Cada vez menos encontramos peças para reparação de equipamentos eletrônicos antigos. Mesmo os tipos mais modernos utilizam componentes “descartáveis” que forçam o usuário a fazer a troca do equipamento caso apresente defeito depois de vencido o prazo de garantia. Como resolver o problema da falta de peças para reparação, principalmente, nas cidades afastadas? Como atender a um cliente que não deseja se desfazer de um equipamento antigo, quer seja por motivos econômicos, quer seja por motivos sentimentais?

Os técnicos reparadores que nos acompanham neste site e contribuem com sua experiência descrevendo defeitos e soluções que encontram no seu dia-a-dia, cada vez mais estão sendo impedidos de exercer sua função normal pela falta de peças no mercado.

Mesmo nos grandes centros, as lojas de componentes diminuem, e cada vez mais se torna difícil encontrar o material necessário para uma reparação.

Cresce a quantidade de equipamentos abandonados por falta de componentes e diminui o ganho dos que poderiam prestar algum serviço recuperando aqueles que ainda funcionariam por um bom tempo.

 

Como solucionar este problema?

As publicações especializadas de outros países como, por exemplo, as americanas possuem entre seus leitores não só técnicos reparadores, mas colecionadores que estão sempre em busca de peças de um equipamento antigo que desejam manter em funcionamento ou colocar em tal condição para fazer parte de uma coleção.

A revista "Popular Electronics" (década de 1980 e 1990 – A publicação já não mais existe atualmente), por exemplo, mantém até uma seção de Rádios Antigos em que são focalizados modelos de 20, 30 anos e tipos muito mais velhos.

Na edição de Fevereiro de 1998, por exemplo, um receptor regenerativo de 3 válvulas de 1924 é focalizado com atenção num artigo que mostra que este tipo de equipamento tem um valor muito grande para os especialistas.

 


 

 

Mesmo nós, em algumas cidades do interior, temos visto velhos rádios valvulados da década de 50 ainda em bom funcionamento e que são muito bem tratados por seus donos! Fale em trocar estes equipamentos por um “som” moderno com CD e FM e veja qual é a resposta!

Tudo isso mostra que o mercado de componentes para equipamentos antigos existe, mas sua modificação está trazendo dificuldades para os técnicos.

Como obter componentes para tais equipamentos se as lojas não existem mais?

 

As Soluções

Nas revistas americanas e comum vermos relações enormes distribuidores que vendem componentes pelo correio (Mouser, por exemplo).

Os estoques destas lojas não incluem apenas componentes modernos, mas também uma enorme quantidade de componentes antigos, principalmente, válvulas.

Uma solução interessante, que tem sido adotada por muitos leitores, é o "canibalismo" de que já falamos em outras oportunidades em outros artigos no site

A ideia e guardar qualquer aparelho “sem conserto” ou simplesmente que tenha um dos seus pedaços achado em algum lugar, para fazer o aproveitamento dos componentes.

Existem até técnicos que colocam anúncios em jornais de suas localidades

Comprando equipamentos fora de uso como rádios, aparelhos de som e televisores, mesmo sem funcionar, simplesmente para manter um estoque de componentes.

E claro que não se compra qualquer aparelho deste tipo para aproveitar resistores e capacitores.

A escolha de um equipamento ou placa para compra ou mesmo para ser levada para oficina numa doação exige uma boa dose de percepção do técnico, que deve ver se existe a possibilidade de aproveitamento de algum componente mais crítico num futuro trabalho.

Atenção especial deve ser dada aos seguintes tipos de componentes que realmente são os mais críticos:

 

a) Circuitos integrados

Se bem que exista a possibilidade do aparelho ter sido abandonado por um circuito integrado queimado e este seja justamente o componente no qual “estamos de olho”, dependendo do número de componentes na placa e do próprio número de integrados, o técnico pode arriscar, principalmente, se a placa ou aparelho chegar “de graça”.

 


 

 

Deixe os circuitos integrados montados nas placas retirando-os apenas quando necessitar deles. O trabalho para retirar um componente deste tipo é grande e não compensa guarda-lo numa caixa (arriscando-se a não saber mais de onde ele saiu), para quem sabe, nunca precisar dele.

 

b) Válvulas

Se num aparelho existirem muitas válvulas, será interessante guarda-las.

As válvulas não estragam com o tempo, mas sim enfraquecem com o uso.

O máximo que pode ocorrer ao tentarmos aproveitar uma válvula é verificar que ela está queimada ou ainda enfraquecida demais para funcionar.

No entanto, na maioria dos casos, a válvula pode ser a solução de um problema.

Lembramos que nos aparelhos valvulados mais de 50% dos problemas que ocorrem são as próprias válvulas.

 

c) Bobinas e transformadores

O principal teste é o de continuidade. As bobinas muito velhas ou que estejam em aparelhos que tomaram chuva ou foram guardados em lugares úmidos podem ter seus terminais oxidados ou mesmo os fios nos soquetes de válvula pontos de ligação aos terminais interrompidos, figura 4.

 


 

 

Se a bobina tiver em sua carcaça sinais da presença de um pó esbranquiçado, isso pode ser sinal de corrosão interna e a bobina não deve ser usada.

Um ponto importante que deve ser considerado no aproveitamento de bobinas é a sua identificação.

Deixe a bobina na placa original ou anote exatamente em que função e de que aparelho ela foi retirada, para saber onde ela poderá ser usada novamente.

 

d) Transistores

A variedade de tipos de transistores é imensa. Assim, existe uma boa quantidade de procedimentos que possibilitam o aproveitamento deste tipo de componente.

Leve em consideração a função num aparelho ,e tente aproveitar em outro na mesma função, mesmo que de tipo diferente, desde que outras características coincidam, como tensão de alimentação, polaridade, potência, etc.

Tenha a disposição um bom manual de equivalências para eventualmente fazer uma identificação do tipo que se pretende usar e se é equivalente ao original.

Teste sempre o transistor para saber se está em bom estado.

Identifique o transistor ou deixe-o na placa original para saber exatamente o que ele é ou o que faz.

 

e) Soquetes e suportes

Suportes de válvulas, radiadores de calor ou partes mecânicas são sempre úteis se estiverem em bom estado, pois podem ser reaproveitados numa reparação.

Guarde-os com cuidado.

 

f) Peças mecânicas

Existe uma infinidade de partes mecânicas de aparelhos que podem, ser reaproveitadas e que são muito difíceis de encontrar no mercado especializado.

Correias, roldanas e roletes de gravadores de som e videocassetes ou toca-fitas são exemplos de peças mecânicas que os técnicos devem guardar com carinho.

Igualmente, parafusos, separadores, caixas, tambores de sintonia e chaves também devem ser guardados pelo técnico cuidadoso que, quando menos esperar, vai precisar de uma delas para uma reparação.

 

g) Botões e pés

Botões (knobs) e pés de aparelhos podem ser úteis em reparações, já que uma improvisação pode acabar com a aparência de um aparelho muitas vezes conservado por muitos anos por um cliente cuidadoso.

 

h) Caixas

Dependendo do aparelho e do estado, é conveniente guardar suas caixas.

Acidentes que levem à quebra de rádios, pequenos gravadores e outros equipamentos podem ser reparados em alguns casos com cola, mas existem outros em que a caixa precisará ser substituída.

O técnico terá sorte se tiver uma delas guardada em sua oficina.

 

INTERCÂMBIO

Se o leitor é técnico, mas não é o único na sua cidade, deve fazer amizade com os demais e propor a troca de peças reaproveitadas em caso de necessidade.

Essa troca pode ser proveitosa para todos, pois o estoque disponível passará a ser a soma de todos os estoques e a probabilidade de encontrar uma peça que um cliente necessite num reparo será muito maior.

Se for possível fazer um intercâmbio com técnicos de cidades vizinhas isso será ainda melhor, pois as possibilidades de encontrar um componente ou mesmo parte mecânica de um equipamento aumentarão mais ainda.

Nestes dias de trabalho difícil os técnicos devem se unir para prestar um serviço melhor e, mais do que ª isso, não verem sua profissão desaparecer.