Com a integração cada vez maior da eletrônica com nosso corpo, levando a novos campos como a IoP (Internet of People – Internet das pessoas) e os vestíveis (Wearable), aquilo que chamamos de uma forma geral de Biônica está crescendo em importância, devendo se firmar não apenas como ciência, como também como disciplina obrigatória nas escolas de engenharia e cursos técnicos. Veja nesse artigo como “redescobrimos” a importância num livro russo de 1980 que praticamente previa muita coisa do que está acontecendo em nossos dias.

Como sempre faço, quando saio em viagens de descanso levo um bom livro para ler ou reler. Desta vez, saindo em setembro de 2017, Levei um antigo livro que achei em minha biblioteca e que havia me chamado muito a atenção quando ainda estudante, nos anos 70, o li pela primeira vez.

O livro escrito em francês pelo autor russo I. Mironov foi adquirido numa livraria de São Paulo que frequentei quando ainda estudava na Escola Politécnica da USP.

 


 

 

 


 

 

A livraria “Tecno Científica”, numa galeria da Rua Barão de Itapetininga em São Paulo, apesar de ser especializada em livros russos era tolerada pelas autoridades militares do governo de então, “desconfiados” de tudo que vinha de países comunistas.

De fato, a livraria vendia apenas livros inclusive os de cálculo (Piskunov e Demidovitch) além de livros de biologia e mecânica além de muitos livros científicos interessantes como os de astronomia e mesmo biônica como este do qual vou tratar neste artigo.

É claro que por serem autores russos, e os livros financiados pelo governo de lá, não podíamos deixar de encontrar certos pitáculos ideológicos no meio dos textos.

Mas, o importante é que I. Mironov teve uma visão sensacional e até hoje muito atual da Biônica e de como ela poderia estar presentes em nossas vidas agora e do futuro, como já está.

Chama a atenção o fato de que o termo Biônica não é novo tendo sido usado pela primeira vez em 58. Naquela época e nos anos seguintes a preocupação maior da biônica era a substituição de órgãos humanos e a utilização das soluções dadas pela natureza na solução de diversos problemas, principalmente mecânicos.

Assim, como o próprio Mironov diz em seu livro ele, de formação em engenharia mecânica, para poder “trabalhar” com biônica fez um curso de biologia.

Hoje temos a eletrônica em jogo e juntamente com a mecânica procura utilizar soluções destas tecnologias para solucionar problemas relacionados com a biologia, ou seja, levando à biônica.

Acreditamos que já está na hora das escolas de engenharia introduzirem a disciplina da Biônica e também a própria “biologia para engenheiros” ou “biologia instrumental” como já temos outras disciplinas instrumentais.

Citamos como exemplo o “Inglês Instrumental” ou inglês técnico, imprescindível para os engenheiros e técnicos atuais.

Mas, do que se falava na época e onde se aplica hoje?

 

Biônica em 1970

Mironov une muito a mecânica à biologia, tratando basicamente de sistemas de propulsão de animais que podem ser utilizados como exemplos para projetos, sensores, com um capítulo especial para os morcegos e golfinhos que fazem uso do sonar.

Na mecânica ele destaca a propulsão hidráulica das medusas que “bombeiam” água para traz para se movimentar para frente e do sistema hidráulico da aranha que salta graças a uma “crise de hipertensão” que bombeia com força sangue para distender as pernas e com isso levá-las a enormes saltos.

Um destaque interessante que merece um estudo atual é o fato de que milhões de morcegos voam simultaneamente em algumas cavernas e não colidem apesar de todos eles usarem o sistema ultrassônico de detecção de obstáculos.

Como podem distinguir seu próprio eco entre milhares ou mesmo milhões e se posicionar de modo a evitar a colisão com outros morcegos próximos? Algo a ser estudado atualmente e aplicado aos drones que devem voar em multidões nos próximos anos.

O autor também trata da sensibilidade do olfato de certos insetos e da forma de estrutura e órgãos sensoriais de plantas, um mistério na época e que hoje já encontra aplicações prática,

 

Biônica Atual

Nos anos 70 não havia ainda uma eletrônica tão evoluída como a de hoje com a possibilidade implantarmos chips em organismos vivos que poderiam interagir conosco de uma forma direta.

Isso significa que a biônica de hoje, além da mecânica que envolve problemas estruturais resolvidos pela natureza e aplicado em diversos tipos de criaturas, além dos sensores, também deve levar em conta as interações elétrica, principalmente com o sistema nervoso, num grau muito mais intenso.

Chips implantáveis, sensores, soluções mecânicas e elétricas avançadas devem fazer parte dos estudos dessa ciência.

Num artigo recente falamos da possibilidade cada vez maior de se utilizar ondas emitidas pelo cérebro nos mais diversos tipos de interação com dispositivos mecânicos e de outros tipos.

Já temos a possibilidade de controlar circuitos com determinados tipos de ondas cerebrais produzidas voluntariamente. Tivemos a oportunidade de experimentar um circuito desse tipo na IoT Latoin America de 2017 em São Paulo, desenvolvido por alunos da Fatec.

A descoberta de que quando conversamos com outra pessoa ou com outras pessoas nossos cérebros podem entrar num determinado estado de sintonia, comunicando-se de forma ainda desconhecida abre caminho para uma infinidade de aplicações.

Enfim, a biônica está se tornando indispensável para as aplicações modernas da eletrônica e isso deve ser levado em conta.