A economia mundial muda rapidamente em função dos enormes avanços tecnológicos principalmente do setor de eletrônica e informática. No entanto, ao lado do mercado que se adapta de uma forma lenta causando crises de desemprego, o próprio ensino das matérias comuns e técnicas sofre um impacto para o qual não está preparado. Sem mudanças nos currículos há muito tempo as escolas não preparam os jovens para enfrentar as dificuldades do mercado atual e mais do que isso: não os preparam o suficiente para entender o próprio mundo tecnológico que os cerca. Neste artigo pretendemos abrir um fórum de debates com nossos leitores, principalmente professor da área no sentido de encontrar também novos caminhos para o ensino técnico e mesmo de ciências do segundo grau em nossas escolas.

 

Se bem que o artigo tenha sido publicado em 1997, o tema ainda é atual merecendo uma ampla reflexão por parte dos leitores que são professores ou responsáveis pelos currículos de escolas técnicas.

Um amigo me presenteou recentemente com um livro encontrado num sebo que veio fortalecer mais ainda a crença que tenho na necessidade de se modificar rapidamente o ensino tanto de eletricidade nos cursos de física do segundo grau como da própria eletrônica nas escolas técnicas.

De fato, o velho compêndio, usado nos colégios estava "atualizadíssimo" seguindo a legislação mais atual na época, para o ensino técnico, datando de 1904!

Indo ao capítulo adicionado, para atender as necessidades da época nos deparamos com a explicação detalhada dos mais modernos avanços tecnológicos para a época que incluíam o telégrafo sem fio e as experiências feitas por Hertz para gerar sinais de rádio.

Nos capítulos anteriores, despertaram-nos a atenção as explicações sobre o princípio de funcionamento das pilhas e das lâmpadas.

Ora, se levarmos em conta que naquela época os equipamentos eletrônicos (ou elétricos) com que o aluno se depararia no dia a dia depois de sair da escola não seriam mais do que aqueles ensinados, podemos dizer que ele estava preparado para entender a tecnologia de seu mundo.

No entanto, se folhearmos um livro de física do colégio em nossos dias e tentarmos fazer uma comparação com aquele perceberemos o enorme problema que devemos enfrentar.

Na parte de eletricidade encontramos pouquíssimas referências ao princípio de funcionamento de qualquer aparelho de uso doméstico. Nem sequer se arranha naquilo que se denomina "eletrônica" que certamente seria deixado para os cursos técnicos, mesmo tendo-se em conta que o universo de equipamentos eletrônicos que todos nós, no dia a dia, usamos é enorme.

O que isso significa para o estudante pode ser constatado nas dificuldades encontradas não só no dia a dia com equipamentos que podem ser considerados comuns, como também ao se tentar enfrentar um curso especializado, um degrau acima, como por exemplo a engenharia.

Salta-se da Lei de Ohm e dos circuitos de Kirchoff diretamente para o funcionamento de computadores, rádio, televisão e outros equipamentos de uma forma que a maioria encontra uma dificuldade enorme para entender.

 

 

O QUE FAZER

Não há dúvida de que o currículo do segundo grau está defasado em relação ao mundo atual e todos nós compreendemos que existe uma necessidade de modificações.

Sabermos de inúmeros grupos que estudam estas modificações, se bem que para o caso específico do ensino de eletricidade ainda não tenhamos nos deparado com eles em nosso país. (Na Internet temos encontrados diversos grupos que debatem isso no mundo inteiro)

Por outro lado, seria uma pretensão muito grande de nossa parte tentar incluir a eletrônica, na sua forma mais avançada como é lecionada hoje nas escolas técnicas, nos cursos convencionais de segundo grau.

Mas, se a ausência de noções fundamentais dessa ciência é algo tão indesejável como a introdução de um curso técnico completo, existe um meio termo que pode ser muito interessante se bem planejado e para isso temos algumas ideias para submeter aos leitores, professores do setor interessados.

O que se pode fazer é modificar o ensino de eletricidade no curso colegial, dado na disciplina de física, de tal forma que ele tenda às aplicações elétricas e eletrônicas do mundo atual, aquelas que o aluno deverá enfrentar quando for trabalhar ou mesmo no dia a dia.

Não estamos falando com isso que o aluno deva aprender a mexer com computadores, como hoje já se faz incluindo-se a disciplina de informática em grande parte das escolas.

O que sugerimos é que a eletricidade do segundo grau seja dirigida de tal forma que o aluno entenda, pelo menos de uma forma básica, como funciona o computador e outros equipamentos eletrônicos.

Existem diversos assuntos importantes, alguns bastante simples de entender e que até podem resultar em aulas práticas muito interessantes que poderiam ser incluídos no currículo, desmembrando a eletricidade do colegial e eletricidade e eletrônica.

Partindo do ponto em que se aprende os circuitos elétricos simples, noções de capacitores, introduz-se o ensino dos diodos e dos transistores de uma forma simples, com enfoque para a função do transistor funcionar como chave e suas aplicações lógicas (paralelamente a numeração binária e hexadecimal seria incluída no curso de matemática).

As aplicações destes componentes em circuitos simples que são a base de todos os equipamentos eletrônicos e principalmente do computador, permitiria ao aluno visualizar os equipamentos de uma maneira melhor.

Posteriormente, o princípio de funcionamento de muitos aparelhos de uso doméstico partindo de coisas simples como rádio, TV e chegando ao computador poderiam ser incluídas de uma forma que permitisse ao aluno visualizar de uma forma um pouco mais profunda que a atual o que ocorre no seu interior com os circuitos.

 

AS VANTAGENS

Qual a vantagem disso?

Uma quantidade enorme de vantagens pode ser enumerada para o aluno que assimilar bem estes conhecimentos, tanto em termos de realização pessoal como profissional.

* A primeira vantagem seria a possibilidade de usar melhor qualquer tipo de equipamento eletrônico ou elétrico que hoje faz parte do dia a dia. A maioria das pessoa não usa os equipamentos que possui com todo seu potencial simplesmente porque não tem uma idéia de como funcionam. Televisores mal sintonizados, equipamentos de som com ajustes incorretos, secretárias eletrônicas que não tem todas as funções disponíveis aproveitadas, controles remotos de televisores que não são totalmente aproveitados são alguns exemplos. Isso sem se falar na probabilidade muito maior do usuário causar dano ao próprio equipamento por não ter noções de como usá-lo?

A maioria das pessoas tem uma noção correta do que ocorre se um aparelho ajustado para a rede de 110 V for ligado em 220 V? E vice-versa?

* Profissionalmente, o conhecimento do princípio do funcionamento de certos equipamentos pode ter vantagens importantes para o candidato a um trabalho: ele pode aprender muito mais facilmente a trabalhar com determinado equipamento se tiver noções básicas de eletrônica que permitam saber como ele funciona.

* Na compra de um equipamento, quem possuir conhecimentos básicos sobre seu princípio de funcionamento, terá muito mais facilidade em escolher o tipo certo para a aplicação que deseja, não ser enganado pelo vendedor e além disso economizar, não gastando mais com algo que pode ser melhor, mas que não atende às suas necessidades.

* No apoio ao trabalho profissional em outros campos.

Hoje em dia, em todos os campos de atividade são usados equipamentos eletrônicos e isso não significa apenas o computador. Em especial na medicina, temos uma quantidade enorme de equipamentos eletrônicos que normalmente são fonte de insegurança para os médicos que, além de saberem apenas o essencial para seu manuseio, vivem com o receio constante de não saber o que fazer em caso de pane.

O conhecimento de princípios básicos de eletrônica, por parte dos médicos, é algum fundamental para o bom uso de seus equipamentos e muitos profissionais já têm plena consciência disso. Conhecemos uma boa quantidade de médicos que fizeram cursos básicos de eletrônica justamente tendo em vista o uso de equipamentos de sua área.

Um médico que conheça bem o princípio de funcionamento do equipamento que manuseia, trabalha com muito mais segurança, usa melhor os recursos do equipamento e sabe exatamente quando e como evitar algum tipo de problema com esse equipamento.

Isso também pode ser transportado ao engenheiro de outras áreas como a eletricidade, a mecânica e a química que contam com centenas de recursos eletrônicos, que infelizmente a maioria dos profissionais, apenas conhecem do painel para fora (sabem apenas como interpretar suas indicações e atuar sobre os controles).

 

 

 

PEDIMOS SUGESTÕES

O problema está aí e merece ser discutido. Pedimos aos leitores, professores dos cursos técnicos que enviem suas sugestões. O que deve ser modificado no currículo do ensino técnico para torná-lo mais condizente com nossa realidade social e econômica? O que deve ser modificado no currículo do curso de física para que o aluno não encontre um vácuo entre aquilo que ele aprendeu e aquilo que ele precisa saber para estar em dia com a tecnologia usada nas suas atividades tanto normais como profissionais?

Enviem suas sugestões e artigos.