Mais uma vez, entrando na minha máquina do tempo imaginária, volto ao passado, aos anos 30 do século passado, onde encontro meu amigo Aloisio, um técnico da época trabalhando na sua bancada de reparador e montador de coisas eletrônicas da época. Na nossa conversa, uma boa quantidade de termos técnicos estranhos é empregada. Certamente, nossos leitores se sentiriam embaraçados ao conversar com ele. Acompanhe.

Viajando no tempo, desci de meu “deLorean” imaginária bem diante da oficina do Aloisio, uma típica instalação comercial dos anos 30, com duas portas de madeira altas, dando para a rua principal da cidade em que ele morava.

Ele sabia que eu vinha “do futuro” e, é lógico, mesmo sendo curioso sobre o modo em que fazia isso, não me aborreceu procurando explicações, pois quando comecei a dá-las ele não entendeu nada.

Iniciamos nossa conversa. Percebi que ele estava portando um dispositivo que me pareceu familiar.

- Bom dia, Aloisio. Tudo bem? O que é isso, está consertando.

- Sim, este Hailer (1), ao que parece, está com problemas de reprodução.

(1) Você sabe o que é um Hailer? No final do artigo você terá as respostas.

- Pode ser o circuito. – Arrisquei, pensando em obter mais informações sobre o dispositivo. Aloisio já tinha uma ideia do que poderia ser.

- Acho que não. Ele usa um Honker,(2)

(2) Sabe o que significa? Uma pisca: é um transdutor.

Estranhei.

- Um transdutor Horn não teria maior rendimento? (3)

Horn (3) - Outro transdutor, para a mesma grandeza. Sabe o que é?

- Sim, mas este circuito não usa válvulas normalmente.

Mostrando que eu estava familiarizado com a eletrônica daqueles tempos, arrisquei uma opinião.

- Um Increductor (4) não poderia ser usado neste tipo de circuito?

(4) Mais um que exigiu uma consulta ao almanaque.

Aloisio, que entendia bastante da eletrônica, respondeu de imediato.

- Certamente não. Os increductors só servem para circuitos de alta frequência.

- É pela sua Indutividade (5)?

(5) Estranhei, não seria indutância? Mas, não é. Você sabe o que é?

Aloisio me olhou com ar de censura.

- Increductors não tem indutivdidade, mas sim indutância.

Ele tinha razão.

Bem, de qualquer forma, o Aloisio em pouco tempo diagnosticou uma válvula fraca no seu Hailer e depois de testar as baterias, fez um teste de funcionamento.

Com alguns watts de funcionamento dado pelas suas duas baterias de 45 V e a bateria de 1,5 V para os filamentos das válvulas, ele funcionou perfeitamente.

Conversamos mais um pouco sobre tecnologia, principalmente da época e, depois de me despedir prometendo voltar, viajei de volta para o futuro.

 


 

 

Os termos usados:

(1) Hailer

Hailer é um termo inglês antigo ainda usado para designar um megafone, ou seja, um amplificador portátil. Nos nossos dias, temos este tipo de aparelho alimentado por baterias, mas no passado, antes do advento do transistor, eles eram alimentados por baterias. Uma ou duas baterias de alta tensão (45 V) e uma bateria de baixa tensão (1,5 ou 3V) para os filamentos.

Naquela época, os megafones deste tipo tinham a corneta, como hoje, mas o amplificador era carregado à tiracolo.

 

(2) Honker

Este termo era usado antigamente para designar um alto-falante de médios, ou seja, um mid-range. Na faixa dos médios temos a voz humana, daí este tipo de alto-falante ser indicado para uso num megafone. O nome vem da gíria inglesa que se refere a algo redondo grande.

 

(3) Horn

Trata-se da corneta usada em carros de som e megafones, que apresenta um rendimento maior do que um alto falante comum.

 


 

 

 

(4) Increductor

Trata-se de um indutor usado como amplificador. Neste tipo de componente, bobinas interagem de tal forma a resultar na amplificação de um sinal. No entanto, este dispositivo é usado na amplificação de sinais de RF de alta frequência, tipicamente da faixa de VHF. Trata-se de uma interessante tecnologia perdida que ainda pode ser encontrada em publicações da época.

 

Na foto um amplificador magnético (increductor) de 1951.
Na foto um amplificador magnético (increductor) de 1951.

 

 

(5) Indutividade

Termo encontrado em alguns documentos técnicos, principalmente antigos com tradução não muito bem feita, para expressar a Constante Dielétrica de um material. Em inglês “inductivity”.