A possibilidade de se escutar (sem fio) as conversas telefônicas de alguém não é algo que está somente ao alcance dos detetives profissionais, agentes secretos internacionais e heróis de filmes de suspense. Com poucos componentes é possível montar um "grampo" telefônico que, ligado a uma linha telefônica transmite as conversas para um rádio de FM colocado a certa distância.

 

Existem muitas maneiras de se "grampear" uma linha telefônica de modo a se interceptar as conversas que ela transmite. Além dos sistemas com fio ou extensão que incluem o uso de amplificadores e gravadores, existem sistemas muito mais sofisticados e seguros como os que fazem uso de transmissores. Não precisando de fios, estes sistemas podem ser localizados, mas ficará difícil saber onde está o receptor, o que dá a possibilidade e tempo para que o agente operador do aparelho saia com segurança do local.

O sistema que descrevemos é desse tipo: não usa fios pois transmite os sinais da linha telefônica para um receptor de FM que pode estar escondido num raio de algumas dezenas de metros como por exemplo num apartamento vizinho ou num carro estacionado nas proximidades.

No receptor pode ser ligado então um gravador, ou ainda, para maior segurança, acoplado a um "vox". O vox nada mais é do que um interruptor acionado pelo som que pode acionar o gravador todas as vezes que o transmissor operar e que portanto a linha telefônica for usada. Isso é importante para evitar que a fita fique rodando e que as pilhas do sistema se desgastem, sem nada para gravar.

Uma característica importante do sistema é que ele usa a própria tensão da linha telefônica para operar sendo conectado em paralelo com o fone. Se bem que isso seja vantagem, pois não precisamos nos preocupar com a durabilidade de pilhas, deve ser considerada uma desvantagem: não podemos extrair muita energia da linha, pois isso causaria uma diminuição do volume do aparelho interceptado o que levaria a uma desconfiança com uma possível investigação. Assim, a limitação do alcance do aparelho a algumas dezenas de metros se deve justamente a isso e não a um defeito do projeto.

Observamos ainda que, pelo fato dele precisar ficar em paralelo com o fone, sua instalação deve ser feita no aparelho telefônico e não na linha. No entanto, como se trata de um transmissor muito pequeno, e nos telefones existe espaço de sobra, o leitor não terá problemas com sua colocação no local desejado, principalmente se levar em conta as sugestões que daremos.

 

Características:

 

  • Tensão de alimentação: 3 a 5 V da linha telefônica
  • Frequência de operação: 88 a 108 MHz
  • Alcance: 10 a 20 metros (depende do local)

 

 

COMO FUNCIONA

O que temos é basicamente um oscilador de alta frequência com um transistor NPN de baixa potência. A frequência deste oscilador é determinada pela bobina L1 e pelo capacitor em paralelo com ela. Podemos fazer a bobina de modo a operar tanto na faixa de FM como também fora desta faixa, operando no setor de VHF inferior entre 30 e 88 MHz ou superior entre 108 e 150 MHz.

A tensão deste oscilador vem de um retificador de onda completa, cuja finalidade é obter a alimentação para o oscilador independentemente da maneira como façamos a conexão na linha telefônica.

O resistor em série com este retificador tem por finalidade reduzir a tensão da linha entre 7 e 15 V quando o fone está fora do gancho para uns 3 ou 4 V para o oscilador, sem carregar o circuito. Essa carga reduziria a tensão no fone e poderia levar o usuário a desconfiar da existência de uma extensão.

A tensão que alimenta o circuito e que passa pelo retificador é a mesma que o fone recebe e que modula com a voz. Isso significa que essa tensão já contém as variações necessárias à modulação.

Desta forma, alimentando um oscilador com esta tensão, o sinal gerado já é modulado pelo som do fone do telefone grampeado, o que está bem dentro do que desejamos.

É por este motivo que não existe nenhum filtro depois do retificador usado neste projeto. O reator L1 tem por finalidade evitar o retorno dos sinais gerados para a linha telefônica, o que poderia instabilizar o circuito.

A antena deste circuito pode ser um pedaço de fio de 4 a 15 cm, dependendo evidentemente do espaço disponível no local de instalação. Desta antena vai depender também o alcance do aparelho.

 

MONTAGEM

Na figura 1 temos o diagrama completo do transmissor para escuta de conversas telefônicas.

 

Diagrama do transmissor telefônico.
Diagrama do transmissor telefônico.

 

A disposição dos componentes numa pequena placa de circuito impresso é mostrada na figura 2.

 

Placa de circuito impresso do
Placa de circuito impresso do "grampeador" telefônico sem fio.

 

Uma possibilidade interessante que, entretanto não está ao alcance dos montadores domésticos é a utilização de componentes SMD (para montagem em superfície). Com estes componentes o circuito pode se tornar suficientemente compacto para ficar escondido debaixo do fone.

Mas, mesmo com componentes comuns é possível ter uma montagem facilmente ocultável num telefone comum.

Para a bobina que é enrolada com fio esmaltado 28 ou mais fino com diâmetro de 0,5 cm temos as seguintes possibilidades conforme a frequência de transmissão:

50 a 88 MHz - 5 a 6 espiras

88 a 108 MHz - 4 espiras

108 a 150 MHz - 2 ou 3 espiras

 

O trimmer de 2-20 pF de plástico permite ajustar a frequência exata de operação. Se forem usados trimmers de maior capacitância, o que é perfeitamente possível, basta compensar isso tirando uma espira da bobina, de modo a se alcançar o ajuste desejado.

Os resistores são de 1/8W com 20% ou menos de tolerância e os capacitores devem ser discos de cerâmica ou mesmo plate. O reator XRF é um microchoque que na eventual falta no comércio pode ser improvisado enrolando-se de 30 a 50 voltas de fio esmaltado bem fino (32 a 36) num palito de fósforo.

O transistor admite equivalente como o BF495 ou mesmo 2N2222, mas em nenhum caso teremos potência maior, pois ela está limitada pela tensão de entrada pelos motivos que explicamos no início do artigo.

Os diodos também podem ser do tipo 1N4148, 1N914 e até de germânio.

 

PROVA E USO

Na figura 3 mostramos como o aparelho pode ser instalado no fone de um telefone comum moderno que normalmente possui um bom espaço interno para isso.

 

Uma montagem com componentes SMD (Surface Mounting Devices) fica compactada o suficiente para ser escondida sob a cápsula.
Uma montagem com componentes SMD (Surface Mounting Devices) fica compactada o suficiente para ser escondida sob a cápsula.

 

Os dois únicos fios que saem da placa de circuito impresso são soldados ou fixados nos terminais do fone de ouvido. Uma idéia para o "espião" que precisa fazer um trabalho rápido de instalação é usar um par de micro-garras jacaré nesses fios as quais serão rapidamente conectadas ao fone de ouvido.

Para ajustar o aparelho, basta tirar o fone do gancho e usar o próprio sinal de linha como referência. Ajuste então CV até captar o sinal do transmissor num receptor colocado numa frequência livre nas proximidades.

Depois, fale com alguém pelo telefone e retoque a sintonia para obter a melhor recepção. Procure verificar se no local que o receptor deve ficar a recepção é boa.

Com o aparelho ajustado é só recolocar o fone no gancho e preparar-se para a escuta.

 

Semicondutores:

Q1 - BF494 ou equivalente - transistor NPN de RF

D1 a D4 - 1N4002 ou 1N4148 - diodos de silício


Resistores: (1/8W, 5%)

R1 - 820 ?

R2 - 10 k?

R3 - 8,2 k?

R4 - 100 ?

 

Capacitores

C1 - 10 nF - cerâmico

C2 - 4,7 pF - cerâmico

CV - trimmer 2-20 pF


Diversos:

L1 - 47 uH - micro-choque - ver texto

Placa de circuito impresso, antena, fios, fios esmaltados, solda, etc.