Dorothy Vaughan (20/09/1910 - 10/11/2008) foi uma das mais brilhantes mentes americanas na corrida espacial. Mesmo vivendo numa época onde o racismo era explícito nos Estados Unidos, ela fez a diferença e foi uma das pioneiras na introdução dos computadores para cálculos de rota nos projetos da NASA.

 

 

Figura 1 - Dorothy Vaughan (fonte: https://sheroesofhistory.wordpress.com/2017/10/23/dorothy-vaughan/)
Figura 1 - Dorothy Vaughan (fonte: https://sheroesofhistory.wordpress.com/2017/10/23/dorothy-vaughan/)

 

 

Formação e início de carreira

Em 1929, Dorothy Vaughan (até então Dorothy Johnson, nome de solteira) era bacharel em ciências pela Universidade de Wilberforce (Ohio). Dorothy se casou em 1932 com Howard Vaughan, passando então a ser chamada Dorothy Vaughan. O casamento durou até o fim de sua vida, em 2008.

Após se formar, devido à crise econômica americana (a Grande Depressão, de 1929), ela desistiu de seguir seus estudos em um mestrado e decidiu trabalhar em período integral para ajudar no sustento da sua família. Iniciou sua carreira como professora de matemática para o ensino médio, na cidade de Farmville, Virginia.

 

A inserção de Dorothy Vaughan no setor aeroespacial

A indústria e mercado americano começaram a mudar em 1941, quando o presidente americano Franklin Roosevelt executou a chamada Ordem 8802, a qual proibia discriminação étnica, religiosa e racial em prol do desenvolvimento industrial americano. Isso deu a Dorothy Vaughan esperanças de uma carreira melhor e, em 1943, ela se mudou com o marido para Newport New, com o objetivo de trabalhar com matemática no National Advisory Committee for Aeronautics. Embora ela esperasse que o emprego fosse apenas temporário, Dorothy não tinha ideia que isto era o início de uma revolução do lado americano da corrida espacial.

A NACA (que, mais tarde, viria a se chamar NASA), devido ao auge da corrida espacial em função da Guerra Fria, precisava de muita gente para suprir a demanda de cálculos e processamento de dados para as missões espaciais. Por isso, optou por admitir mulheres negras nas equipes. Por tabela, esta também foi uma jogada política para mostrar o apoio da NASA à diversidade. Neste cenário, Dorothy Vaughan foi aceita para trabalhar na equipe dos chamados “computadores” (pessoas dedicadas a fazerem cálculos).

Apesar da aceitação de mulheres negras na NASA, dentro da organização não se esperava muito destas mulheres, vendo-as mais como funcionárias temporárias. Contrariando todas as baixas expectativas, Dorothy e seu departamento fizeram um trabalho fabuloso e, em 1949, ela foi promovida a supervisora de seu departamento (chamado, de forma preconceituosa, coloured computers group) sendo, portanto, a primeira supervisora negra da NACA (e da história da NASA).

Em seu cargo, Dorothy sempre lutou pela participação de mulheres negras nas então chamadas “áreas para funcionários brancos”. O desafio era triplo: continuar o excelente trabalho, carregar o peso da responsabilidade de ser supervisora de tal departamento e lutar pelos direitos das mulheres negras na NACA.

Em 1958, a NACA mudou de nome para NASA. Isso foi bom, pois contribuiu ainda mais para a queda do preconceito na agência, mas trouxe uma novidade: a NASA decidiu dar vez à tecnologia de ponta da época e adotar o uso de computadores IBM para fazer os cálculos, uma vez que sairia mais barato e seria muito mais rápido do que depender de cálculos feitos a mão por humanos (fator crucial na corrida espacial, já que a União Soviética estava concorrendo de igual para igual com os Estados Unidos na questão de exploração espacial). Esse posicionamento da NASA significava demitir grande parte do grupo dos “computadores” (funcionários que calculavam) e isso iria tirar o trabalho e sustento de Dorothy Vaughan e toda sua equipe.

 

A tenacidade e genialidade de Dorothy Vaughan

Aqui vem a maior prova da tenacidade e genialidade de Dorothy: ao invés de se abater e aguardar pelo pior, ela decidiu aprender sozinha (e ensinar as pessoas de seu departamento) a programar em FORTRAN para os novíssimos IBM da época, um trabalho mais do que pioneiro. Com isso, garantiria o emprego de sua equipe e supriria a necessidade de funcionários na até então novíssima equipe de computação (Analysis and Computational Division - ACD). Com isso, ela abriu enormes oportunidades à mulheres negras para trabalhar no setor e se firmarem como referência profissional em um setor que, conforme se esperava na época, seria dominado por brancos.

Nesta função, Dorothy Vaughan e sua equipe foram fundamentais na corrida espacial, sendo então a pessoa que mais se aproximou do “estado-da-arte” em computação na maior agência espacial do planeta. Pelo seu trabalho excepcional em computação e luta por direitos iguais às mulheres negras na NASA, Dorothy é considerada uma das mentes mais brilhantes da NASA até os dias de hoje.

Dorothy Vaughan permaneceu no cargo até 1971, quando se aposentou. Apesar de suas conquistas terem sido feitas há tanto tempo, estas permanecem até hoje como uma lição de perseverança, inteligência e luta pelos direitos iguais.

Dorothy Vaughan faleceu em 10 de Novembro de 2008, aos 98 anos de idade.

 

Legado

Dorothy Vaughan foi a primeira supervisora negra da NASA, na área de computação. E mais do que isso: ela foi uma das pioneiras em computação na maior agência espacial do planeta. Seus esforços em FORTRAN fizeram a diferença nos cálculos das missões espaciais, sendo Dorothy Vaughan considerada uma das mentes mais brilhantes da NASA no seu tempo.

Ela foi, sem dúvida, uma das mulheres mais importantes do planeta no que diz respeito à exploração espacial.

 

Uma história de cinema!

A história de Dorothy Vaughan na NASA (no período em John Glenn fez o primeiro voo orbital de um americano na história), juntamente com as histórias de Katherine Johnson e Mary Jackson virou filme.

O filme chama-se Hidden Figures (título no Brasil: Estrelas Além do Tempo), filme distribuído pela 20th Century Fox e lançado em 25 de Dezembro de 2016. Além da genialidade indiscutível das três protagonistas, o filme se destaca por retratar a dura e cruel realidade dos negros nos Estados Unidos naquela época e mostrar como estas incríveis mulheres contornaram as adversidades e se tornaram pessoas-chave na corrida espacial.

 

Referências

Artigo: https://www.nasa.gov/content/dorothy-vaughan-biography 

Artigo: https://sheroesofhistory.wordpress.com/2017/10/23/dorothy-vaughan/ 

Artigo: https://www.essence.com/entertainment/hidden-figures-facts 

Livro: Estrelas Além do Tempo - Autora: Margot Lee Shetterly

Artigo - Mulheres e Cálculo Avançado: http://newtoncbraga.com.br/index.php/historia/12918-mulheres-e-calculo-avancado-hist051