Escrito por: Newton C. Braga

Este primeiro artigo de uma série, em que ensinamos a utilizar o multímetro em testes e medidas em instalações elétricas foi adaptado de nosso livro "Instalações Elétricas Sem Mistérios" de 2005. Veja no final do artigo nota sobre as normas atuais e mais artigos para serem consultados.

 

 

O MULTÍMETRO

O multímetro ou multitester sempre foi um aparelho típico do reparador de televisores, ou seja, do técnico eletrônico.

No entanto, a queda constante do preço deste tipo de instrumento e a entrada no mercado de tipos populares indicados para os mais diversos trabalhos, tornaram-no também indispensável para o eletricista, mesmo o amador.

Com a possibilidade de medir e testar instalações elétricas, componentes, aparelhos eletrodomésticos, o multímetro é de grande importância para todos que desejam fazer trabalhos elétricos.

Na figura 1 temos um exemplo de multímetro de baixo custo indicado para uso do eletricista.

 

Figura 1 - Multímetro analógico comum de baixo custo - indicado ao eletricista.
Figura 1 - Multímetro analógico comum de baixo custo - indicado ao eletricista.

 

 

Este é o tipo de aparelho que recomendamos aos nossos leitores e que ensinaremos como usar neste capítulo. Conforme podemos ver, este multímetro contém um indicador com um ponteiro que corre em diversas escalas.

Estas escalas correspondem às grandezas elétricas que o multímetro pode medir e que são:

 

a) resistências

b) tensões contínuas

c) tensões alternadas

d) correntes

 

Alguns tipos sofisticados podem medir outras grandezas como, por exemplo, fazer o teste de continuidade, teste de transistores, medir capacitâncias, indutâncias, freqüências.

Evidentemente, quanto mais coisas o multímetro pode medir, maior será o seu custo e mais preparo do usuário é exigido para explorar todos os seus recursos.

Vejamos como o multímetro mede cada uma dessas grandezas e onde ele pode ser útil para o eletricista:

 

A) RESISTÊNCIA

Existem dois tipos de resistência que podem ser medidas em eletricidade.

A primeira corresponde à resistência apresentada por um fio, uma conexão ou um aparelho eletrodo­méstico.

Esta resistência deve ser a menor possível no caso de ligações e fios, para que toda a corrente possa passar sem perdas, enquanto que as resistências apresentadas pelos aparelhos eletrodomésticos devem ser maiores que zero para que eles possam receber convenientemente a energia que precisam para funcionar.

Uma resistência muito baixa num eletrodoméstico significa um curto-circuito, enquanto uma resistência infinita significa que ele não pode deixar a corrente passar e portanto está "aberto".

As resistências são medidas em Ω (W) e os seus múltiplos. São comuns... assim, o quilohm (kW) que equivale a 1 000 W e o megohm (MW) que equivale a 1 000 000 W.

Uma resistência considerada baixa em eletricidade é a inferior a 2 ou 3 W. Uma resistência média estará na faixa de uns 20 a 2 000 W e uma resistência muito alta é a que está acima de 100 000 W.

 Assim, os fios comuns apresentam resistências da ordem de fração de ohm para cada 10 metros, bem como um interruptor fechado ou um curto-circuito.

 Um eletrodoméstico comum tem resistências entre 10 W para um chuveiro de alta potência até 100 W ou 200 W para uma lâmpada comum incandescente (dependendo da potência).

 As resistências são medidas com o multímetro sempre com os aparelhos ou ligações desligadas, conforme a figura 2.

 

Figura 2 - Zerando o multímetro antes da medida de resistências.
Figura 2 - Zerando o multímetro antes da medida de resistências.

 

 O procedimento para medir uma resistência é o seguinte:

 

a) Desligue a alimentação do dispositivo cuja resistência deve ser medida, retirando-o do circuito, se possível.

b) Coloque o botão seletor de escalas do multímetro numa escala apropriada para a medida da resistência que se espera.

Para medidas de baixas resistências (na faixa de 0 a 100 W, por exemplo) use a escala Ω x1 ou Ω x 10.

Para medidas de resistências mais altas, na faixa de 100 a 10 000 W, use a escala Ω x10 ou Ω x100.

Para medidas de resistências muito altas, acima de 10 000 W, use a escala Ω x100 ou Ω x1k.

 

c) Encoste uma ponta de prova na outra e ajuste o botão ZERO ADJ (ajuste de nulo) de modo que a agulha do instrumento indique zero (figura 200).

 

d) Encoste as pontas de prova do multímetro nos terminais do componente ou extremos dos fios que devem ser testados.

 

e) Faça a leitura de resistência na escala correspondente do instrumento.

Mais adiante daremos os modos de testar diversos dispositivos eletrodomésticos comuns.

 

B) TENSÕES ALTERNADAS E CONTÍNUAS

As tensões encontradas na rede de energia são alternadas e estão na faixa de 0 a 240 V, conforme vimos. No entanto, o multímetro também mede tensões contínuas que podem ser encontradas em pilhas e baterias além de aparelhos eletrônicos.

Como o procedimento para os dois tipos de medida é o mesmo, mudando apenas a seleção do aparelho de acordo com o tipo de tensão (alternada ou contínua), as explicações dadas a seguir são válidas para os dois casos.

 

a) Ajuste a chave seletora de escalas do multímetro de acordo com a tensão que espera encontrar no circuito analisado.

Para trabalhar na rede de energia de corrente alternada, esta chave deve normalmente ser ajustada em VOLTS AC 0-300 que é um valor comum na maioria dos aparelhos, observe a figura 3.

 

Figura 3 - Medindo tensões alternadas.
Figura 3 - Medindo tensões alternadas.

 

Para medir tensões contínuas, o instrumento deve ser ajustado para a escala DC ou CC apropriada.

Em alguns tipos de multímetros existe uma tomada separada para a medida de tensões alternadas (AC ou CA). Isso deve ser verificado no manual do aparelho.

Se o instrumento não tiver a escala indicada, deve ser escolhida a mais próxima, mas sempre acima de 250 V, a não ser que o leitor tenha certeza que no local a ser testado existe uma tensão inferior (uma rede de 110 ou 127 V, por exemplo).

 

IMPORTANTE: Nunca tente usar o multímetro na medida de tensões sem fazer este ajuste, pois a conexão do instrumento a um ponto qualquer de um circuito energizado com alta tensão causará sua queima imediata se ele estiver preparado para medir resistências ou correntes.

 

b) Feito o ajuste da escala, encoste as pontas de prova nos pontos entre os quais se deseja saber a tensão (figura 4)e leia o valor diretamente na escala correspondente.

 

Figura 4 - Medindo a tensão num ponto de luz.
Figura 4 - Medindo a tensão num ponto de luz.

 

 Se o ponteiro não se mexer, é sinal que não existe tensão no local.

 

C) CORRENTES

Nos trabalhos com redes de energia, raramente é necessário fazer medidas de corrente, mesmo porque a maioria dos multímetros comuns mede apenas correntes contínuas (DC mA).

Estas correntes contínuas de baixas intensidades normalmente aparecem nos circuitos eletrônicos.

Para a medida de correntes em instalações elétricas, o eletricista pode contar com um aparelho muito mais interessante e seguro, que é o amperí­metro tipo "alicate" mostrado na figura 5. Para usar este instrumento, basta apertar o botão que separa as pinças e fazer com que o fio que conduz a corrente a ser medida se encaixe entre elas.

 

Figura 5 - Um amperímetro tipo alicate.
Figura 5 - Um amperímetro tipo alicate.

 

 Soltando o botão de modo que as pinças fechem, a leitura pode ser realizada na escala apropriada.

 O amperímetro-alicate funciona com base na intensidade do campo magnético gerado pela corrente e é extremamente seguro, pois não faz contato algum com o circuito. Com ele é possível medir a corrente num eletrodoméstico ou numa instalação, detectando eventuais curto-circuitos ou problemas de funcionamento.

 Alguns amperímetros deste tipo incluem ainda o voltímetro de corrente alternada, caso em que substituem o multímetro de que falamos neste item.

 

Quando este artigo foi escrito ainda não estavam em vigor as normas NBR5410 que estabeleceram diversas mudanças para a maneira como as instalações elétricas devem ser feita e também para o formato das tomadas de força, com a adoção do terceiro pino. Artigo sobre estas normas deverá estar disponível no site. Os conceitos dados valem para instalações elétricas antigas, como ainda são encontradas em muitos locais de nosso país. Para instalações novas, os leitores devem consultar as normas vigentes.