Desde os primórdios da história, o homem adquiriu o hábito de se reunir em grupo, seja para caçar, lavrar a terra, enfim para aprender. Estes grupos foram formados para que houvesse a soma de conhecimentos e ajuda mútua. Em mecatrônica, "somar" conhecimentos também é uma excelente ideia.

Márcio José Soares

https://www.arnerobotics.com.br/ 

Nota: Este artigo saiu numa Mecatrônica Fácil de março de 2004. Nos tempos atuais, esta ideia evoluiu para os chamados espaços makers ou fablabs.

 

Sempre que falamos em "clube", nossas mentes nos desviam para um meio físico com sede, quadras, piscinas, etc., mas um clube de Mecatrônica não é exatamente isso. A ideia básica de um clube de Mecatrônica está no "encontro de ideias e pessoas" interessadas no assunto. Não é importante o local, nome ou mesmo o fato de (ser ou) não criado um clube com nome, logotipo, sede, etc. O mais importante é ter com quem dividir as informações recebidas e obter outras, debater ideias, enfim compartilhar a informação (bem maior do século XXI).

Pensem a respeito: existem grupos com os mais variados propósitos, ligados ou não por um nome ou logotipo (bandeira): clubes de aeromodelismo, clubes de ciências, clubes de "fogueteiros" (espaço modelismo), clubes de eletrônica, e porque não clubes de Mecatrônica?!?

 

O GRUPO

Um grupo deve ser formado sempre por pessoas com interesse no assunto, que em nosso foco é a Mecatrônica. Se o leitor é aluno em algum curso de Mecatrônica, sem perceber já faz parte de um "grupo" que busca um mesmo objetivo: seu desenvolvimento nesta área. Porém, o leitor que ainda não fez um curso poderá montar um grupo com amigos de escola, amigos do condomínio ou vizinhanças. Lembrando sempre que o objetivo é aprender cada vez mais sobre o assunto: a mecatrônica.

Formado o grupo, será feita uma abordagem sobre um projeto em comum. Isso mesmo, comum! É muito importante ao jovem que pretende ingressar no mercado de trabalho saber trabalhar em grupo. Aquela imagem do "gênio" de temperamento "difícil", individualista e que pensa saber tudo, já não é mais aceita pelas empresas. O mercado busca pessoas dinâmicas e que saibam trabalhar em grupo. Isso é fundamental, pois a velocidade com que as coisas acontecem tem que ser grande. E trabalhando em grupo, a "velocidade dos acontecimentos" é sempre alta e constante.

Portanto, a divisão de tarefas é valiosa, e o jovem deve aprender a trabalhar isso desde agora, preparando-se cada vez mais para o futuro, que não tardará.

 


| Clique na imagem para ampliar |

 

 

 

O CLUBE

 

Pensando nisso, e partindo de uma solução antiga e muito funcional, podemos propor como solução uma união. A formação de um clube de Mecatrônica, grupo de estudos, ou seja, lá como cada um vá chamar o grupo, não deve ser feita com o único intuito de "rachar as contas". A formação de um grupo pode proporcionar muito mais do que isso. E o principal ponto obtido é o aprendizado.

O leitor notará no decorrer do texto várias sugestões e dicas a respeito do que pode ser inserido e repartido pelo grupo. Porém, verá que a única coisa que não se divide é o aprendizado. Este, pelo contrário, só tende a crescer, aumentando em cada indivíduo do grupo.

 

 

DIVISÃO DOS CUSTOS E REAPROVEITAMENTO DOS MATERIAIS

Não nos é permitido pensar no aprendizado de Mecatrônica ou microrobótica sem lembrar dos custos disso. Quantos projetos já não foram pensados pelo leitor e "cortados" por uma questão de custos?!

Infelizmente, a Mecatrônica e a microrobótica são caras. Os itens necessários, em sua maioria, são importados e, quando nacionais, dependem de insumos que por sua vez são importados e também têm seus custos calculados em dólar e, como sabemos, nossa moeda tem uma desvalorização significativa em relação a esse.

Agora, imagine-se na necessidade de montar um projeto, com um custo estimado em R$200,00, por exemplo. Desembolsar esta quantia não é nada fácil para a maioria dos estudantes e hobistas. E o que fazer, desistir do projeto? Nunca !!!

Se o leitor é membro de um "grupo", pode propor a este a divisão dos custos para a montagem do projeto. Assim, supondo um pequeno grupo com quatro pessoas, o custo seria de R$50,00 para cada um. Comparando os valores, percebemos nitidamente a vantagem da formação dos "Clubes de Mecatrônica"

Muitos hobistas têm o hábito de "guardar para sempre" um determinado projeto. Esse pensamento não é equivocado, porém ele agrava os custos. Para que serve um determinado projeto empoeirando em uma prateleira, se o mesmo não terá mais uso? Qual sua finalidade?! Pode-se dizer, nenhuma. Porém, o que fazer, jogá-lo fora?! Não.

Se em um ano um estudante realizar três projetos com um custo de R$ 300,00 cada, terá ao final um custo total de R$ 900,00 que é considerado bem alto para muitos.

Mas, se analisarmos bem, muitos projetos utilizam os mesmos componentes. Servos, microcontroladores, motores, etc., são comuns a vários projetos e podem ser reaproveitados. Estudando novamente os custos apresentados, mas desta vez com uma visão de reaproveitamento de materiais (aqueles que estão pegando poeira na prateleira), poderíamos achar um custo de, por exemplo, R$ 450,00! Metade do valor gasto!!!

Pensando assim, podemos entender que o tempo de vida de um projeto deve ser igual ao tempo de aprendizado com este. Enquanto pesquisas, alterações, melhoramentos e estudos forem realizados com o projeto, nenhum outro estará em desenvolvimento. A partir do momento que o projeto for considerado pronto, já demonstrado e não está mais em uso, ele poderá ser reutilizado na montagem de um próximo, e assim sucessivamente.

Portanto, um "indivíduo" pode oferecer ao grupo seus vários projetos "empoeirados" e sem uso. Somando-se tudo, o número de projetos futuros possíveis sobe muito, sem contar os custos necessários para os complementos que também caem. E lembre-se, depois de pronto, ele não vai para a prateleira e seguirá em frente sob a forma de um novo projeto, e assim por diante. Parafraseando Lavoisier, "Em Mecatrônica nada se perde, tudo se transforma".

Nesta altura, o leitor deve estar pensando, mas como fazer para falar sobre meus projetos?! Como mostrar o que já fiz?! Simples! Crie arquivos sobre o projeto, documente tudo: funcionamento, circuitos, desenhos, fotos e, se possível, até pequenos vídeos. E lembre-se de divulgá-los. A Internet é um excelente meio de divulgação e troca de informações e você ainda poderá usar revistas especializadas como a Mecatrônica Fácil, por exemplo, para torná-lo conhecido.

 

 

A BANCADA

As ferramentas são outro ponto, considerado por muitos, como mais um fator agravante dos custos. Recentemente, a Revista publicou o artigo "A Bancada do hobista/estudante de Mecatrônica", que trouxe algumas dicas para a obtenção de materiais e ferramentas necessárias para a prática da Mecatrônica e microrobótica. Nesse artigo, frisou-se que os materiais deviam ser adquiridos de acordo com as necessidades e possibilidades de cada um.

E, partindo do pressuposto que a maioria levaria muito tempo para montar a "Bancada dos Sonhos" individualmente, poderiam montá-la a partir da união dos itens de bancada de cada indivíduo do grupo. Vejam que a ideia não é montar uma bancada física em um determinado espaço, mas sim um "banco de dados" das ferramentas de cada um. Durante uma etapa na execução de um determinado projeto em conjunto que requeresse uma determinada ferramenta"X", que sabidamente estaria disponível na bancada do "Sr. Y", esta poderia ser realizada nesta bancada, por exemplo.

Desse modo, essa união não significa a perda da posse das ferramentas de cada um. Ela representa a possibilidade de se utilizar uma determinada ferramenta que, no momento, não está presente nas outras bancadas do grupo. Essa divisão permite uma economia significativa e aumenta a viabilidade do acréscimo de "receita" para um dado projeto. Não devemos esquecer, porém, dos cuidados básicos com as ferramentas alheias. O grupo deve utilizá-las com o mesmo cuidado com que cada um usa suas próprias ferramentas.

 

 

A BIBLIOTECA

Como frisamos no início deste artigo, a informação é o bem maior do século XXI. Vivemos uma nova revolução, muito parecida com a revolução industrial do século XIX. É a revolução da informação. Hoje, sabemos que as empresas buscam profissionais capacitados em várias atividades para um determinado setor. Podemos, então, descartar aquela imagem antiga do "apertador de parafusos", onde cada um desenvolvia uma determinada função dentro de seu setor. A visão hoje é outra. É fundamental conhecer todas as etapas de produção e dominar bem os pontos chaves de cada setor. Muitos chamam isso de dinamismo profissional ou atitude profissional. Podemos assim afirmar que é necessário conhecimento (informação) para assegurar uma vaga de trabalho.

Porém, em um grupo de trabalho a atitude maior não deve ser a defesa da informação individual, mas o compartilhamento da mesma. Ninguém estará "segurando" uma vaga assim, pelo contrário estará assumindo sua total incapacidade de liderança e/ou trabalho em grupo.

Consequentemente, em um "Clube de Mecatrônica" toda a informação deve ser compartilhada. E a criação de uma biblioteca comum a todos é o melhor ponto de partida. Se alguns membros do grupo possuem alguns exemplares de determinadas revistas e outros possuem outras, e ainda outros dispõem de livros, unindo-se tudo isso, pode-se chegar a uma coleção completa e muito interessante de revistas e livros. E o grupo pode ainda dividir os custos de uma assinatura de uma certa publicação, comprar um livro em conjunto considerado de interesse por todos, etc. Percebemos que a divisão da informação não subtraiu, na verdade ela acrescentou.

O uso de bibliotecas públicas ou de escolas também é uma excelente forma para se começar. Algumas reuniões podem e devem ser marcadas nestas, assim pode-se absorver mais informações com a divisão de leituras e pesquisas, em um menor espaço de tempo. Apenas lembrando que os membros deverão falar sobre o que foi encontrado e absorvido individualmente. Considere estas bibliotecas como uma estante da biblioteca do grupo.

A Internet possui disponível um volume de informação enorme sobre Mecatrônica e microrobótica. Realizar reuniões para "navegar" na WEB também é uma excelente ideia. Todo o material pode ser impresso ou gravado, e assim acrescentado à biblioteca, sob a forma de "arquivos digitais".

 

 

EVENTOS, CONCURSOS E FEIRAS

O número de eventos e concursos sobre Mecatrônica e microrobótica no Brasil, infelizmente, ainda é muito pequeno. Os poucos concursos e/ou campeonatos são realizados por Universidades e/ou escolas e sua divulgação não atinge a grande maioria. Procure estar atento a estes através da Internet e revistas especializadas, como a Mecatrônica Fácil e Mecatrônica Atual. Mesmo que não seja possível participar diretamente do evento, procure prestigiá-lo com a presença do grupo. Os contatos e o aprendizado em um evento ou campeonato é muito grande. Aprende-se muito e também possibilita fazer novas e valiosas amizades.

Em muitas escolas públicas e particulares, as Feiras de Ciências também são uma excelente forma de absorção de novos conhecimentos. Procure participar demonstrando um projeto do grupo. Sabemos que a Mecatrônica é a união de vários setores da ciência/ tecnologia como: Mecânica, Eletrônica e Informática e, com certeza, despertará o interesse de todos.

 

 

DICAS PARA MONTAR UM CLUBE DE MECATRÔNICA

Para o leitor que decidir montar um clube, temos algumas dicas importantes que poderão ajudar muito.

Não crie cargos como "presidente", "tesoureiro", "assessor", etc. Procure organizar as necessidades sem pressões nos membros. Tudo deve ser transparente. O entendimento entre todos deve ser o ponto máximo, permitindo assim que todos participem de todas as decisões. Saber debater e aceitar as ideias é tão importante quanto defender as próprias ideias. "É necessário aprender a ouvir antes mesmo de falar".

Defina os projetos que trarão os melhores resultados no quesito aprendizagem para o grupo. Lembre-se sempre que alguns membros podem não ter o mesmo nível de conhecimento entre si e projetos muito complexos podem desmotivar alguns integrantes do grupo. Debata sempre com o grupo a respeito dos projetos e os fins dos mesmos. Promover projetos mais simples aumenta a integração do grupo, pois possibilita a participação de todos.

Muitas pessoas que não pertencem ao grupo poderão ajudar, mas para isso é necessário que elas saibam sobre a existência do mesmo. Hoje, a Internet é o melhor método para divulgar o grupo, além de revistas, e outros. Divulgue também seu grupo para amigos, parentes, escola, etc.

Sua escola poderá ajudá-lo e muito. Muitos diretores e professores têm interesse no assunto e poderão colaborar, inclusive participando do grupo, ampliando ainda mais os conhecimentos e recursos do grupo, fornecendo informações, espaço para as reuniões e até mesmo ajuda para a aquisição dos materiais. A Mecatrônica já está presente em muitas escolas que, impulsionadas pela nova Lei de Diretrizes e Bases, podem explorar melhor o capítulo dos Temas Transversais, melhorando o aproveitamento escolar de seus alunos. Converse com seu diretor e professores a respeito.

 

 

CONCLUSÃO

A formação de um clube depende (ou não) de cada um. Nomes e logotipos não são mais importantes que os indivíduos do grupo. O aprendizado em grupo é sempre maior e mais rápido que o individual, além de divertido. Agrupem-se e bons projetos!!!

 

 

4° Encontro Robô Clube

No dia 20/12/2003 aconteceu em São Paulo o 4° Encontro do Robô Clube. O encontro foi realizado na sala da Symphony Robótica Educacional, na Casa Verde. Infelizmente muitos não puderam comparecer, pois a lista conta com membros espalhados por todo território nacional. Este "clube", formado principalmente através de uma lista de debates (maiores informações em http://www.roboclube.com.br) visa auxiliar seus membros na idealização e construção de robôs dos mais variados tipos.

Muitos projetos foram mostrados como robôs e placas para aplicação industrial (vejam as fotos). O ponto alto no encontro foi a troca de informações entre os membros presentes, além é claro das amizades feitas.

Todos os projetos mostrados merecem destaque, porém o que mais chamou a atenção foi o "Carro com câmbio automático". O Gol do Sr. Oscar troca as marchas sozinho, controlado por um uDX Dexter, apoiado em uma mecânica relativamente simples construída com elementos para freio a vácuo e válvulas para máquina de lavar! A ideia do projeto realmente chamou a atenção de todos!

Como demonstrado no artigo "Clube de Mecatrônica" a formação de clubes ou a participação de listas de debates pode realmente ajudar no aprendizado e evolução de todos. Parabéns ao Robô Clube pela iniciativa de promover mais este encontro!

 


 

 

 


| Clique na imagem para ampliar |

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

NO YOUTUBE


NOSSO PODCAST