Nada de novo poderia acontecer numa pacata cidade do interior se nela não residisse um apavorado tocador de tuba e um maker maluco como o Prof. Ventura. Isso, sem se falar em alguns personagens que, com seus comportamentos nada convencionais, contribuem para que as coisas estranhas envolvendo tecnologia, notícias alarmantes na internet, física quântica, assombrações crendices e outras coisas se misturem de modo a criar confusões. É o que aconteceu desta vez e que passamos a narrar em mais esta aventura do Prof. Ventura se seus alunos Beto e Cleto.

 


 

 

Os leitores que acompanham as aventuras do Professor Ventura, Beto e Cleto, que escrevo há muitos anos, conhecem muito bem os personagens e justamente começamos com Epaminondas Portentoso, o tocador de tuba da gloriosa Corporação Musical de Brederópolis. (Para mais informações, veja NVENT000)

Sim, apesar dos avanços da tecnologia, da chegada do celular, da TV digital, da e de muitas outras novidades como controles remotos para portas de garagens, fornos de micro-ondas, LoRa, Arduino, WiFi, IoT e muito mais, cidades pequenas ainda têm parte considerável da população com costumes antigos.

Assim, vemos em cidades do interior o velho coreto, onde uma banda de música toca em determinados dias e horários com intenção de distrair as pessoas. Muitas das cidades já estão substituindo a velha banda e o coreto pela “Radio Poste”, alto-falantes espalhados na praça que reproduzem música e, é claro anúncios dos comerciantes locais.

Mas, Brederópolis ainda tinha sua banda que tocava no coreto alguns dias da semana e nela atuava nosso amigo músico, o gordinho, baixinho, bigodinho atrevido, óculos e cabelo partido ao meio Epaminondas Portentoso. Epaminondas morava num bairro um pouco afastado do centro da pequena cidade, mas ia a pé para sua casa na Vila Nova e é claro passando por alguns lugares desertos e desagradáveis como o velho casarão que diziam ser assombrado e, mais apavorante, o cemitério.

E, o que tudo isso tem a ver física quântica, tecnologia e assombrações?

Não desanime se você acha que uma ligação entre tudo isso é possível. Os acontecimentos vão mostrar ao leitor que nada é impossível no fantástico mundo da tecnologia, principalmente quando nosso outro personagem, o Professor Ventura e seus alunos Beto e Cleto estão envolvidos.

O cenário também já é conhecido dos que nos acompanham. A pequena cidade de Brederópolis, pacata tendo apenas como destaque a Escola Técnica onde o Professor Ventura leciona, e uma enorme fábrica de sucos, e nos últimos tempos uma pedreira que passou a explorar uma rica jazida de granito existente na região. Além disso, os acontecimentos locais, em sua maioria era de menor importância.

Uma loja nova, um morador que comemora um aniversário, um morador novo que recebia as boas vindas do prefeito ou um eventual casamento na igreja local. E estava tudo normal até que algumas coisas estranhas começaram a acontecer.

E foi naquela noite, bem tarde, quando a Gloriosa Corporação Musical de Brederópolis encerrava mais uma apresentação na praça, o tocador de tuba mais famoso do mundo, Epaminondas portentoso (veja NVENT001 para mais informações sobre o personagem), voltava cansado, mas feliz para sua casa, como sempre fazia assobiando uma melodia de Souza (*)

(*) John Philip Souza – veja mais em NVENT001.

 

A noite tinha um ar tenebroso, muito apropriado para acontecimentos fantasmagóricos. Sexta feira-13, perto da meia noite, nuvens pesadas próximas anunciavam uma daquelas tempestades com muitos raios e trovões, comuns no verão. Perto do cemitério, na subida da colina onda a estrada fazia uma curva e era mais escuro, Epaminondas acelerava o passo e assustado como sempre, ficava atento a qualquer movimento estranho. Já tinham acontecido coisas estranhas naquele local e ele não se arriscava.

- Brrr. Assombrações e fantasmas! Fiquem longe! – pensava baixinho o músico ao acelerar o passo.

E, foi neste trecho que e algo muito estranho e apavorante aconteceu. A tuba que Epaminondas carregava, apertando-a contra o peito, começou a tocar sozinha. Primeiro um tom fraco de baixa frequência, algo como um zumbido “zuuuummm”.

Ele se assustou e acelerou, mas sem correr ainda. A tuba mudou de som e começou a emitir um som ritmado “Phom,. Phom, Phom...” que foi aumentando de intensidade..

Apavorado, Epaminondas correu e o som depois de manter o ritmo por algumas dezenas de metros diminuiu de intensidade e parou. O som parou, mas Epaminondas não. Acelerou o que podia e apavorado, como já havia feito outras vezes, não bateu na porta de casa. Atravessou-a e gritando o nome de sua esposa, jogou-se de baixo da cama.

- Pafúncia! Socorro!

Dona Pafúncia que já havia visto aquela cena outras vezes, correu munida de uma vassoura e depois de duas vassouradas na cabeça do Epaminondas para acamá-lo e uma na tuba tomou conta da situação. (Êpa, falta algo! Veja a estória “Mensagens do Outro mundo” no site – NVENT010)

- O que houve desta vez?

- Fantasmas! Estão assombrando minha tuba. Começou a tocar sozinha quando vinha para cá. Estava passando diante do cemitério e ela começou a fazer barulho... Phom, Phom, Phom!

Epaminondas suava e sua esposa teve de acalmá-lo.

- Não é possível! – deve ser imaginação sua. Deixe para lá.

Mas, não era. Epaminondas se acalmou procurando esquecer o ocorrido. No entanto, o problema não parou por aí, pois dois dias depois quando Epaminondas voltava, aconteceu a mesma coisa. Passando diante do cemitério e a tuba zumbiu levemente e depois começou a emitir notas baixas que foram aumentando de intensidade, mas mantendo o ritmo. Phom! Phom! Phom! O músico correu.

Desta vez, já estando prevenido pelo que poderia ocorrer, nem atravessou a porta e nem e pulou debaixo da cama, mas gritou.

- Pafúncia! A tuba está assombrada!

A esposa mais ponderada e já sabendo que nas outras vezes havia uma explicação, sugeriu.

- Não é possível. Deve haver explicação. Procure ajuda. Conte o que ocorreu ao Professor Ventura. Ele sempre tem explicações para estes fenômenos estranhos. Na verdade, para tudo que acontece nessa cidade. (Não seria preciso dizer que em casos como este, provavelmente ele teria algo a ver...)

No dia seguinte, o Professor Ventura foi surpreendido por uma visita que não tinha nada a ver com a eletrônica ou tecnologia. Beto e Cleto que, como sempre estavam no laboratório deram um salto da poltrona.

- O que será que aprontamos desta vez? – comentou baixinho Cleto.

Sim, em uma boa parte das maluquices que acontecia na cidade, o Professor Ventura e Epaminondas estavam envolvidos.

- Minha tuba está assombrada! Toca sozinha quando passo perto do cemitério. Acho que os “defuntos” estão usando como um meio de se comunicar com nosso mundo. – Epaminondas não escondia seu grau de preocupação.

- Física quântica! - pensou consigo mesmo Beto.

- Transcomunicação?

O professor com a mão no queixo procurava entender o ocorrido. Arriscou algumas perguntas para obter mais informações. Era algo muito estranho, mas certamente muito curioso aguçando o interesse por novidade dos três.

- Quando começou o problema? Ocorre sempre no mesmo lugar? É a primeira vez que acontece isso? Viu alguma coisa de estranho no lugar? Pode me relatar tudo o que aconteceu?

Epaminondas tentou se lembrar dos detalhes:

- O problema começou antes de ontem. Por duas vezes a tuba tocou sozinha quando passava diante do cemitério. Não vi nada de estranho no lugar. Na verdade, fiquei tão apavorado que só pensei em sair de lá o mais rapidamente possível. – Os olhos de Epaminondas demonstravam preocupação.

O professor Ventura tinha uma dúvida.

- A tuba não tocou antes quando você veio para a cidade?

Epaminondas não havia pensado nisso. A pergunta realmente mostrava que havia algo estranho no ocorrido.

- Não. – respondeu Epaminondas, que continuou – Quando vim pela tarde para tocar, não aconteceu nada.

- Estranho. – comentou o Professor Ventura. Beto e Cleto não sabiam o que dizer.

- Quer dizer que, quando você vem nada acontece, mas quando vai embora para casa, altas horas da noite a tuba toca sozinha. Isso exige uma investigação no local.

Cleto que era muito medroso se encolheu.

- Era o que eu temia.

Sim, precisavam ir ao local para ver o que estava ocorrendo e certamente, apesar do medo, Cleto não deixaria de ir. Beto, por outro lado, adorava este tipo de situação.

Era sábado e naquela noite a banda novamente tocou no coreto até 10 da noite quando Epaminondas recolheu suas coisas e empunhando sua tuba se preparou para voltar para casa. Desta vez não iria sozinho. O professor Ventura, Beto e Cleto os acompanhariam para ver se o fenômeno se manifestava.

Subindo a ladeira perto do cemitério, Epaminondas já começou a manifestar preocupação.

- Foi logo adiante que começou...

Só que desta vez não aconteceu nada. Passaram pelo local e tudo em silêncio. Apenas os grilos nas árvores podiam ser ouvidos. Até experimentaram voltar e ir novamente. Nada!

O professor e os rapazes acompanharam Epaminondas mais um pouco e ele foi sozinho para casa. Os três ficaram observando o músico desaparecer na curva seguinte.

- E agora? Nada! – comentou o professor.

- Deve ter sido alucinação. – comentou Beto.

- Não sei não. Vamos aguardar.

O professor não estava contente. O músico não iria inventar e não estava com jeito de ser alucinação.

Nada mais aconteceu ate a terça-feira seguinte quando a banda novamente se apresentou no coreto. Na volta para casa, empunhando a tuba o músico a viu tocar sozinha quando passava diante do cemitério. Correu novamente, mas não tão apavorado.

No dia seguinte procurou o professor Ventura.

- Tocou novamente. Quando passava pelo cemitério. – explicou o músico.

Beto e Cleto estava surpresos. Mais ainda, o professor Ventura que não sabia o que dizer.

- Precisamos voltar ao local.

E, naquela noite após o encerramento das atividades da banda, o professor Ventura, Beto e Cleto acompanharam o músico. E, desta vez a tuba tocou.

Passando pelo cemitério, inicialmente a tuba começou a emitir uma leve vibração e depois foi pegando o ritmo. Phom, Phom , Phom... inicialmente baixinho para depois aumentar.

Os quatro pararam para ouvir, apesar de Epaminondas querer correr. Eram um ronco estranho em que as partes metálicas da tuba vibravam, mas o som não vinha propriamente de dentro, como ocorre quando alguém sopra. Vinha de todas as partes metálicas do instrumento.

A tuba vibrava como um todo parecendo ser excitada por alguma fonte de energia externa.

No laboratório, o professor Ventura, Beto e Cleto procuravam explicações.

- Física quântica - arriscava Beto, procurando aplicar os conhecimentos que havia adquirido recentemente com a leitura de artigos e livros sobre o assunto, e continuando.

- Me ocorreu que o formato cônico da tuba lembra os buracos negros onde a energia e a matéria poderiam formar turbilhões e acessar outras dimensões.

Cleto deu um salto!

- Caramba! A tuba do Epaminondas estaria dando acesso a outras dimensões. Energia de um buraco negro estará sendo emitida na forma de som! Poderiam sair outras coisas dela!

- Seres de outras dimensões tentando se comunicar! – completou Beto.

O professor Ventura só observava. Era algo improvável. Tinha de haver outras explicações. Mas, os dois rapazes ainda tentavam associar o fenômeno a física quântica.

- Fico pensando se seres de outras dimensões estariam tentando usar a tuba do Epaminondas como meio físico para vir até a nossa. Fixo pensando se algum ser estranho aparecesse na tuba e saísse justamente no momento em que o pobre do Epaminondas estiver passando diante do cemitério!

- Ele morre susto, certamente! – completou Beto.

 


 

 

Beto ainda arriscou outra possibilidade.

- Viagem no tempo. Poderia o formato da tubo ser aproveitado como algo assim como um “turbilhonador” capaz de concentrar energia para uma máquina do tempo.

- De volta para o futuro! – Completou Cleto. – Seria interessante usar uma tuba em lugar de um DeLorean.

Beto imaginava uma máquina do tempo, usando as curvas cónicas da tuba que funcionariam com um “túnel do tempo” capaz de levar ao passado e ao futuro, como no filme. Por outro lado, imaginava o Epaminondas furioso por arrebatarem sua tuba para um experimento tecnológico.

 


 

 

De fato, ao que parece nosso universo está rico em formas turbilhonantes que seriam criadas justamente por estruturas cónicas. O formato dos ciclones, dos rodamoinhos que se formam numa pia, tudo mais que envolva movimentos naturais partem de um formato cónico. Talvez, inconscientemente o inventor da tuba observou que o seu formato ajudaria na reprodução das onda sonoras.

- Tudo tem explicação na física! – completou Cleto

Também analisaram a possibilidade do formato da tuba dar origem a um “portal” para se viajar no espaço pela quarta dimensão.

- Entramos na tuba do Epaminondas e saímos em Paris em algum outro portal..

- Um francês que toque tuba. – Cleto era muito imaginativo.

Ainda havia uma possibilidade interessante lembrada por Beto.

- Stranger Things. Lembra do filme. Um portal em que mensagens seriam enviadas de uma outra dimensão através de painel de letras formando frases.

- E onde entra a tuba? – retrucou Cleto.

- As mensagens seriam musicais!

- Caramba!

Outra possibilidade foi levantada pelo professor Ventura.

- Ataque sônico!

Naquela semana também corriam no noticiário das emissoras de TV e nos jornais da capital as estranhas notícias de um possível ataque sônico à embaixada americana em Cuba. A curiosidade sobre o que seria o tal “ataque sônico” levou muitos a procurar a única pessoa que poderia dar explicações corretas sobre o assunto; Prof Ventura.

Beto e Cleto, logo que souberam do fato correram ao laboratório do velho professor para obter mais informações.

- Ataque sônico. O que é isso? Pode nos explicar? – Cleto nem sequer cumprimentou o mestre.

- Antes bom dia. Sei que estão curiosos. Já vi a notícia e não posso dizer muito para vocês entender. Podemos começar daqui mesmo. Lembram-se do Oscilador Disentérico? (*)

(*) Os leitores que desejarem saber mais vejam em: NVENT002.

 

- Nem fale nisso! É claro que lembramos. As ondas sonoras que deveriam espantar as andorinhas da praça causarem mal estar em todas as pessoas que soltaram... Espere aí. Foi um ataque sônico!

O professor acenou com a cabeça concordando.

- Sim, mas involuntário. A ideia é era afetar os pássaros, mas o sistema saiu fora do controle e não tínhamos previsto que onda sonoras podem causar desconforto intestinal, náuseas e até mesmo soltar os intestinos e foi justamente o que ocorreu.

- O ataque sônico que ocorreu na embaixada americana teria sido isso? – Perguntou Beto

- Talvez tenha ocorrido isso. Ultrassons enviados em direção a embaixada seriam inaudíveis, mas aplicados em grandes potências poderiam causar problemas sérios nas pessoas e isso a longo prazo. Talvez um emissor potente colocado nas vizinhanças e apontado para o prédio tenha causado os “estragos” relatados: dores de cabeça, náuseas e outros desconfortos nos funcionários que tiveram de ser removidos.

Mas, o problema não tinha nada a ver com a pacata Brederópolis. Quem desejaria fazer um ataque sônico em Brederópolis? E contra quem? E, porque justamente a tuba do Epaminondas estaria se comportando de maneira tão estranha?

- Quer dizer que as vibrações ultrassônicas de um possível ataque sônico estariam excitando a tuba do Epaminondas? Como?

O professor estava pensativo. Havia uma possibilidade. Ele explicaria depois.

- Sim, mas só existe uma maneira de descobrir.

- Já sabemos! Indo lá com equipamento apropriado.

Assim, os três logo fizeram planos para acompanhar o Epaminondas carregados de instrumentos capazes de detectar as mais variadas formas de radiação. Desde ondas infrassônicas abaixo dos 20 Hz, até ondas ultrassônicas acima dos 15 kHz.

Também levaria um medidor de intensidade de campo e até mesmo sensores de radiação infravermelha e ultravioleta. Um medidor Geiger também fazer parte do equipamento.

- Nunca se sabe o que se tem pela frente.- comentava o Prof. Ventura ao mesmo tempo em que arrumava os aparelhos numa mochila, com recursos para serem ligados e alimentados por uma bateria única.

Naquela noite, combinando com o músico, os três o acompanharam depois da apresentação, levando uma boa quantidade de aparelhos de detecção.

E foi na subida da ladeira que a tuba novamente começou a emitir sons estranhos. Epaminondas não se apavorou, pois estava acompanhado.

Ligando todos os sensores, o professor Ventura, Beto e Cleto começaram a verificar se alguma coisa era detectada.

- Radiação eletromagnética, nada! – Cleto estava com um scanner que varreu todo o espectro e não detector nenhum sinal anormal de grande intensidade.

- Radiação nuclear, nada! – O Geiger não detectou nenhuma radiação estranha, principalmente saindo da boca da tuba. O músico se arrepiou ao ver Beto colocando o sensor na boca de sua tuba.

- Ultrassons, nada! – O professor estava com um sensor para a faixa de frequências acima de 15 kHz. Um microfone muito sensível de alta frequência usado em pesquisas.

Mas, quando verificaram o sensor infrassônico, o que viram os assustou. A agulha do sensor saltava em oscilações que justamente acompanhavam a emissão da tuba do Epaminondas.

- Vejam isso, alertou o professor. Há uma forte emissão de infrassons numa faixa de frequências abaixo de 16 Hz e ela é modulada. A frequência está centralizada em aproximada 10 Hz e é intermitente, justamente dando o efeito que vemos na tuba: Phom, Phom... – O professor acompanhava as emissões dos estranhos sons que estavam sendo produzidos na tuba do Epaminondas.

- Mas, mas, mas.... De onde vem esses sons? – perguntou Epaminondas preocupado. Pensava na possibilidade de virem da outra dimensão, ou pior, do cemitério ao lado....

- A natureza da emissão já detectamos. Falta saber de onde... – comentou o Professor Ventura.

- E porque aparecem na tuba. – completou Cleto.

- Sim, porque tuba? – Beto também estava curioso por saber. Não conseguia entender porque justamente a tuba.

O professor aparentemente não se preocupava com isso. Sabia o porque. Caminhando com o sensor na mão, o professor queria saber agora mais sobre as origens do estanho campo de baixa frequência. Foi até o muro do cemitério e colocando o sensor acima dele procurou verificar de onde vinha a emissão sônica de baixa frequência. O campo não se alterou. Na verdade era até mais fraco!

- Não vem do cemitério!

Cleto, medroso como sempre respirou aliviado.

- Ufa! Ainda.bem!

O professor foi então ao o outro lado da via e apontou o microfone para a fábrica que estava do outro lado, a uma distância de uns 100 metros, separada da estrada apenas por uma cerca de arame. O campo aumentou de intensidade.

- Achamos!

Sim, a forte emissão de infrassons vinha da fábrica. Mas que diabo de emissão estava ocorrendo? O que estaria emitindo tais vibrações e por quê?

Pensativo o Professor Ventura já tinha as pistas que precisava para solucionar o caso, mas antes perguntou a todos:

- Vocês não estão sentindo nada de estanho? Algum tipo de indisposição?

Os quatro se entreolharam e realmente estavam sentido alguma coisa estranha:

- Ume espécie de pequena indisposição estomacal.

- Náuseas!

- Tontura!

Sim! – completou o Professor Ventura. Lembram-se do “oscilador disentérico!” – Vamos sair daqui!

- Ataque sônico! Vamos sair daqui. Beto se apavorou.

Epaminondas, sem entender muito foi aconselhado a ir para casa. O Professor Ventura, Beto e Cleto Voltaram para a cidade combinando uma visita à fábrica no dia seguinte. Já sabiam de onde vinham as estranhas vibrações que faziam a tuba do Epaminondas tocar sozinha.

Mas, o que era a tal “fábrica?”

A fábrica nada mais era do que uma empresa que explorava uma jazida de granito nas proximidades e tinha diversas britadeiras, esteiras separadoras de pedras, pontes rolantes para carregar os produtos em caminhões, peneiras e muitos outros equipamentos. Era uma instalação moderna. Felizmente, professor Ventura conhecia um dos engenheiros que o atendeu cordialmente.

- Professor. Que satisfação em recebê-lo aqui. Em que posso ajudar?

- Estamos com um pequeno problema, Cláudio. Talvez vocês possa nos ajudar. – para não ir direto ao assunto o professor “inventou” uma pequena estória que lhe possibilitaria ter acesso as máquinas.

- Um dos trabalhos que propus aos meus alunos se refere aos problemas que podem ocorrer com as pessoas que trabalham em ambientes ruidosos, cheios de máquinas como numa indústria e que podem afetar não apenas sua audição, mas de outras formas.

- Sim, tomamos todas as precauções para que o nível de ruído no nosso ambiente de trabalho esteja de acordo com o exigido em lei. Perto das máquinas barulhentas nossos funcionários usam protetores de ouvido. – Claudio falou disso orgulhosamente, pois a empresa realmente tinha uma certificação de segurança que exibia com orgulho na sala de sua administração, onde o professor foi recebido.

Foi aí que o professor colocou em cena as suas ideias.

- Sim, mas o problema não está apenas no que podemos ouvir. Não são apenas os sons audíveis que nos prejudicam. Os infrassons também são perigosos.

- ?

O professor deu então uma interessante explicação sobre os perigos dos infrassons, principalmente tendo por experiência o que já havia ocorrido com seu oscilador disentérico.

- Vibrações de muito baixas frequências, ou infrassons, podem ser produzidas por máquinas de grande porte que as transmitem não apenas pelo ar na forma de sons, como vibrações mecânicas que se propagam pelo solo. Essas vibrações têm um estranho efeito sobre as pessoas. Elas podem causar mal estar, náuseas e até mesmo soltar os intestinos.

O engenheiro se agitou na cadeira.

E, nesse momento, parando um pouco todos se deram contam que no ambiente da fábrica havia uma pequena vibração no chão que era produzida pelas máquinas pesadas que processavam as pedras. Foi nesse momento que ele saltou da cadeira.

- Venham comigo!

E caminhando nas instalações da pedreira, foram todos até uma enorme peneira que recebia uma mistura de pequenas pedras e as separava por tamanho. Um potente motor elétrico fazia com que ela vibrasse indo e voltando rapidamente.

O professor comentou então discretamente com Beto e Cleto.

- Vejam a frequência!

Tirando do bolso seu detector infrassônico ele leu no mostrador.

- 10 Hz!

Não foi preciso comentar nada sobre a tuba do Epaminondas. O engenheiro saberia depois.

- Tivemos problemas com os funcionários que trabalham aqui. Muitos deles sentem náuseas e mal estar quando ficam neste local. Não sabíamos porque, mas agora acho que temos a solução. – explicou o engenheiro.

O professor Ventura explicou:

- Sim, muitas empresas possuem máquinas pesadas que têm partes vibrantes que produzem baixas frequências que levam a funcionários nas proximidades a se sentirem mal. Não é fato desconhecido. Mas, me diga uma coisa: essa máquina funciona à noite?

O engenheiro confirmou:

- Sim, ela trabalha a noite inteira, pois temos muitas pedras para peneirar.

O professor Ventura tinha então a solução para o estranho caso da tuba do Epaminondas, mas os rapazes ainda não. Por que, diabos ela toca sozinha?

Dando-se por satisfeito, o Professor Ventura pediu para voltar a sala de reuniões da empresa, onde havia silêncio e então começou a dar as explicações para o estanho caso da tuba do Epaminondas.

Depois de explicar o fenômeno para o engenheiro, o professor chegou ao ponto que todos esperavam.

Por que a tuba do Epaminondas tocava sozinha?

- Som brontofônico.

Cleto arregalou os olhos.

- Bronto o quê?

- Brontofônico. – Completou o Professor Ventura que então tomou fôlego e continuou.

- Você já ouviram as vidraças de sua janela vibrar quando passa um veículo pesado na rua ou numa trovoada. Parece que é a própria vidraça que está emitindo o som, mas não é. Ela está retransmitindo.

- ?

- O que ocorre é que som do trovão ou de um caminhão passando na rua é uma vibração de baixa frequência com componentes que não podemos ouvir. São infrassons que são apenas percebidos pelo nosso corpo.

Cleto interrompeu.

- Sim, parece que é nossa barriga que vibra. Sentimos na barrida.

- E você mais, porque é barrigudo... – Interrompeu Beto apontando para as “banhas” do amigo que não se abalou. O professor continuou.

- Essas vibrações quando batem em certos objetos, como as vidraças e eles são ressonantes na frequência que recebem, vibram e produzem vibrações harmônicas, ou seja, de frequências múltiplas. Por exemplo, se recebem 10 Hz, retransmitem 20 Hz, 40 Hz, 80 Hz, etc.

- E nós não podemos ouvir o fundamental, 10 Hz, mas podemos ouvir 80 Hz! – Cleto entendeu bem.

- Sim. Assim como os 80 Hz vem da vidraça e não da vibração original, parece que é a vidraça que está emitindo.

- Ou a tuba do Epaminondas! – Beto havia entendido o que ocorria.

- Isso! Quando o Epaminondas passava perto da fábrica, no ponto mais próximo que não devia estar a mais do que uns 50 metros da máquina, os 10 Hz da sua vibração chegavam até a tuba que, ressonante numa frequência múltipla, pelo seu tamanho e formato emitida as vibrações.

O professor continuou:

- Vocês viram que medi a frequência emitida na tuba quando ela tocou?

- Verdade! Mas não falou para gente o valor. – completou beto

- Sim, na hora que vi que era 80 Hz, justamente a terceira harmônica dos 10 Hz da vibração original, eu percebi que tinha a solução para problema. Resolvi voltar para casa para comprovar.

Tomando folego o professor continuou:

- Logo que cheguei em casa acessei o site do Professor Newton C. Braga, pois ele tinha a informações que precisava. E na seção de informações (*) encontrei o que queria; a frequência dos instrumentos musicais. E nela vi que a frequência mais baixa da tuba é justamente 43, 65 Hz. 80 Hz está justamente dentro faixa de frequências que a tuba pode reproduzir. É a menor harmônica dos 10 Hz em que a máquina vibrava.

 

- Caramba! Mas, por que brontofônico? De onde vem esse nome.

O professor explicou.

- A palavra Brontofônico deriva da palavra grega “brontos” que significa “trovão” o que nos leva a designação de brontofônico como algo que soa como trovão. Podemos dar como exemplo de uso da palavra na atualidade o nome “brontossauro” que significaria “lagarto trovão” para designar o terrível réptil pré-histórico.

- Legal. Ou tuba trovão. – brincou Cleto.

O engenheiro estava maravilhado com as explicações.

- Linda explicação, e me ajuda a resolver um problema com a máquina. Vamos analisar suas fundações e procuram minimiza as emissões de infrassons. Como vocês disseram não é apenas o problema de assustar o pobre Epaminondas. Ela também afeta as pessoas, nossos funcionários.

- Êpa! Como explicar ao Epaminondas? – Beto tenha lembrado algo.

Resolveram o problema levando no dia seguinte o Epaminondas até a fábrica com sua tuba. E parados diante da máquina com o músico olhando desconfiado, a tuba em determinado momento começou a tocar sozinha, e desta vez mais alto, pois estavam muito próximos.

- Antes que o Epaminondas dissesse algo, o professor explicou:

- Viu, sua tuba “pegava” as vibrações da máquina e você pensava que vinham dela. Na verdade, era reproduzia as vibrações pelo seu formato. Esse formato em cone tem muito a ver com vibrações sonoras.

- E de outros tipos, como as de outras dimensões... – completou Cleto

Outras dimensões! Uma palavra que não soava muito bem para um apavorado músico que passava todos os dias tarde da noite diante do cemitério.

Foi nesse momento que uma pequena pedra, saltando da peneira caiu justamente dentro da tuba do Epaminondas que deu um salto! O professor, com seu sensor de humor comentou.

- Deve ter passado para a quarta dimensão. A tuba a atraiu!

Beto, Cleto e o Engenheiro que estava ao lado riram, pois sabiam do que o professor estava falando. Somente Epaminondas, nervoso, virando a tuba para baixo tentava fazê-la “cuspir” a pedra.

O engenheiro Cláudio resolveu o problema das vibrações da máquina e a tuba do Epaminondas não tocou mais sozinha. Não foi um ataque sônico? Ou foi: da máquina controlada por seres de outras dimensões tentando usar a tuba do Epaminondas como portal para nosso mundo...