8
Figura 8 | Clique na imagem para ampliar |

 

 

A pilha poderá ter seus terminais diretamente soldados em um terminal simples que pode ser cortado de uma ponte de terminais, já que poderá haver certa dificuldade em se obter um suporte para uma única pilha em nosso mercado.

As conexões entre os componentes podem ser feitas por meio de fio flexível (cabinho) ou ainda por meio de fio rígido, enquanto que a conexão a argola e arame tortuoso deve ser feita com cabinho.

A argola não oferece dificuldades para elaboração. Use fio rígido 14 ou 16 removendo sua capa plástica, dobrando-o e soldando-o no ponto da argola.

Para a confecção do arame tortuoso, um pouco mais de cuidado deve ser tomado usando um pedaço de fio rígido de 30 ou 40 cm (fio 14 ou 16) descasque uma parte, deixando cerca de 8 cm com capa plástica. (figura 9)

 

Figura 9
Figura 9

 

 

Nessa parte encapada você enrolará fio descascado do tipo rígido até formar uma cobertura metálica, onde deverá posteriormente ser feita uma conexão.

A,segunda conexão será feita no fio interno. A figura 8 fornece os pormenores necessários a uma perfeita montagem.

 

PROVA DO APARELHO

Completada a montagem, a prova do aparelho é das mais Simples. Segure numa das mãos a argola e na outra o arame tortuoso, pelo cabo. Encoste um no outro, isto é, o arame tortuoso na argola. Se tudo estiver) certo Catapimba!..

 

Figura 10
Figura 10

 

 

1 transformador de saída (ver texto)

1 pilha de lanterna

1 base de madeira

Diversos: fio rígido 14 ou 16; fio flexível de ligação; solda, pontes de terminais, parafusos de fixação, etc.