Se o leitor pretende uma atividade mais séria na reparação de rádios transistorizados e equipamentos semelhantes, a primeira coisa que deve providenciar para sua oficina, se ainda não possuí, é um bom multímetr0. Neste artigo, além de falarmos um pouco de como deve ser um bom multímetro, também daremos algumas “dicas” iniciais de como usá-lo nas reparações, localizando componentes defeituosos.

Obs. Este artigo é de 1984. Para saber mais sobre o assunto, recomendamos nossos livros “Conserte Tudo”, “Como Testar Componentes – 4 volumes” e “Os Segredos no Uso do Multímetro”.

O multímetro ou anda VOM (VoIt-Ohm-MiIlamperímetro) é um instrumento que permite medir as três grandezas básicas da eletricidade, ou seja, tensões (volts), resistências (Ω) e correntes (miliampères).

Os tipos podem variar bastante segundo o custo, mas o melhor multímetro é aquele que reúne as seguintes características:

Maior sensibilidade dada em maior número de Ω por volt (esta característica diz até que ponto podemos confiar no instrumento sem que ele interfira na grandeza medida).

Maior número de escalas.

Facilidade de uso e transporte.

Para os nossos leitores recomendamos, em especial, os multímetros que tenham resistências (sensibilidades) de mais de 20 000 Ω por volt nas escalas de tensões contínuas e que possuam pelo menos 2 ou 3 escalas de resistências e de correntes (Hoje contamos com multímetros digitais com melhores características e a preços acessíveis.).

Com um multímetro deste tipo, com facilidade, problemas em rádios transistorizados poderão ser localizados.

Mas, é c!aro, que se o leitor tiver posses, ou realmente pretender se dedicar à profissão, então pode investir mais dinheiro num multímetro eletrônico (com FET na entrada que garante 22 000 000 Ω de sensibilidade), ou mesmo digital.

 

Como Usar

Pronto, o leitor comprou o seu multímetro. E agora? Como usar?

Os tipos comuns possuem uma chave seletora em que se escolhe aquilo que será medido, ou seja, qual é a escala que será válida, e além disso dois furos para colocação dos pinos das pontas de prova.

Existem aqueles que, em lugar da chave seletora, possuem furos para as pontas de prova, que são escolhidos de acordo com aquilo que se deseja medir. (figura 1)

 

Figura 1 – seleção de medidas
Figura 1 – seleção de medidas

 

Mas, o importante mesmo é colocar a chave (ou os pinos das pontas de prova) na posição certa para a medida realizada. Se colocarmos a chave na posição de medir corrente e formos medir tensão (a maneira de ligar no aparelho em prova é diferente), o seu instrumento pode até queimar-se!

Por este motivo, se o leitor é ainda inexperiente, não procure ficar tentando medir coisas que não sabe realmente o que são, pois isso pode até estragar seu (caro) instrumento.

Nos rádios transistorizados, as provas principais podem ser feitas somente com as escalas de tensões e resistências. As tensões medidas são contínuas e as resistências sempre feitas com o aparelho desligado, ou Seja, com a alimentação do radinho desconectada.

Uma medida é sempre feita encostando--se as pontas de prova do multímetro entre os pontos do circuito visado, conforme mostra a figura 2.

 

Figura 2 – Modo de usar
Figura 2 – Modo de usar

 

Entretanto, como os rádios são alimentados por corrente contínua (pilhas), deve ser observada a polaridade das pontas. Mas, isso é fácil: se ao encostar as pontas de prova no local o ponteiro tender a movimentar-se para a esquerda e não para a direita como o normal, nas escalas de tensão e corrente, é só inverter as pontas.

 

Medindo tensões num radinho

A medida de tensões em diversos pontos de um radinho pode revelar facilmente problemas de funcionamento.

Para isso, em primeiro lugar, devemos escolher uma escala de tensões no multímetro DC Volts em que o valor máximo encontrado no rádio, dado pelas pilhas, possa ser lido.

Por exemplo, se o radinho for de 4 pilhas, devemos escolher uma escala que tenha seu máximo em mais de 6 V (10 V, por exemplo).

Depois, procuramos através do diagrama do radinho saber se ele tem o polo positivo ou o polo negativo das pilhas tomado como referência.

Isso é fácil também, pois no diagrama basta procurar qual dos polos vai ao símbolo de terra, na fonte,ou qual dos polos vai à linha de referência como mostra a figura 3.

 

Figura 3 – Polaridade da alimentação
Figura 3 – Polaridade da alimentação

 

De um modo geral, também podemos dizer que os radinhos que usam transistores NPN tem o negativo como referência e os que usam transistores PNP, em sua maioria, têm o positivo como referência.

No caso de negativo como referência, ligamos de modo permanente, com uma garra jacaré, a ponta de prova preta no polo negativo do suporte das pilhas e depois vamos encostando a ponta de prova vermelha nos pontos em que queremos saber a tensão.

Para o caso de positivo como referência é a ponta de prova vermelha que é fixada no polo positivo do suporte das pilhas e a preta usada nas medidas.

Mas, o que medir?

Os principais pontos de medida de tensão que podem revelar muita coisa num radinho que não esteja funcionando são os terminais dos transistores.

Não é preciso lembrar que os transistores têm três terminais e que portanto três são as medidas feitas.

Os valores das tensões encontradas, mesmo que em transistores de etapas diferentes, têm certas re!ações que se mantêm constantes, de modo que anormalidades podem ser acusadas com certa facilidade.

Tomamos inicialmente como exemplo um transistor NPN, num radinho que tenha por polo de referência o negativo.

Os valores típicos em dois casos são mostrados na figura 4.

 

Figura 4 – Tensões num transistor
Figura 4 – Tensões num transistor

 

No primeiro caso, o transistor tem o emissor ligado diretamente à referência e, portanto, a tensão medida neste elemento deve ser obrigatoriamente nula.

A tensão de base, dependendo do tipo de transistor, terá de ficar entre 0,2 V para os de germânio e 0,6 V para os de silício.

Se a tensão estiver abaixo destes valores (nula), provavelmente o transistor está em curto, e se estiver acima, está aberto.

No segundo caso, existe um resistor no emissor do transistor, de modo que a tensão neste elemento não mais será nula, mas deve ter um valor baixo, da ordem de 2 V no máximo, conforme a tensão de alimentação do rádio.

De qualquer maneira, a tensão de base deve ser de 0,2 a 0,6 V maior do que a tensão encontrada no emissor.

Caso isso não ocorra, os problemas são os mesmos do caso anterior: tensões iguais no emissor e base indicam um transistor em curto, e tensão muito mais alta na base, um transistor aberto.

Uma tensão anormalmente alta no emissor, da mesma ordem que a tensão de coletor, pode também indicar que o resistor de emissor está aberto.

Para o caso dos transistores PNP, as leituras são “invertidas", já que então a tensão de base será mais baixa que a tensão de emissor. Veja, entretanto, que como estamos agora com a referência no polo positivo das pilhas, as Ieituras são as mesmas!

Para a tensão de coletor, esta deve ser sempre a mais alta. Se for anormalmente alta, da mesma ordem que a da fonte de alimentação, quando não houver no coletor uma carga de resistência elevada, então o transistor pode estar aberto. (figura 5)

 

Figura 5 – Tensão de coletor
Figura 5 – Tensão de coletor

 

Se a tensão de coletor estiver com valor baixo, da mesma ordem que a tensão de base e de emissor, o transistor estará em curto.