Em diversas ocasiões temos abordado o uso do multímetro no automóvel que, a cada dia, se torna mais sofisticado, com a utilização de recursos eletrônicos como a ignição eletrônica, injeção, sistemas de alarme, controles de temperatura e pressão de óleo etc. Neste artigo, focalizamos de maneira simples o uso do multímetro em mais algumas análises da parte elétrica do carro. O assunto pode ser estudado de uma maneira mais ampla no Iivro “Os Segredos no Uso do Multímetro.

A importância do multímetro nos trabalhos gerais de eletricidade como, por exemplo, no lar, na oficina de eletrodomésticos, no barco, no carro e em muitos outros casos pode ser comprovada pelas aplicações deste instrumento encontradas nos nossos livros “Como testar Componentes” volumes de 1 a 4 e “Os segredos no Uso do Multímetro em que mais centenas de aplicações pormenorizadas de diversos tipos são descritas.

No entanto, com a utilização cada vez maior dos recursos eletrônicos nos automóveis, um instrumento prático de análise como o multímetro torna-se indispensável para quem deseja instalações ou reparos.

Que tipo de testes o multímetro pode fazer na instalação elétrica de um carro e nos seus equipamentos?

Isto é o que veremos de maneira simples neste artigo.

 

O MULTÍM ETRO SIMPLES

Para trabalhos em eletricidade e eletrônica no automóvel um multímetro simples de baixo custo, como o mostrado na foto, serve perfeitamente.

Usaremos neste multímetro basicamente as escalas de tensões e resistências que são selecionadas através de uma chave.

Colocamos então a chave na posição correspondente a escala a ser usada e encaixamos as pontas de prova nos respectivos furos.

É muito importante alertar aos manos experientes que não se deve usar qualquer outra escala que não a recomendada numa medida, pois isso pode causar danos ao instrumento.

A leitura dos valores nas escalas é simples, devendo apenas o usuário ter o cuidado de levar em conta os fatores de multiplicação ou os fundos de escala marcados na chave.

Assim, como mostra a figura 1, temos leituras de 5000 Ω na escala de resistências (Ω x 1k ou x 1000) e 20 V (V DC 0-100).

 

   Figura 1 – Exemplos de leituras
Figura 1 – Exemplos de leituras

 

A polaridade das pontas de prova também precisa ser observada nas medidas de tensão (VoIts), pois nos carros temos a alimentação por tensão contínua.

 

a) Interrupções de cabos

No circuito elétrico de um automóvel, um dos condutores de energia é o próprio chassi, geralmente conectado ao pólo negativo da bateria, fazendo a função de terra, como mostra a figura 2.

 

Figura 2 – Usando o chassi como terra
Figura 2 – Usando o chassi como terra

 

Desta forma, para alimentar qualquer dispositivo elétrico do carro, basta um fio, que deve fazer conexão com o pólo positivo.

Assim, quando o fio estiver conectado ao pólo, com o interruptor geral ligado, conforme mostra a figura 3, devemos medir entre a ponta deste fio e o chassi uma tensão igual à da bateria, normalmente entre 12 e 13,6 V.

 

Figura 3 – Verificando tensões no carro
Figura 3 – Verificando tensões no carro

 

Se houver uma interrupção interna do fio ou um problema com o interruptos, a tensão lida será nula.

Podemos saber se o problema é com o interruptor simplesmente verificando se antes dele temos a tensão da bateria, conforme mostra a figura 4.

 

   Figura 4 – Testando o interruptor
Figura 4 – Testando o interruptor

 

Se após ligar o interruptor tivermos a tensão, mas no extremo não, é sinal que existe uma interrupção interna.

O multímetro deve estar na escala que permita Ier Volts DC até 15, aproximadamente.

Quando existe tensão no final do fio, no ponto em que ele alimenta algum dispositivo como, por exemplo, uma lâmpada, um aparelho de som e outros, e o dispositivo não funciona, os testes devem ser feitos no dispositivo que é a causa do problema.

 

b) Testes de dispositivos diversos

O teste de dispositivos que devem apresentar uma condutividade alta (baixa resistência) tais como lâmpadas, bobinas de relés e fusíveis é simples, devendo ser feito com o circuito desligado e o multímetro na escala mais baixa de resistências, conforme mostra a figura 5.

 

Figura 5 – Teste de continuidade
Figura 5 – Teste de continuidade

 

Para o dispositivo bom (lâmpada e fusível) temos uma baixa resistência, variando entre alguns Ω e algumas dezenas de Ω.

Um fusível queimado (aberto) ou uma lâmpada queimada (aberta) deve apresentar uma resistência infinita.

É interessante testar o dispositivo fora de seu suporte e depois no próprio suporte, caso em que podemos constatar se o problema se deve a um mau contato no suporte.

Este tipo de problema é comum em soquetes de lâmpadas indicadoras.

Os painéis dos carros modernos são feitos segundo a tecnologia do circuito impresso finas trilhas de cobre conduzem as correntes para os instrumentos e lâmpadas indicadoras.

Estas trilhas, entretanto, podem ser rompidos quer pelo manuseio (instalação ou troca de um componente) quer por corrosão (figura 6).

 

Figura 6 – Recuperando trilhas
Figura 6 – Recuperando trilhas

 

Em alguns casos o local do rompimento não pode ser descoberto visualmente, entretanto em ação o multímetro.

O procedimento para uma emenda numa trilha de placa rompida é bastante simples, sendo mostrado na figura 6.

Raspamos as trilhas no local do rompimento, deixando o cobre completamente descoberto.

Depois, colocamos um pouco de solda, de modo a estabelecer uma “ponte" para a corrente elétrica.

Um dos indicativos de que existem rompimentos nas trilhas de um painel de instrumento é a oscilação errática da agulha que ora indica o valor normal e ora cai a zero, dependendo da passagem do carro em buracos, ou quando damos uma pancada no painel.

Os motores e relés de sistemas diversos de um automóvel podem ser testados a partir da medida de continuidade.

Neste caso, enquadramos os relés de pisca-pisca, os motores de abertura de vidros, os solenóides de abertura de porta-malas, os motores de antenas elétricas etc.

Na figura 7 temos o procedimento básico de teste.

 

   Figura 7 – Testando um motor
Figura 7 – Testando um motor

 

Observe que é preciso dar um pequeno giro Com a mão no eixo para que se verifique a ação das escovas destes motores

A escala utilizada no multímetro é a baixa de resistências (Ω x1), quando então verificamos a continuidade dos enrolamentos.

As resistências dos enrolamentos variam praticamente entre zero e alguns Ω, pois as correntes normalmente são elevadas (alguns ampères) dada a força que alguns dos dispositivos exigem para atuação.

É preciso observar que, em alguns casos, os enrolamentos dos dispositivos entram em curto em lugar de abrir, causando assim a queima do fusível.

Neste caso, continuaremos a medir uma baixa resistência na prova, mas o dispositivo não poderá funcionar.

Devemos então fazer uma análise visual, procurando sinais de queimado como, por exemplo, o escurecimento dos fios esmaltados, o forte cheiro de queimado etc.

 

c) Alternadores

Os alternadores dos veículos modernos são dotados de uma ponte retificadora com 6 diodos, conforme mostra a figura 8.

 

Figura 8 – Circuito do alternador
Figura 8 – Circuito do alternador

 

Se um ou mais dos diodos entrarem em curto, o alternador deixa de produzir a corrente que carrega a bateria e o veículo acaba por ficar sem energia bateria descarregada, sem partida etc.

A indicação de carga pode ser obtida no próprio painel dos veículos que possuem lâmpadas indicadoras ou então instrumentos (voltímetros).

Se ao acelerar o veículo (ou ligá-lo) não houver indicação de carga, os diodos do alternador são suspeitos, assim como as bobinas que podem ser provadas com o multímetro numa simples prova de continuidade.

Na figura 9 temos a parte do alternador em que ficam os diodos interligados em ponte, que deve ser retirada e desmontada.

 

   Figura 9 – alternador típico
Figura 9 – alternador típico

 

Dessoldando os fios de conexão desta parte ao circuito, podemos fazer a prova de continuidade dos diodos em conjunto (não há necessidade de retirar os diodos para esta prova).

Medimos a resistência no sentido direto e no sentido inverso com o multímetro nas escalas intermediárias de resistências.

A resistência num sentido deve ser baixa (da ordem de dezenas ou centenas de Ω), enquanto que a resistência inversa deve ser de muitos milhares de Ω (praticamente infinito, no multímetro tomado como referência para este artigo).

Se numa das medidas encontrarmos as resistências muito baixas ou muito altas nas duas provas teremos encontrado a razão do problema.

Normalmente, no caso de problemas com os diodos, o que se faz é trocar o conjunto de diodos por um novo, pois eles já vêm montado numa peça única acoplada do alternador original

Os praticantes de eletrônica que se defrontarem com este tipo de problema e tiverem que trocar o conjunto de diodos, não devem jogar o velho fora.

Os diodos usados são de aproximadamente 50 V x 5 A e podem ser aproveitados em excelentes projetos de fontes de alimentação de baixa tensão e alta corrente e até mesmo em carregadores de baterias.

Bastará retirar todos os diodos e testá-los separadamente, guardando os que estiverem bons.

Na figura 10 temos o circuito básico de um sistema de carga que utiliza a ponte de diodos num alternador trifásico como o indicado.

 

Figura 10 – Sistema de carga
Figura 10 – Sistema de carga

 

Observe que a energia é gerada tendo a ação de um campo magnético fixo criado pe!a bobina de campo.

Esta bobina de campo deve ter sua continuidade testada. Interrupções dos enrolamentos indicam que o alternador deve ser trocado.

No sistema em questão podemos fazer a verificação de carga ligando o multímetro na escala de tensões contínuas (DC Volts) ›no ponto indicado.

A aceleração do motor deve provocar variações da tensão, que tende a subir no caso de um alternador em bom estado.

Se a subida da tensão não for acompanhada de qualquer indicação da lâmpada, que permanece apagada, esta deve ser verificada e também o próprio resistor de derivaçã0, que pode estar queimado.

 

CONCLUSÃO

Não abordamos profundamente equipamentos eletrônicos de carros ainda. (veja nosso livro Curso de Eletrônica – Eletrônica Automotiva p-ara saber mais)

Temos no site casos específicos de problemas em circuitos como ignição, indicadores eletrônicos, etc.

O intuito deste artigo era uma abordagem do assunto de forma simples e acessível visando principalmente atender àqueles sem muita prática ou que desejam uma noção básica do que se pode fazer no carro, mesmo para quem é do setor de eletrônica.

Aperfeiçoamentos podem ser conseguidos com estudos mais detalhados dos sistemas eletrônicos, que variam bastante de modelo para modelo de carro e entre as marcas.