Escrito por: Newton C. Braga

Saber se um componente está ou não em bom estado é algo que todo praticante de eletrônica deve saber como fazer. Os testes de componentes, em sua maioria, são simples e exigem poucos recursos, no entanto, a maior dificuldade que o técnico encontra está grande variedade de procedimentos que existem para isso. Para cada tipo de componente existe um teste que revela se ele está ou não em bom estado. Como testar os principais componentes e que instrumentos usar para isso é o que veremos neste artigo.

Os iniciantes admiram quando um técnico experiente encosta as pontas de prova de seu multímetro nos terminais de um componente e logo diz se ele está ou não em bom estado, simplesmente observando o movimento da agulha indicadora.

No entanto, para chegar à conclusão de que o componente testado se encontra em determinado estado, é preciso conhecer o componente, e isso nem sempre é entendido pelos que pretendem ser profissionais da eletrônica.

Assim, o movimento da agulha não indica sempre que o componente está bom, e a ausência que ele se encontra ruim: existem situações em que o que ocorre é justamente o contrário!

Como testar componentes?

O primeiro ponto a ser considerado refere-se ao tipo de instrumento que deve ser usado.

 

O INSTRUMENTO DE TESTE

Evidentemente o instrumento ideal para o teste de componentes é o multímetro, que pode ser do tipo básico analógico como o mostrado na figura 1.

 

Esse instrumento possui uma agulha indicadora que se movimenta em função da intensidade da corrente que passa pelo componente que está sendo testado.

Para isso é preciso usar a escala OHMS x1, x10 ou outra que o instrumento disponha.

Quanto maior a escala, menor será a intensidade da corrente de prova e resistências mais altas podem ser medidas. Isso significa que a escolha da escala a ser usada num teste depende do tipo de componente que vai ser testado.

Se vamos testar um componente de baixa resistência como um interruptor, um fio ou alto-falante, usamos as escalas mais baixas de resistências (ohms x1 ou x10). Se vamos testar um componente de alta resistência como um resistor de valor alto ou um semicondutor devemos empregar as escalas mais altas (x100 ou x1k), conforme mostra a figura 2.

 

Veja que, para o teste de componentes o multímetro fornece a energia necessária a isso, o que significa que o componente deve estar fora do aparelho em que ele normalmente funciona.

Se testarmos um componente no circuito, com ele ligado, corremos o risco de queimar o multímetro.

Nos testes, é preciso considerar também que existem componentes que possuem polaridade.

Assim, se eles apresentam um determinado comportamento quando a corrente circula num sentido, o comportamento é completamente diferente quando ela circula no sentido oposto.

Este fato deve ser considerado, por exemplo, quando testamos diodos.

Assim, conforme mostra a figura 3, temos de observar a polaridade das pontas de prova do multímetro neste tipo de teste e normalmente fazer duas medições: uma com as pontas ligadas de certa forma e outra invertida.

 

Também deve ser considerado que existem componentes que não podem ser testados pelo multímetro. Em alguns deles, às diferenças que existem de comportamento quando eles estão bons e quando estão inutilizados são pequenas demais para serem detectadas pelo instrumento.

Para estes existem procedimentos especiais ou mesmo instrumentos especiais que fazem os testes de funcionamento.

É claro que, mesmo levando em conta estes componentes, a quantidade que sobra e que pode ser testada com o multímetro é grande o suficiente para compensar o investimento na compra de tal aparelho.

Assim, se o leitor ainda não tem um multímetro, é hora de pensar em adquirir um para sua bancada pois além de testar componentes ele pode ser útil numa infinidade de aplicações práticas na sua casa (medida na instalação elétrica) no carro, etc.

Mas, se o leitor ainda não tem um multímetro pode começar com a montagem de um testador de componentes mais simples, como o provador de continuidade.

Na figura 4 temos o diagrama e o aspecto da montagem de um provador de continuidade bastante simples e eficiente que funciona como pilhas comuns.

 

Quando testamos um componente e ele apresentar continuidade, ou seja, uma baixa resistência, o LED acende. Se não houver continuidade, ou seja, não passar corrente alguma pelo componente no teste, o LED permanece apagado.

Existe o estado intermediário que o componente apresenta uma resistência que pode variar entre 1 000 e 50 000 ohms em que o LED acende com brilho menor que o normal.

Baseados na indicação de continuidade dada por este provador ou então pelo multímetro, podemos provar diversos tipos de componentes.

 

 

TESTANDO COMPONENTES

Damos a seguir o procedimento para a prova de componentes mais comuns que são usados em nossas montagens e que também são encontrados em aparelhos comerciais.

 

a) Prova de condutores

Fios comuns podem ser testados no sentido de se verificar se estão ou não interrompidos. Assim, um fio bom deve apresentar continuidade quando encostamos as pontas de provas nas suas extremidades conforme mostra a figura 5.

 

Para o multímetro colocado na escala de resistência OHMS x1 ou x10 deve ter valores muito baixos, ou seja, o ponteiro deve ir todo para a direita se o fio estiver bom. Se estiver interrompido o ponteiro não se mexe. Para o provador de continuidade, o LED acende num fio bom.

 

b) Prova de fusíveis e pequenas lâmpadas

Pequenas lâmpadas têm baixa resistência de filamento quando boas, e os fusíveis tem uma resistência praticamente nula nessas condições. Se estiverem ruins ou queimados, a resistência deve ser infinita, ou seja, não deve haver continuidade.

Assim, conforme mostra a figura 6 basta verificar a continuidade destes componentes para conhecermos seu estado.

 

c) Alto-falantes e bobinas

As bobinas móveis dos alto-falantes assim como bobinas comuns devem ter baixa resistência ou continuidade se estiverem boas. Na prova, a agulha do multímetro na escala ohms x1 ou x10 vai toda para a direita (perto do zero) ou então o LED acende na prova de continuidade. Se as bobinas estiverem interrompidas, a resistência é infinita (a agulha não se mexe) ou o LED no acende.

Na figura 7 temos o procedimento para este teste.

 

d) Resistores

A prova de resistores com o multímetro é a mais confiável, pois podemos ler diretamente o valor do componente escolhendo a escala OHMS apropriada. Para o provador de continuidade o que temos é uma avaliação da resistência pelo brilho do LED.

 

Assim, se estivermos testando um resistor de valor baixo com o provador, digamos de 470 ohms e o LED acender com brilho reduzido, indicando que a resistência é maior que 10 000 ohms evidentemente, o resistor estará aberto.

 

e) Trimpots e potenciômetros

A prova de trimpots e potenciômetros é feita de modo semelhante a dos resistores, já que, com o multímetro podemos verificar o valor do componente, conforme mostra a figura 9.

 

No entanto, podemos realizar uma prova adicional de cursor que consiste em se verificar se a resistência varia suavemente quando giramos o eixo do componente. Esta prova é feita da forma indicada na figura 10.

 

Um salto brusco da agulha do instrumento ou variação brusca do brilho do LED nesta prova indica que existem problemas de contacto no cursor do potenciômetro ou trimpot.

 

 

f) Prova de capacitores

Os capacitores não podem ser provados de uma maneira muito segura com o multímetro ou o provador de continuidade. O máximo que estes aparelhos podem detectar é quando existe um curto-circuito entre as suas armaduras.

Assim, os capacitores devem sempre apresentar uma resistência muito alta na prova de continuidade que é feita conforme mostra a figura 11.

 

Para os capacitores de valores elevados (acima de 1 uF), ao tocarmos com as pontas de prova nos seus terminais, a agulha do instrumento dá um pequeno salto para voltar a posição de resistência infinita. Isso é normal, indicando que o capacitor se carregou durante a prova. Para o provador de continuidade ocorre uma pequena piscada do LED.

No entanto, se agulha for totalmente em direção ao zero ou o LED permanecer aceso, temos um capacitor em curto.

 

 

g) Diodos

Os diodos devem conduzir a corrente quando polarizados num sentido e não devem conduzir quando polarizados no sentido inverso. É baseado neste comportamento que fazemos o teste dos diodos, tanto com o multímetro na escala de resistências OHMS x10 ou x100 como com o provador de continuidade, conforme mostra a figura 12.

 

Quando o testamos com as pontas de prova numa posição, o diodo deve apresentar uma resistência baixa. O LED deve acender ou então a agulha deve se movimentar para a direita. Quando invertermos as pontas de prova o diodo deve apresentar uma resistência muito alta. O LED não deve acender ou a agulha do multímetro não deve movimentar-se.

Se nas duas provas tivermos continuidade (resistência baixa) o diodo está em curto, e se nas duas provas a resistência for alta o diodo estará aberto.

 

h) Transistores

O teste mais simples de transistores com os instrumentos indicados é um teste "estático" que verifica apenas o estado de suas junções.

Parte-se então da idéia de que o circuito equivalente a um transistor é o da figura 13 em que temos dois diodos em oposição.

 

Veja que esta equivalência é estrutural e não funcional o que significa que dois diodos ligados da maneira indicada não funcionam como um transistor.

Assim, o que fazemos é verificar a continuidade das junções dos diodos equivalentes em 6 medidas: 3 diretas e 3 inversas, conforme mostra a figura 14.

 

Para as medidas entre base e emissor e entre base e coletor devemos ter uma leitura de baixa resistência (continuidade) e outra de alta resistência (sem continuidade). Para a medida entre o coletor e o emissor, devemos ter sempre a leitura de alta resistência.

Se tivermos uma leitura de continuidade onde deveria não haver então o transistor se apresenta em curto. Se tivermos uma leitura de ausência de continuidade (alta resistência) onde deveria ser baixa, então teremos um transistor aberto.

 

i) Outros componentes

Existem muitos outros componentes que podem ter seu estado avaliado com os instrumentos indicados. Em futuros artigos voltaremos a abordar o assunto, lembrando apenas que estes componentes, por serem essenciais às montagens são os que mais merecem a atenção e que por isso foram os abordados neste artigo.

Para os circuitos integrados, que são os componentes de teste mais problemático existem procedimentos especiais.