Existem várias coisas que jogamos fora sem darmos a mínima para o fato destes elementos poderem ser reaproveitados ou não, substituindo-os sempre por peças novas. No dia-a-dia de uma oficina, ocorre o mesmo: nossas lixeiras recebem todo tipo de materiais desde os papéis de embrulho aos circuitos integrados de tecnologia apurada. Alguns técnicos ainda se dignam a separar, pelo menos, as ferragens em algum canto para futura venda ao ferro velho.

 

Se repassássemos novamente tudo o que já menosprezamos destinando às lixeiras ou ao ferro velho, tenho certeza de que vários elementos mereceriam não ter este malfadado destino. É o caso dos transformadores queimados. Já pusemos tantos no lixo, que se fossem amontoados, talvez não conseguiríamos carregá-los, tamanho seria o peso do pacote.

Visando o reaproveitamento destes elementos discretos, porém indispensáveis na maioria dos nossos projetos e presentes em quase todos os circuitos comerciais, fizemos este trabalho.

Em quase todas as revistas eletrotécnicas já foi abordado o assunto transformadores, porém, sempre cercado de muitos cálculos e pouco conteúdo prático. Pretendemos fazer o contrário, ou seja: delinear a prática completa sobre transformadores a partir de um queimado, adquirida unicamente as necessidades diárias e dos apertos conflitantes de uma oficina. Para o cálculo das espiras (que será abordado mais além), teremos somente um número que é a constante (essência), essência extraída de todos os demais cálculos. Assim, com um único número fácil de memorizar, calcularemos qualquer tipo de transformador de alimentação não importando sua corrente ou potência.

 

 

COMO DESMONTAR OS TRANSFORMADORES

 

Este primeiro subtítulo parece ser destinado aos novatos e principiantes, porém, muitos transformadores são resinados ou envernizados a ponto de parecer impossível extrair-lhes o núcleo. As ferramentas necessárias são: um canivete, uma lâmina de aço (mola chata), um martelo e uma morsa.

 


 

 

 

Após ter retirado a capa do transformador (figura 1) pegue o canivete e solte as três primeiras lâminas ("E") de um dos lados do núcleo. Descole apenas as lâminas laterais (bordas), já que o centro (núcleo propriamente dito), é inatingível. Agora retire os "I" das peças soltas (Figura 2).

Feito isso, coloque o transformador sobre a morsa apoiando o bloco de ferros que ainda não foi solto. Insira a lâmina de aço no segundo "E" e bata com o martelo até que ele saia do núcleo.

 


 

 

 

Com o tempo, esta operação tornar-se-á fácil de executar (Figura 3). Observação: a lâmina de aço não pode ser mais larga que o centro do carretel para que ela possa atravessar o mesmo.

 


 

 

 

Geralmente com uma chapinha solta (um "E" extraído), se consegue facilmente desmembrar o resto das chapinhas, bastando para isto, ir soltando chapinha por chapinha com o canivete.

Para abrir os núcleos em "F" (tipos de transformadores de saída de áudio) o procedimento é muito mais fácil: bata com o martelo sobre o núcleo e sentirá as palhetas se deslocando. Não bata com excesso de vontade para não amassar as palhetas. Após esta operação, calce com uma chave de fenda as partes vagas da primeira palheta e force sua saída (Figura 4).

 


 

 

Um terceiro tipo mais fácil ainda de ser desmembrado, é o tipo de saída vertical e o transformador de choque. Estes dois tipos (algumas saídas de áudio também são assim) possuem todos os "Is" alinhados num lado e os "Es" alinhados no lado oposto.

 


 

 

 

 

COMO RETIRAR O FIO QUEIMADO DO NÚCLEO

 

Esta operação é bastante fácil quando se possui uma faca bem afiada. Comece retirando os papéis e adesivos que fazem o acabamento do transformador. Em seguida - quando o secundário está enrolado por cima do primário - desenrole-o a mão. Geralmente as espiras não são muitas, não é aconselhado o reaproveitamento do fio do secundário porque seu verniz pode ter sido afetado com o calor da queima do transformador. Agora pegue a faca e vá cortando o primário em camadas. Solte a parte do fio cortado com a faca e desencape com a mão ou com um alicate a parte cortada. Vá procedendo assim até retirar todo o fio (Fig. 5). Quando se pega prática, em questão de instantes se 'limpa" completamente um núcleo.

Não deixe nenhum resquício de fio sobre o carretel e, se porventura o núcleo tiver sobreaquecido a ponto de fundir algumas espiras de fio no plástico do fundo da forma, faça uma camada de fita adesiva antes de iniciar o enrolamento novo.

 

 

MATERIAL NECESSÁRIO PARA CONFECCIONAR TRANSFORMADORES

 

Abordaremos unicamente a parte de transformadores de alimentação, já que os outros modelos (saída vertical, saída de áudio, drivers, etc.) geralmente tem o seu enrolamento dimensionado para o modelo a que se destinam e sua confecção é bastante crítica. Porém, se a necessidade os obrigar a montar algum transformador diferente (e cito como exemplo os transformadores de saída vertical dos televisores tipo Admiral), deve-se contar o número de espiras e seguir fielmente a sua montagem conforme o original. Inclusive este cuidado deve ser tomado quanto ao processo de espiras a serem enroladas por camada e camadas isolantes.

 


 

 

 

Para confeccionarmos transformadores de alimentação -desde 150 mA até 5 A e voltagens entre 3 e 50 V, precisaremos das bitolas AWG indicadas na tabela 1. O carretel mais prestativo para esta finalidade é o de solda (tipo "Best"). Neste carretel cabe meio quilo de fio de qualquer bitola a partir do 30 AWG. Abaixo desta bitola, a quantidade deve ser gradativamente reduzida: até o fio 25 AWG cabem 400 gramas e abaixo deste, somente 300 gramas para não superlotar o carretel. O ideal é se possuir um pouco de cada tipo de fio do mencionado na tabela 1 para versatilizar ao máximo o reaproveitamento dos transformadores queimados. Além do fio, é necessário possuirmos um rolo de fita crepe de embrulho (3,2 cm), um rolo de fita adesiva (do tipo "Durex"), papel cartonado (tipo caixa de camisa), uma tesoura, régua, calculadora e uma folha de papel celofane ou plástico para o acabamento final. Além disto, precisaremos de pelo menos 6 cores diferentes de fio, cabinho isolado para rádio. Quanto à máquina bobinadora, já existem modelos simples, porém, eficientes à venda no mercado, por preços bem acessíveis. Normalmente um único conta giros com dispositivo zerador, chega perto no preço a estas bobinadoras completas, com conta-giros embutido.

 


 

 

 


 

 

 

 

COMO CALCULAR OS ENROLAMENTOS

 

Sendo este artigo formulado para abranger unicamente a praticidade em confecção de transformadores, em vez de calcularmos o núcleo necessário para a potência exigida, daremos uma média de medidas pré-calculadas, às quais a prática mostrou ser universal na relação de tamanho do carretel versus potência comportada. E esta síntese está na tabela 2, evidentemente haverá muitas variantes nas medidas dos carretéis acima mencionados, dependendo da sua procedência e da finalidade que os mesmos cumpriam. Porém, vale como medida de regra da potência desejada, a medida "A" (Figura 6) do carretel, sendo que este valor comercialmente varia muito pouco.

 


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A medida do campo magnético que abrange o núcleo, tecnicamente é efetuada no pacote das lâminas na parte em que elas penetram o mesmo. Porém, podemos extrair medidas idênticas às do entreferro se tomarmos por base as dimensões A e B do carretel (figura 6). Com uma régua meça os pontos conforme indicados na figura, anotando o resultado destas medidas com cuidado e exatidão.

Note que uma diferença de medida de 0,5 mm (meio milímetro) pode acarretar mais de 100 espiras o cálculo do enrolamento do primário de um transformador de 500 mA.

Dimensionado o núcleo, anote tudo conforme sugestão da figura 7A. É importante se destinar um caderno ou bloco só para estes apontamentos, para quando rebobinarmos algum transformador idêntico a algum já processado, possamos recorrer ao mesmo, evitando recalcularmos estes transformadores.

A constante a ser aplicada para descobrirmos o número exato de espiras é 266,4. Este não é um número escolhido a dedo. Ele provém do ajuntamento de todos os cálculos que englobam a confecção de transformadores para que os enrolamentos "aguentem" a corrente e a tensão para dado núcleo, sem esquentar demais ou queimar. E este número é usado para calcular a relação de qualquer transformação de tensões em núcleos com 10.000 Gauss de fluxo magnético (medida esta, padrão para nossos entreferros). Teoria à parte, este número é responsável por mais de quinhentos transformadores de todos os tamanhos, funcionando perfeitamente.

Na figura 7B temos o exemplo do cálculo de um transformador com um primário de 2 x 110 V e um secundário de 6 V/300 mA. Isto será feito do seguinte modo para chegarmos a este resultado.

Única fórmula necessária:

 

 


 

 

 

• O fator multiplicativo (FM) será: 21,388 21,388 x 110 = 2352,68 - arredondar para 2353 espiras 21,388 x 6 = 128,328 - arredondar para 128 espiras

 


 

 

 

O cálculo acima sempre pode ser feito quando quisermos confeccionar transformadores comuns que não estarão eternamente conectados à rede elétrica. No caso de transformadores que sempre ficarão ligados (tipo os de rádio relógio, vídeos...) teremos que acrescentar 10 % de perdas na condução do núcleo para que o mesmo suporte com folga esta exigência. No nosso cálculo esta perda será constituída pela constante 1,1. A seguir, o mesmo cálculo do transformador acima, com a constante incluída:

 

 


 

 

 

23,528 x 110 = 2588 espiras para cada enrolamento de 110 V

23,528 x 6 x 1,1 = 155 espiras para cada enrolamento de 6 V

Podemos ver pela explanação acima, que um transformador de uso constante resulta numa quantidade considerável a mais de espiras e fio que um de uso intermitente. Ressalto neste aparte, que os transformadores comerciais geralmente são calculados e dimensionados para uso intermitente. Uma vez tendo anotado o número de espiras para cada valor de voltagem e sabendo que a bitola de fio a ser empregada (veja tabela 1), podemos confeccionar o transformador propriamente dito.

Na tabela 1 temos todas as características sobre que bitola de fio empregar de acordo com nossas necessidades. É bom lembrar que as duas primeiras colunas intituladas 'PRIMÁRIO", nos fornecem as bitolas AWG para enrolamentos do tipo 0-120-220 V. Para o modo 2 x 110 V, empregaremos as bitolas de fio da segunda coluna intitulada "220 V" já que em 110 V os dois enrolamentos ficarão em paralelo, suprindo assim a demanda em corrente exigida com um fio da metade da espessura. A bem da verdade, a confecção do modo 2 x 110 V no primário é bem mais cômoda e rápida já que não haverá troca de bitolas de fio durante o enrolamento do primário.

Então nosso transformador ficará assim: para cada enrolamento de 110 V usaremos o fio 42 AWG (2ª linha, 2ª coluna da tabela 1), o que corresponde a um transformador de 6 V/300 mA. E o fio a ser empregado no secundário será o 27 AWG (última linha, 4ª coluna da tabela 1). Nosso transformador terá 1,8 W (2ª linha) e isto pela tabela 2 equivale a um núcleo de 1,3 x 1,35.

 


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COMO MONTAR O TRANSFORMADOR

 

Para cada enrolamento feito, deixa-se uma espera de aproximadamente 5 cm de fio, no qual serão soldados os cabinhos que farão o contato elétrico no circuito. Como exemplo prático, supomos que foi enrolado um transformador de 6 + 6 V/300 mA. Na figura 8 temos o seu aspecto. Faça 6 cabinhos de cores que indiquem como o "traio" foi enrolado, a saber: cores escuras para os dois inícios (0 V) dos enrolamentos de 110 V e claras para os dois fins (110 V). Laranja ou vermelho para os dois "quentes" do secundário e qualquer outra cor para o center tape. O comprimento médio destes cabinhos é em torno de 15 cm. Corte-os neste tamanho e desencape 0,5 cm em uma das pontas. Pegue o papel carbonato e recorte dois pedacinhos de comprimento igual ao tamanho B do exemplo acima e, num deles faça oito furos e no outro 6 (figura 9). Como indicado nesta figura, enfie os fios das partes desencapadas nestes buracos.

 


 

 

 

Feito isso, prenda estes feixes sobre a bobina (1 em cada lado), observando que o enrolamento deve ser isolado com papel carbonato nestas partes (fig. 10). Agora descasque as espiras dos enrolamentos e solde nas pontas desencapadas dos fios, observando suas cores. Em seguida, como a solda enrijece estas pontas, dobre-as no sentido da saída dos cabinhos. Assim haverá grande resistência mecânica nos terminais, evitando arrancar-se acidentalmente algum cabinho de seu lugar. Passe fita crepe na largura do núcleo por cima de todo o enrolamento e faça o acabamento finai com papel celofane. Tecnicamente deve ter sobrado espaço sobre o núcleo para todas estas camadas adesivas.

Terminada a confecção do núcleo em si, falta ainda colocarmos de volta todos os "Es' e "Is" que formarão o seu campo magnético.

 


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Deixe os 'Is' para o fim do processo. Comece colocando somente um 'C num dos lados, no mesmo sentido em que será colocada a carcaça que servirá para fixar o transformador. Depois, no sentido oposto à primeira lâmina, coloque dois "Es". Prosseguindo, vá enfiando os "Es" sempre em pares, a saber: um par, de cima para baixo, depois, um par oposto a este. Quando faltarem 3 pares, (6 peças) o espaço do núcleo começará a ficar restrito para a colocação de todas as lâminas. Separe as peças e coloque mais dois pares, exatamente do mesmo jeito como vinha procedendo. Agora, coloque somente uma lâmina, a qual será a última da sequência. O "E" que tiver sobrado, normalmente precisa ser encaixado "a martelo" o que não deixa de ser um processo delicadíssimo. Para não haver cruzamento entre as lâminas, encaixe o começo desta chapinha entre um dos últimos pares que foram colocados e previamente descolocados entre si para este fim. Bata com o martelo cautelosamente no corpo central desta lâmina até que ela penetre completamente, cuidando da linearidade da descida deste último 'E' nas laterais do transformador. Este detalhe é importante, porque se a chapinha descer torta no núcleo, pode cortar o plástico do centro do carretel e arranhar ou até ceifar algumas espiras do primeiro enrolamento. Todo este processo está na figura 11. Se o leitor não proceder deste modo na colocação do núcleo, provavelmente terá sobras de algumas lâminas das que faziam originalmente parte deste núcleo.

Tendo reposto todas as lâminas, devemos entrepor todos os "Is". Este processo é fácil e não necessita de maiores explicações. Somente vale lembrar que se o leitor não quiser banhar em verniz o transformador, não coloque os "Is" da primeira e última lâminas. Os Gauss pelos quais elas respondem são tão ínfimos que não vale a pena deixá-los vibrando e esquentando o transformador.

A capa para a fixação do transformador é facilmente colocável quando se realiza este processo com a ajuda da morsa: prenda a capa contra os entreferros e bata-a contra os mesmos com o martelo para que ela se fixe e evite a vibração dos entreferros.

Este processo está representado na figura 11 C.

 


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EXEMPLOS PRÁTICOS

 

Quando se deseja enrolar mais de um secundário, as tabelas 1 e 2 informam perfeitamente como devemos proceder. Porém, como este artigo visa ser prático, daremos a seguir alguns cálculos de transformadores com mais enrolamentos no secundário.

Desejo confeccionar um transformador com um primário de 2 x 110 V e dois secundários de 12 V x 500 mA (Fig.12).

 


 

 

 

Na tabela 1 temos na 8B linha e na 32 coluna do secundário, um transformador de 24 V (2 x 12 V) por 500 mA, ocupa o fio 34 para 220 V (2 enrolamentos de 110 V) e sua potência é de 12 W. Na mesma coluna temos na 12 linha e na penúltima a indicação da miliamperagem que desejamos, ou seja, 500 mA. Na última linha desta mesma coluna está indicada a bitola AWG para esta demanda de corrente. E neste caso, o fio empregado será o 25 AWG, o qual aguentará o consumo de 500 mA.

12 W na tabela 2 equivalem ao campo de um núcleo "2 x 2". Com estes dados, providenciado um núcleo “2 X 2”, calcularemos a constante (o fator multiplicativo - FM) para este núcleo:

 

 


 

 

 

Fator multiplicativo = 9,384 110 x 9,384 = 1032,24 = 1032 espiras para cada 110 V. ꬾ34 12 x 9,384 = 112,608 = 113 espiras para cada 12 V. ꬾ4 25 (j) - Significa seção AWG.

 


 

 

 

Preciso um transformador que esteja sempre ligado à rede elétrica (aplicar a constante 1,1) e que tenha um primário único de 110 V e três secundários a saber: um enrolamento de 15 V x 1 A para o amplificador, um enrolamento de 5 V x 500 mA para um circuito lógico e dois enrolamentos de 24 V x 150 mA para um pré-amplificador simétrico. Este exemplo está graficamente representado na figura 13.

Para calcularmos a bitola de fio empregada no primário precisamos primeiramente averiguar qual a potência total que este transformador irá distribuir. Pela tabela 1 é fácil verificarmos isto: 15 V x 1 A= 18W (9ª linha); 5V x 500 mA = 3 W (4ª- linha); 24 V x 150 mA = 3 W (4ª linha); como, porém, são dois enrolamentos de 24 V por 150 mA, a potência assumida por estes enrolamentos também será o dobro: ou seja, 6 W. Somando tudo: 18 + 3 + 6 = 27 W. Esta é a potência total exigida pelo secundário. A bitola de fio que empregaremos para o enrolamento de 110 V será o 28 AWG (10W linha = 27 W).

Com esta potência depreendemos na tabela 2 que as dimensões mínimas do carretel do núcleo devem ser de 2,5 cm X 2,5cm mas escolhemos 2,5 x 2,7 para maior folga de operação.

Cálculo das espiras:

 


 

 

Fator multiplicativo: 6,117 110 x 6,117 = 672,87 = 673 espiras para 110 V. ꬾ 28 AWG

15 x 6,117 x 1,1 = 100,93 = 101 espiras para 15 V. ꬾ 22 AWG

5 x 6,117 x 1,1 = 33,64 34 espiras para 5 V. ꬾ 25 AWG

24 x 6,117 x 1,1 = 161,48 = 161 espiras para 24 V. ꬾ 30 AWG.

 


 

 

Havendo a necessidade de recuperarmos um transformador do qual desconhecemos a tensão do secundário, conseguiremos descobri-la procedendo da seguinte maneira: contamos as espiras que ocupavam o secundário (os secundários) do transformador; em seguida calculamos a seção do núcleo (A x B). Como terceiro passo, dividimos o número de espiras encontradas pelo resultado da área do núcleo (A x B). Este resultado é a voltagem que o núcleo entregava. Note que as indústrias de transformadores podem se valer de gabaritos pré-estabelecidos para os diversos enrolamentos de voltagens diferentes versus amperagens diferentes, sendo que nem sempre o valor da voltagem encontrada é exato.

O nosso método sempre consiste em assumir o valor comercial mais próximo a este resultado. A diferença de um volt, dependendo da finalidade, não altera o resultado final de um transformador. Exemplo de um trafo desconhecido: preciso enrolar um transformador para uma caixa amplificada em conserto, da qual não possuo o esquema e não faço ideia das voltagens que ela necessita para funcionar perfeitamente. O trato possui no primário dois enrolamentos para 110 V e no secundário, dois enrolamentos independentes, sendo um com tomada central. Veja a figura 14. O total de espiras do 19 enrolamento é 145 e do último enrolamento é de 61 espiras de fio 27 AWG. O núcleo mede 2 X 2,2. Fator multiplicativo: 8,531.

 

Cálculo:

61: 8,531 = 7,15 V - Valor comercial mais próximo = 7,5V.

145: 8,531 = 16,99V - Valor comercial mais próximo = 18 V

110 x 8,531 = 938,41 = 938 espiras para 110 V. Pela tabela 2 temos que um núcleo de 2 X 2,2 pode ser ocupado por um transformador de até 18 W. Pelo nosso cálculo, 18 V por 500 mA (linha 7, coluna 3 - tabela 1), equivale a 9 W. Sendo este transformador com 2 enrolamentos de 18 V teremos no final, 18 W (9+9 VV).

Acrescentando a este valor a potência exigida pelo enrolamento de 7,5 V/300 mA (linha 3, coluna 2 -tab. 1), temos mais 2,7 W. Assim, o nosso transformador terá que aguentar um total de 21 W (20,7 W) o que pede no primário o fio 31 (o mais próximo entre 18 e 27 W na tab. 1) para os enrolamentos de 110 V. O fio original enrolado era o 33 AWG, sendo que uma bitola mais grossa não caberia no núcleo deste transformador com os dois secundários. Assim, optou-se pelas bitolas originais do mesmo. O certo teria sido ocupar-se um núcleo maior para esta peça, a fim de desempenhar seu papel com perfeição.

No exemplo acima, o mais importante foi descobrir as voltagens que o aparelho exigia para o seu perfeito desempenho. E, desta maneira, podemos obter qualquer voltagem desconhecida em qualquer tipo de montagem e em qualquer transformador.

Outro exemplo de transformador desconhecido: Temos um receiver com o trafo em curto em seu primário. Seu núcleo tem como medidas A = 3 cm e B = 3,5 cm. Ele possui um enrolamento de 110 V, e um de 220 V no primário. No secundário possui 3 enrolamentos, sendo um deles com derivação central (figura 15).

 


 

 

 

 


 

 

 

Devemos observar que o último enrolamento, o qual comporta 21 espiras, servia para alimentar as três lâmpadas de fundo do dial. Como as lâmpadas são de 6 V, obviamente este enrolamento terá 6 V. Para averiguarmos o nosso número de fator multiplicativo encontrado no cálculo acima, verificaremos:

21 espiras divididas pelo FM de 3,575 será igual a 5,8 V, o que corresponde a aproximadamente 6 V. Como já foi dito anteriormente, as indústrias de transformadores podem eventualmente valer-se de números padrão pré-estabelecidos, fazendo com que os nossos resultados numéricos divirjam, às vezes, do cálculo do trafo original. Porém, esta tolerância sempre será pequena, da ordem de 5%.

O penúltimo enrolamento com tomada central, possui 2 vezes 43 espiras. Calculando: 43 : 3,575 = 12,02 V = 12 V. Como será com tomada central, é 2 vezes 12 V.

O antepenúltimo (primeiro) enrolamento conta com 132 espiras. Assim: 132: 3,575 = 36,92 = 37 V.

Para reenrolarmos o primário, basta multiplicarmos 110 e 220 pelo fator multiplicativo 3,575. Isto resulta em 394 espiras para cada enrolamento. Aqui devemos notar que a metade dos 220 V já circulam no enrolamento de 110 V, não sendo necessário enrolarmos o dobro de espiras para o dobro da tensão. Veja novamente a fig. 15.

Além de todos estes dados, há ainda um pequeno inconveniente na versatilidade plena em confecção de trafos: como conseguir um núcleo para um transformador que deve suportar certa corrente e tensão (previamente planejadas) para que caiba 'naquele" lugarzinho que sobrou dentro da caixa, após ter-se alojado todos os circuitos? -ou, como enrolar um transformador que possua um núcleo de papelão?

Ou, ainda, como reenrolar um transformador de tamanho especial, que ao queimar fundiu o núcleo?

É uma pena pôr no lixo aqueles "Es" e "Is" brilhantes, livres de qualquer oxidação! Devo admitir que estas perguntas me levaram a uma solução bem prática. Assim, é possível o aproveitamento de todos os núcleos e a ideia pode criar tipos especiais de trafos dependendo da necessidade e do espaço a que se destinarão. O material para a confecção dos núcleos também é grande nas oficinas. É constituído de um plástico resistente ao calor, com textura especial e de grande resistência mecânica: não é rijo demais nem mole a ponto de ceder. Que plástico é este? TAMPAS TRASEIRAS DE TELEVISO-RES! É isto mesmo! Em vez de colocá-las no lixo, corte as partes lisas e retas e guarde-as.

 


 

 

 

 

COMO CONFECCIONAR O CARRETEL

 

Pegue o feixe de "E" do núcleo que precisa de um carretel. Alinhe todos em forma de bloco. Prense-os na morsa, com fita adesiva dê uma volta na perna central (na altura do "X" da fig. 16), para que ele se mantenha inflexível. Tire suas medidas. Agora observe a figura 16: precisaremos de duas peças iguais e de tamanho A x C.

Também serão necessários duas peças iguais e de tamanho B x C. Mais duas laterais para o carretel, do tamanho de B + 3D por E. Isto significa que estas duas últimas peças terão o comprimento da medida de B mais 3 vezes a medida de D (média de altura do carretel). E a largura destas duas peças será a de E.

Exemplo:

A- 1,90 cm

B - 2,15 cm

C- 2,80 cm

D- 0,95 cm

E- 3,80 cm

Espessura do material plástico: 0,15 cm.

As duas peças "X" (fig. 17) terão a largura igual a 1,9 cm ("A") e a altura ("C") igual a 2,80 cm menos duas vezes a espessura do material que empregaremos por causa das duas laterais "W". Como a espessura do plástico neste protótipo é de 0,15 cm, devemos descontar duas vezes este valor, ou seja, 0,30 cm. Então, as peças "X" terão: 2,80 cm menos 0,30 cm, equivalendo a 2,5 cm de altura.

As duas peças "Y" terão a altura igual a 2,45 cm (B menos 2 vezes a espessura de 0,15 cm), para se sobreporem à borda de C.

Sua altura será igual a altura das peças "X" (2,50 cm).

As peças "W" serão: 2,15 (B) + 3 x 0,95(3D) = 5 cm. Cada peça "W" então será de 5 cm x 3,80 cm (E). Para marcar a janela das laterais do carretel (que é igual a medida de A x B), ache o centro, trace duas diagonais e a partir dali faça a janela bem centrada na peça. Em seguida, faça um furo e, com cuidado corte com uma serrinha (destas de arco para trabalhos manuais em compensado) o que foi tracejado. Com uma tesoura de metal recorte o restante das partes tracejadas (que formarão as laterais). Nunca esqueça de aumentar na peça B os milímetros de espessura das laterais C. Não esqueçam, também, de diminuir das peças que formarão o carretel, os milímetros de espessura das duas laterais.

 


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Retire o núcleo da morsa.

Retire também a fita adesiva que mantinha presa as lâminas. Enfie a primeira lateral "W". Passe uma camada generosa de solda plástica (do tipo para canos plásticos servindo qualquer tipo. Porém de melhor eficiência, foi constatado que a solda plástica Polytubes mostrou maior resistência mecânica), ao redor da janela e monte em cima as 4 peças que formarão o carretel. Para manter estas peças firmes até soldarem, una-as com fita adesiva. Unte bem com solda plástica todas as junções. Por fim, unte a janela da lateral que sobrou e pressione-a de encontro às peças do carretel. Veja se o material não ultrapassa a altura dos "Es". Se tiver ficado no nível, coloque um peso em cima do carretel e deixe-o secar por 24 horas. Extraia os "Es" com cuidado e deixe secar por mais dois dias o carretel até submetê-lo a pressões.

 


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Outro exemplo:

Preciso de um transformador com no máximo a altura dos de 500 mA. O comprimento não importa. Ele precisa me fornecer no secundário 2 x 18 V/250 mA, mais um enrolamento de 1,8 V/150 mA para alimentar um LED. Ficará ininterruptamente ligado à rede. A solução é pegarmos três núcleos para 3 W e confeccionarmos um carretel que possa abrigar estes três núcleos. O resultado do carretel ficou conforme aparece a figura 18A e seu aspecto final conforme a figura 18B.

A=1,6 cm / B=5 cm / C=2,4 cm / D=0,75 cm / E=3,1 cm. Espessura do material B = 0,10 cm. Demais peças = 0,15 cm.

Tamanhos de X: 1,6 cm x 2,1cm

Tamanhos de Y: 5,3 cm x 2,1cm

Procedendo deste modo, podemos confeccionar qualquer tipo de transformador e de carretel.

 

 

FORMULÁRIO EMPREGADO PARA DESENVOLVIMENTO DESTE PROJETO

 

• Constante para determinar o número de espiras:

 


 

 

 

• Bitola AWG do Secundário:

 


 

 

 

Aplicação da tabela AWG para converter a seção em mm2 para AWG.

• Bitola AWG do Primário:

 


 

 

 

Cálculo do tamanho do núcleo em relação à potência (Tabela 2):

S = 1,2 W

 

 

CONCLUSÃO

 

Através do presente trabalho, podemos notar vários pontos importantes para "desmascarar" o famigerado transformador.

E, apesar deste trabalho mostrar-se virtualmente prático, não devemos esperar que já saibamos tudo na execução do primeiro projeto.

A praticidade em qualquer tarefa se adquire com a repetição do que aprendemos e esta repetitividade abre horizontes novos, tornando-nos destemidos exploradores de novos elementos, acrescentáveis a todos os pontos que já conhecíamos.

 

 

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