Nos dias frios de inverno e mesmo de outras estações, quando a umidade relativa do ar diminui, um problema sério pode afetar tanto as pessoas como os equipamentos eletrônicos sensíveis: a eletricidade estática.
A ESD, ou descarga eletrostática, é a causa de uma grande quantidade de falhas em equipamentos, devendo ser adotadas medidas especiais para que seja evitada. Mas, vamos à origem do problema. Quando atritamos dois corpos de naturezas diferentes, elétrons podem ser arrancados de um, acumulando-se no outro. O resultado disso é que esses corpos ficam carregados de eletricidade, ou seja, eletrizados. Um deles fica positivo (falta de elétrons) e o outro negativo (excesso de elétrons). Como o ar seco é um excelente isolante, as cargas permanecem acumuladas nesses corpos por um bom tempo. Diversas são as condições naturais que podem fazer com que corpos se carreguem de eletricidade. O vento atritando num carro (que está isolado do chão), os próprios pneus quando ele se movimenta, uma pessoa que caminhe num tapete, uma régua ou caneta esferográfica atritada numa blusa de lã, geram cargas elétricas que se acumulam nos corpos. Dita um princípio da física (eletricidade) que, qualquer corpo carregado de eletricidade em contacto com a terra descarrega-se. Uma série de fenômenos ocorre em vista de tudo isso. Por exemplo, quando você caminha num carpete (que é um isolante) e o atrito de seu sapato libera cargas elétricas que se acumulam em seu corpo. Por incrível que pareça essas cargas podem chegar aos 10 000 volts! Quando toca na torneira de metal que está ligada à terra através da canalização, ocorre a descarga. As cargas que estão acumuladas no seu corpo fluem rapidamente para a torneira e dela para a terra, causando-lhe um “belo choque”.
- A torneira deu choque! – dirá você, quando na realidade foi você que “deu choque na torneira”, descarregando as cargas que estavam acumuladas em seu corpo.
Imagine agora, se você, com toda a carga acumulada no seu corpo, resolve mexer em alguma parte interna de um equipamento eletrônico como, um computador, um DVD player, um telefone celular. Inclua-se nisso, o fato de você segurar pelos terminais os pinos de um componente eletrônico sensível que você acabou de comprar como um novo pente de memória ou cartão para sua máquina fotográfica digital. Com o simples toque, parte das cargas acumuladas no seu corpo flui para o componente ou aparelho e a descarga que ocorre. Mesmo sendo imperceptível para você, é mais do que suficiente para causar a queima dos componentes. Ocorre a ESD! Um outro fenômeno pode ocorrer com seu carro. Estacionado ao vento, as cargas se acumulam na sua estrutura metálica que está isolada do chão pelos pneus. Cargas que chegam a milhares de volts são comuns nos dias muito secos. Você, sem saber disso, vai abrir a porta do carro e ao tocar na maçaneta leva mais uma vez um choque (isso também pode acontecer quando você desce do carro e toca com os pés no chão).
- O carro deu choque! – realmente, desta vez ele deu! Seu corpo fez uma “ponte” para as cargas fluírem da estrutura metálica do veículo para a terra e a corrente de descarga que ocorreu causou o forte choque.
Finalmente, descobriu-se que o acúmulo de cargas positivas tende a atuar sobre as terminações nervosas, afetando a transmissão dos impulsos elétricos. O resultado disso pode ser o aparecimento de um desconforto físico, dores de cabeça, irritabilidade e até o disparo de crises alérgicas em muitas pessoas. Quando muitos alergistas recomendam que se retirem tapetes e carpetes das casas em que existam pessoas sensíveis, não é apenas a possibilidade de proliferação de ácaros que está sendo evitada, mas também o acúmulo de cargas elétricas. Os ionizadores (**) para ambientes com pessoas alérgicas, hoje são aparelhos comuns, encontrados nas casas especializadas. Esses aparelhos espalham cargas negativas no meio ambiente, de modo a neutralizar eventuais cargas positivas (que são as que incomodam), ajudando a evitar crises de alergia, enxaquecas, e até mesmo causando alívios de dores crônicas. Para você que está se sentindo mal no seu ambiente de trabalho, em casa, não tente culpar os equipamentos eletrônicos que você usa, como o computador. Verifique se a presença de carpetes, ou mesmo o uso de um sapato (tênis) com solas isolantes muito grossas que facilitam o acúmulo de cargas em seu corpo são os causadores do problema. A crença de que tirar os sapatos e pisar no cimento frio (bom condutor que descarrega a eletricidade do corpo) traz alívios para os mal-estares tem fundamento científico.
(*) Newton C. Braga é diretor técnico das Revistas Saber Eletrônica e Eletrônica Total, colabora com as revistas Mecatrônica Fácil e Mecatrônica Atual, tem mais de 100 livros publicados no Brasil e Exterior e é professor de Mecatrônica do Colégio Mater Amabilis.
(**) Não confundir com ozonizadores que são aparelhos purificadores, já que o ozônio (O3) tem ação bactericida.
Obs: Este artigo foi publicado originalmente na revista Novitá de Guarulhos-SP em Julho de 2007;