A Teoria do Enxame trata do comportamento dos seres que vivem em grupo, tais como as abelhas, formigas, cupins e é claro: o homem. No caso da tecnologia, existem alguns pontos bastante interessantes que merecem ser abordados quando analisamos o comportamento humano diante de inovações tecnológicas e é dele que tratamos neste nosso comentário.
Existe um fenômeno que podemos observar em diversos os setores da atividade humana que pode ser aplicado de uma forma muito interessante também à ciência e à tecnologia. Quando uma nova ordem, um novo costume ou uma nova tecnologia aparece, não são todos que migram imediatamente para elas. Uma parte migra, uma parte se aproxima, mas outra parte fica para trás. Por exemplo, quando novos modelos de carros surgem, não são todos que podem adquirí-los e isso não significa que todas as oficinas e lojas de peças imediatamente se adaptam para atender a esses carros trabalhando exclusivamente em torno deles. Uma boa quantidade de consumidores ainda permanecerá nos carros antigos e eles serão atendidos por oficinas que estão preparadas apenas para atender a esse tipo de veículo. Assim, ao lado dos carros modernos circulando pelos centros das grandes cidades, com oficinas especializadas para atendê-los, temos ainda na periferia uma grande quantidade de carros antigos, muitos com mais de 30 anos de uso e uma grande quantidade oficinas atendendo esses veículos, com gente usando e vivendo à custa de uma tecnologia ultrapassada. Podemos comparar o que ocorre a um enxame de abelhas que voa em determinada direção. A parte dianteira desse enxame, que atende a todas às inovações, adotando-as imediatamente, avançando mais rápido se separa com o tempo da parte traseira, que permanece nas tecnologias antigas, utilizando-as e vivendo à custa delas até tendo-as como fonte única de renda. O resultado disso é que, com o passar do tempo, o enxame toma uma forma alongada, com uma separação cada vez maior entre a parte da frente que está vivendo no mundo da tecnologia atual e a parte traseira que está ainda num mundo de tecnologia antiga. Isso é válido para a eletrônica. Na parte frontal do enxame voam os profissionais avançados que já trabalham com as mais modernas tecnologias, projetando com DSPs, microcontroladores, FPGAs, usando placas de desenvolvimento e tecnologia SMD. Suas ferramentas são as mais modernas e eles utilizam o computador como ferramenta básica. Numa parte intermediária do enxame estão os profissionais que ainda usam componentes discretos, em invólucros tradicionais e tanto trabalham como usam equipamentos de gerações atrasadas alguns anos. No entanto, existe ainda o final do enxame, que ainda está presente em nossos dias, e é representado pelos profissionais que ainda reparam equipamentos antigos em suas cidades pequenas do interior e periferia, usados por pessoas de baixo poder aquisitivo ou de mais idades, os quais ainda estão 20 a 30 anos atrás das tecnologias atuais. O enxame é uma unidade, um contínuo sem uma separação entre as diversas partes, pois encontramos “abelhas” que usam, trabalham ou dependem de todos os tipos de tecnologia. Existe uma tendência de muitos, principalmente os que estão nas partes frontais do enxame, em olhar apenas em sua volta, na periferia imediata, para fazer uma imagem do que eles chamam de tecnologia existente. Nada mais errado. Os que estão na frente do enxame não acreditam que existam pessoas que usem outras tecnologias que não seja aquela que eles têm na mão e freqüentemente desprezam ou ignoram aqueles que estão atrás, ou em outra região do enxame. Da mesma forma, os que estão atrás têm uma dificuldade enorme em aceitar o que está na frente, encontrando uma posição melhor que, inclusive lhes trará melhores condições de vida. Não devemos olhar apenas para uma região desse enxame. Seria um erro de nossa parte ter revistas e um portal de eletrônica destinado a apenas uma pequena região do enxame, mesmo que aqueles que não tenham visão ou sensibilidade para perceber que eles não são únicos e que o mundo da eletrônica é muito maior do que a pequena região que os cerca. Nos últimos 40 anos em que estivemos sempre tratando da eletrônica de uma forma íntima, acompanhando sua evolução passo a passo descobrimos que nossos seguidores não consistem numa pequena parte desse enxame, mas no enxame inteiro. Por esse motivo, nesse nosso portal o leitor encontrará assuntos para todos. Lembrem-se os que os que estão na frente, que um dia alguém lhes ensinou os fundamentos que hoje precisam ser entendidos por quem está começando ou as tecnologias que precisam ser assimiladas por quem está atrás. Ninguém nasce sabendo ou avança sem que alguém se lhes dê um impulso. Lembre-se do dia em que alguém lhe ensinou a soldar ou a ler o código de cores dos resistores. Na verdade, no enxame que usamos para comparação, os que estão na frente devem muito aos que estão atrás. O enxame é dinâmico e as “abelhas” se movem continuamente, assim aqueles que estão nas regiões posteriores são os que estavam na frente há alguns anos e desbravaram as novas tecnologias que hoje classificamos como o que há de mais avançado. Não existiria o 3G, TV digital ou a nanotecnologia se um dia alguém não tivesse descoberto que colocando uma grade no interior de um tubo com vácuo era possível controlar elétrons e amplificar sinais, ou se alguém não tivesse descoberto que cristais de germânio dopados e montados numa estrutura amplificavam sinais, descobrindo assim o transistor. Aquele técnico do interior que ainda troca uma válvula num rádio antigo estava na frente há algumas décadas quando era essa tecnologia vigente. Nós fazemos parte do enxame, por isso temos a sensibilidade para observá-lo como um todo e não apenas a região imediata que nos cerca. Pedimos o mesmo aos nossos seguidores. Faremos isso com o nosso material nesse portal. As abelhas de trás devem ser tão bem atendidas como as que estão voando na frente.