É um trabalho de arqueologia. Estou revirando meus pertences onde encontrei uma grande quantidade de originais de artigos muito antigos. Antigos mesmo, da época em que eu comecei, isso mais de 60 anos atrás. É desses textos que vou falar neste primeiro artigo em que encontrei originais de astronomia e temas relacionados.

Naquela época eu não tinha máquina de escrever, poucos tinham. Minha avó tinha uma escola de datilografia com velhas máquinas Remington e Underwood. De vez em quando eu treinava lá. Mas, para escrever meus primeiros textos eu preferia caneta.

Usava uma velha Parker 21 do tipo “tinteiro” em que você enchia uma pequena bolsa de borracha com a tinta. Usava a tinta Azul Lavável, conforme mostra a foto da figura 1.

 

Figura 1 – A canela e o tinteiro
Figura 1 – A canela e o tinteiro

 

 

Tinha uma letra bem legível, que meus professores elogiavam. Assim, quando inspirado escrevia meus textos em papel de fichário, amarrando depois as páginas com linha de costura para armazenar conforme podem ver pela foto de alguns deles que separei na figura 2.

 

Figura 2 – Artigos escritos à mão
Figura 2 – Artigos escritos à mão

 

 

Separava por temas, sendo a eletrônica o primeiro, mas gostava de fazer ensaios sobre tudo, como astronomia que eu gostava em especial, química, mecânica, ensino e tudo mais que desejasse registrar uma ideia.

Escrevi centenas desses textos que depois fora a base para um trabalho profissional, pois muitos acabaram sendo publicados em jornais e revistas e até mesmo aproveitados em meus livros.

Analisando alguns textos, vi que eles ainda são em muitos casos atuais, e até podem ser usados como cursos de eletrônica.

Fico surpreso em alguns casos em que eu fazia reflexões sobre o que viria no futuro e que acertei em muitos casos.

Um ponto importante que devo observar é que eu gostava de desenhar, talvez uma herança de minha mãe que era um excelente desenhista. Assim, também ilustrava meus artigos com desenhos feitos a mão, como pode ser visto pelo exemplo da figura 3.

 

Figura 3 – Ilustração feita a mão – observe a data
Figura 3 – Ilustração feita a mão – observe a data

 

 

Foram esses desenhos que despertaram a admiração do Gilberto Affonso Penna da Eletrônica Popular que viu numa sequência didática que fiz material para minha primeira seção numa revista, a Eletrônica Para Juventude que saiu na revista Eletrônica Popular a partir de 1967, alguns anos depois de eu ter feito o texto original.

Muitos textos realmente acabaram por sair em publicações da época, desde as menores como o jornal do bairro e o boletim cultural do Grêmio do Instituto Nossa Senhora da Penha em São Paulo onde fiz o ginásio e o colégio, até depois em publicações como A Eletrônica em Foco e Eletrônica Popular.

 

Figura 4 – Artigos de astronomia na Eletrônica em Foco dos anos 60
Figura 4 – Artigos de astronomia na Eletrônica em Foco dos anos 60

 

 

Mas, os textos que encontrei são bem interessantes pela atualidade e por realmente serem atraentes para um público semi-leigo a que se destinavam.

Um dos textos falava dos meteoros explicando sua origem, e a sua relação com as chamadas “estrelas cadentes” desmistificando algumas crenças da época. Tinha um bom conhecimento sobre assunto até tendo feito um curso de observação astronômica no Observatório da Água Funda depois com o Abrahão de Morais (que dá nome a avenida ao lado dele) e que lecionava na USP.

Um fato importante é que justamente quando terminei meu curso em dezembro de 1970, o Prof. Abrahão de Morais faleceu. Hoje existe uma cratera na lua que leva seu nome.

Escrevi dezenas de artigos tratando de astronomia, como o da figura 5 em naquela época já me interessava pela Radioastronomia. Nele fiz considerações sobre o uso das ondas de rádio para observar s regiões do espaço que não podemos observar usando meios ópticos comuns.

 

Figura 5 – Artigo sobre radioastronomia escrito em 15 – 10 – 1965.
Figura 5 – Artigo sobre radioastronomia escrito em 15 – 10 – 1965.

 

 

Naquela época também comecei a frequentar o CRAM (Centro de Radioastronomia do Mackenzie) em Atibaia onde havia um radiotelescópio que hoje é do INPE.

Lá conheci outro grande astrônomo brasileiro o prof. Pierre Kaufmann que sempre nos recebia muito bem quando visitávamos o observatório,

Nessa época comprei meu primeiro telescópio que me permitiu conhecer de verdade o que era possível ver aqui da terra. Não era dos mais potentes, mas me diverti e aprendi muito com ele.

Escrevi muitos textos falando das minhas observações que até daria um verdadeiro curso de iniciação a radioastronomia. Naqueles tempos o céu de São Paulo ainda não era poluído e claro como hoje e onde morava, na Penha, era possível ver facilmente as constelações, anéis de Saturno, luas de Jupiter e muito mais.

Na imagem uma parte das dezenas de textos que escrevi naquela época e que até hoje conservo. Muitos deles foram até publicados em periódicos de menor penetração no meu bairro e na escola.

 

Figura 6 – Meus textos de astronomia
Figura 6 – Meus textos de astronomia

 

 

Um outro campo que sempre me atraiu é a possibilidade de vida em outros planetas. Acompanhava o projeto SETI do astrônomo Francis Drake, os livros de Carl Sagan e muitos outros. Até conheci pessoalmente num encontro Erik Von Daniken que logo percebi que não era aquilo que eu esperava dele em termos de conhecimento científico.

Um livro que muito me atraiu na época era da TAB books que explicava como usar receptores de telecom comuns para receber sinais do espaço.

 

Figura 7 – Meu primeiro livro de Radio Astronomia
Figura 7 – Meu primeiro livro de Radio Astronomia

 

 

Radio Astronomy for the Amateur me ajudou a ouvir os sinais de Jupiter na Banda de 7 MHz com meu receptor da segunda guerra que já falei dele em outros artigos.

Muito atual, pois os projetos descritos podem ser ainda implementados pelos que desejarem com equipamento e circuitos atuais.

 

 

 

 

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